Fofoca ou agressão? Um ano depois

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É preciso ser-se humano com os outros, quando o resto do mundo não o é. O dia da Saúde Mental assinala essa necessidade.

“Espero que, quando me sentir 100% curada, possa falar de tudo aquilo que me ajudou a fazê-lo. Para já, mesmo que já tendo aprendido muito com isto, queria dizer-vos que não estão sozinhos, e que a sociedade precisa de evoluir muito no que toca a estes temas.”

Há um ano, traduzi os meus sentimentos em palavras e expus ao mundo, pela primeira vez, uma situação que guardava em mim há dois anos. Celebrei o dia da Saúde Mental com um ato de coragem e de partilha e percebi, nesse dia, que nunca estive sozinha.

Recebi mensagens de pessoas próximas e inesperadas, recheadas de empatia e apoio, que me impactaram muito nesse dia. No entanto, as mensagens que me fazem estar aqui, hoje, a escrever passado um ano, foram aquelas cujas frases estavam carregadas de dor e de testemunhos semelhantes ao meu. Somos, enquanto seres sociais, porto de abrigo uns dos outros: é preciso saber ouvir, é preciso estar presente, e é preciso partilhar – conselhos, experiências, palavras.

Há um ano, mencionei no meu artigo que estava a “ […] a passar pelo processo de cura […] e a recuperar a minha autoconfiança”,  e que “ ter mudado de ambiente fez-me […] sentir que me estou a ter de volta muito mais depressa”, tendo terminado da seguinte forma: “Espero que, quando me sentir 100% curada, possa falar de tudo aquilo que me ajudou a fazê-lo. […]” Hoje, a partilha é com base no último parágrafo desse texto.

O ambiente onde nos inserimos é um dos fatores mais determinantes na forma como nos sentimos, pois é a base de muitas outras questões essenciais à nossa saúde mental. O ambiente molda o nosso sentimento de pertença, as pessoas com quem nos relacionamos, as nossas opiniões e perspetivas de vida e, inclusive, a forma como nos vemos a nós mesmos. Consegue condicionar ou expandir a nossa evolução pessoal.

No meu processo evolutivo, ter mudando de ambiente e saído da constante toxicidade onde estava inserida foi, sem dúvida, aquilo que maior teve impacto. Sair da nossa zona de conforto, sempre que possível, é aquilo que nos traz conforto a longo prazo:  É lá que descobrimos partes de nós que estavam adormecidas, que nos cruzamos com pessoas especiais e que formamos a nossa rede de apoio (essencial para o nosso bem-estar social e psicológico).

Os clichés já muito aconselhados por aí funcionam, se os pusermos mesmo em prática, e o meu cliché preferido (dos muitos que por aí há) é o aprender a gostar da própria companhia e de levar isso muito a sério. Levar-nos aos sítios a que sempre quisemos ir fazer as coisas que sempre quisemos experimentar ou sair à rua porque, pura e simplesmente, está sol, faz-nos perceber que a nossa felicidade não depende de outras pessoas e que estaremos sempre aqui para nós, nos dias em que mais ninguém poder estar. Teremos sempre quem vemos ao espelho para nos levar ao cinema.

Por último, mas muito importante, referir que os profissionais de saúde mental conseguem ter um papel fundamental no processo de cura dos nossos traumas e quando os nossos dias escuros precisam de luz.

A cura de um trauma é desafiante e deixa marcas, mas durante o processo, percebemos o quão fortes e especiais somos.

É preciso sermos humanos com os outros, quando o resto do mundo não o é.

É preciso rodearmo-nos de pessoas humanas e sermos humanos connosco.

E hoje, assinala-se essa necessidade.

Este artigo de opinião é da pura responsabilidade da autora, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.

Fonte da imagem de capa: Pinterest

Escrito por: Cristina Barradas.

Editado por: Rodrigo Caeiro

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