No sábado passado, dia 5 de outubro, a RTP 2 exibiu a longa-metragem de estreia de Catarina Vasconcelos, A Metamorfose dos Pássaros. O filme encontra-se agora disponível na RTP Play.

Lançado em 2020, este filme que mistura ficção e documentário levou cerca de 15 mil espectadores às salas do nosso país, foi exibido em mais de 70 festivais de cinema nacionais e internacionais, e foi galardoado com mais de 50 prémios, incluindo o Globo de Ouro de melhor filme.
Passados já alguns anos, Metamorfose perdura não só em números históricos e no legado que deixa na indústria, mas também, e acima de tudo, nas vidas que marcou com a sua história.

Beatriz e Henrique casaram no dia em que ela fez 21 anos. Henrique, oficial da marinha passava longas temporadas no mar, deixando a Beatriz a dura tarefa de criar seis filhos em terra, onde plantou as suas raízes. Acompanhamos o seu amor; o crescimento dos seus filhos; e também de Catarina (realizadora/argumentista deste filme), filha de Jacinto, o mais velho dos 6 irmãos. Relatando as histórias destas três gerações, Vasconcelos debruça-se nos temas da infância, da passagem do tempo, da perda, e do amor, enquanto reconstrói as memórias da sua família.
Bem, mas o que dizer deste pequeno fragmento de vida? Que não é um filme para todos? Ah, certamente. É que A Metamorfose dos Pássaros não se permite a ser banal. É o dito “filme-poema”, onde a narrativa é contada através da articulação entre a fotografia, sempre minuciosa e de um bom gosto tremendo, e a narração, harmoniosa e envolvente.
Situo-me na margem dos que se deixando imergir na atmosfera criada, olha para Metamorfose como a nostalgia de uma vida que não vivemos. É essa a sua grande valência, a de contar uma história tão pessoal, mas com a qual nos possamos identificar tão facilmente.

Isto só é possível por ser um filme de pequenas coisas. Digo pequenas não por serem de menor valor. As pequenas coisas são as maiores, porque nos chegam a todos e são mais reais. São a prova de que as memórias que tão compulsivamente tentamos recriar não estão nos grandes gestos e nos grandes discursos, mas sim nos mais simples cheiros, cores, formas… estão nas lições de vida, nos banhos de espuma de domingo à tarde e na natureza.
As memórias estão nas cartas de amor. Tanto nas tradicionais, escritas a tinta sobre uma folha A4 (como as que Beatriz e Henrique trocavam religiosamente), mas também neste filme que Catarina Vasconcelos dedica à sua mãe.

Como falar d’A Metamorfose dos Pássaros sem falar de natureza? Da simbologia do mar e da terra, das analogias aos rios, às árvores e às plantas, e dos Pássaros. Oh, os Pássaros. São eles, acima de tudo, a principal metáfora do filme, que assim como os restantes elementos bucólicos, compõem o plano metafísico alcançado.
São 101 minutos de uma calma absorvente que nos embala consigo. A narrativa é pausada, toma o seu tempo, mas no ritmo certo para que entendamos com clareza toda a história de vida desta família, e para que entendamos que a todos nós, de alguma maneira, ela pertence também.
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados
Escrito por: Rodrigo Caeiro
Editado por: Sofia Isidoro


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