Há quem passe a vida a acreditar que a maioridade chega aos 18. Outros, normalmente os mesmos que pagam contas, defendem que a maturidade só desponta quando chega a primeira fatura da eletricidade. Agora vem a ciência, que nos diz que o cérebro só termina a sua fase de “adolescência” lá pelos 32 anos.
Trinta e dois. Trinta e dois é a idade em que, supostamente, já devíamos ter uma planta preferida, um médico de família e um verniz neutro para as entrevistas de emprego.
A verdade é que esta descoberta soa menos a novidade e mais a confirmação oficial de algo que sempre sentimos, mas nunca ousámos admitir. Crescemos a ouvir que aos vinte e poucos tudo se define: o curso, a vocação, o amor e até a marca de café que nos acompanhará pela vida fora. A universidade é apresentada como o “ensaio geral” da idade adulta. No entanto, pelos vistos, andamos todos em modo rascunho até quase a meio da terceira década de vida.
Talvez seja por isso que, entre auditórios gelados e prazos de entregas teimosamente curtos, existe um certo consolo. Se o cérebro ainda está em obras, então não há vergonha nenhuma em tropeçar. Ou trocar de curso. Ou em desmarcar planos. Ou em sentir que ainda não sabemos o suficiente (ou que sabemos demasiado).
Os cientistas falam em “momentos-chave” do desenvolvimento cerebral: janelas em que reorganizamos memórias, prioridades e maneiras de pensar. Para nós, comuns mortais, esses momentos têm nomes mais simples: Erasmus, a primeira vez que vivemos sozinhos, o estágio que correu mal, o amigo que chega, o amigo que parte, a dúvida e a descoberta. São pequenas placas tectónicas que se mexem devagar, mas que, de quando em quando, provocam terramotos internos que ninguém vê, só nós.
A grande virtude deste estudo não é dizer-nos quando o cérebro cresce, mas lembrar-nos de que ele nunca deixa realmente de o fazer. Que não existe uma idade certa para perceber o que queremos, apenas o conforto de saber que não estamos atrasados, mas a caminho.
Afinal, se a adolescência cerebral vai até aos 32, estamos todos, de algum modo, a meio de um longo processo: a tentar perceber quem somos, enquanto fingimos que já o sabíamos desde sempre.
Muito sinceramente, faz todo o sentido.
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade da autora, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Fonte da notícia sobre o estudo: SIC Notícias
Fonte da imagem da capa: Freepik
Escrito por: Matilde Lima
Editado por: Maria Francisca Salgueiro


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