Os Retimbrar presenteiam-nos, neste Natal, com “a maior prenda” de todas, a sua nova canção.
O coletivo portuense, composto por cerca de 10 elementos, existe neste formato desde 2013/14, aparecendo de uma distância entre os músicos portugueses e as raízes musicais do nosso país. Os Retimbrar surgem inicialmente como um grupo de percussão e, mais tarde, desenvolvem-se através da ideia de “dar novos sons às velhas tradições e novas tradições aos velhos sons”, trazendo um novo frescor à música nacional. A sua discografia incluiu “Voa Pé” (2016) e “Levantar do Chão” (2022), duas coletâneas que não sendo alheias à realidade atual, podem ser descritas como um conjunto de “aranchos fanclóricos”. Os Retimbrar pegam no popular e levam-no ao erudito, ao contemporâneo, não apenas por meio da composição de originais, mas através da regravação de canções, refinando-as à sua própria maneira. Um exemplo concreto, é a sua versão de “Só ouve o Brado da Terra (de José Afonso)“, lançada no início deste ano.
A sua nova canção “a maior prenda“, acompanhada por uma série de concertos do mesmo nome realizados durante a quadra natalícia, em Lisboa e no Porto, vem associada a uma campanha de reflorestação desenvolvida em parceria com a associação ambientalista Zero. O público é convidado a adquirir um postal solidário cujos lucros revertem para a recuperação de uma área da Mata Nacional de Leiria. Cada postal, com a a ilustração de Joana Cruz, traz uma bolsinha com sementes de flores autóctones melíferas para “chamarmos abelhas aos vasos, cantinhos e canteiros dos nossos jardins”. O postal está à venda no Bandcamp, mas comprando diretamente aos Retimbrar, o grupo consegue contribuir com um valor maior.
A canção é uma convocação de mudança. De facto, o período do seu lançamento não é ao acaso. O Natal é uma altura de partilha, de comunhão, mas também de nostalgia e solidão. O tema propõe-se a criar uma reflexão, principalmente ecológica. O grupo utiliza no seu videoclipe, assim como no postal solidário, a figura da laranja, fruto invernal. É usada num ato simplista de troca, “Uma laranja por um sorriso?”. É o dar e o receber. Ao longo da música, podemos ouvir o adufe, as claves, e o cavaquinho, entre outros instrumentos tradicionais que têm acompanhado o grupo ao longo dos anos.

A versão ao vivo de “a maior prenda” conta com a participação de um coro de crianças do projeto “Crescer na Rua, Aprender com Arte”, ampliando a dimensão simbólica da canção e sublinhando a sua mensagem de partilha, cuidado e esperança.
O grupo encerra o ano com novas leituras do seu reportório e a promessa de um futuro ciclo criativo em construção. O último concerto do ano é já dia 28 de dezembro no M.Ou.Co no Porto, concretizando assim mais um espetáculo intimista, caloroso e solidário.
Passo firme no que juntos semeámos/Conto estrelas p’rá maior prenda de todas/ Oxalá cuidem os astros, da promessa/ Ninguém passe mais sozinho/ Nunca falte pão na mesa
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade da autora, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Fonte da imagem de capa: screehshot do videoclipe “a maior prenda”
Escrito por: Carolina Dinis
Editado por: Íngride Pais


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