Carlos Fausto Bordalo Dias nasceu a 26 de novembro, há 77 anos. Compositor de cantigas, retratista de épocas e contador de histórias, é cantautor de uma obra ímpar que inclui a célebre trilogia Lusitana Diáspora, à qual pertencem “Por Este Rio Acima” (1982), “Crónicas da Terra Ardente” (1994) e “Em Busca das Montanhas Azuis” (2011), considerada por muitos como um dos pináculos da música portuguesa.
Pertencente à diáspora portuguesa, Fausto nasceu em pleno oceano, um símbolo quase profético do destino errante e das viagens que marcariam a sua vida e a sua obra. A sua vida de menino foi passada no planalto de Huambo, onde, aos quatro anos, já batia em panelas – os primeiros passos embrionários no seu percurso musical. Aos treze, catorze anos, pega na guitarra e começa a escrever canções. Acabou por ser influenciado, por um lado, pelos britânicos Keith Richards e The Shadows e, mais tarde, pelos The Beatles, com as novas possibilidades de fazer música, através dos acordes imperfeitos, por exemplo; e, por outro, por influências portuguesas, elas cantadas pela sua “titi”, como Max, Maria Clara e Amália Rodrigues. Também as raízes beirãs, cultivadas dentro de casa, serão fundamentais para aquilo que será a sua discografia, agora na “Antiga Lisboa”.
“Eu interessei-me pela literatura de viagens por uma razão única, e ponto. Não gostar de viajar.” (excerto do episódio do artista em “Primeira Pessoa” da RTP)
Estudou no antigo Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina, hoje ISCSP, onde se licenciou em Ciências Políticas e Sociais, motivo que o trouxe para Lisboa aos 18 anos. Foi eleito Presidente da Associação de Estudantes do instituto, embora o Ministério da Educação não tenha reconhecido a legitimidade da eleição. Tinha média suficiente para beneficiar do adiamento do serviço militar, mas o pedido não lhe foi concedido. Acabou por ser chamado para a Guerra Colonial, com destino à Guiné. Recusando aceitar tal decisão, tornou-se refratário. Inicia-se um período de clandestinidade do cantor no interior do país.
O seu contacto, principalmente com José Afonso e Adriano Correia de Oliveira, através do movimento associativista e estudantil, leva-o a escrever canções de protesto, “de caráter surrealista”, como é nomeado pelo próprio, devido à censura. Começa também a musicar artistas proscritos pelas autoridades do Estado Novo. A cantiga torna-se arma, especialmente contra a guerra colonial, as condições de vida dos portugueses e o fascismo.

É essa identificação que leva, mais tarde, Fausto a participar em projetos como o I Encontro da Música Portuguesa, no contexto do pré-25 de abril, e o I Encontro Livre da Canção Popular, colaborando também no GAC (Grupo de Ação Cultural), durante o PREC.
“Eu procurei não esquecer a história. Eu acho que fica a ideia da defensa de uma identidade, e essa identidade passa pela afirmação de uma ideia de pátria, porque eu não sou um nacionalista. Eu sou um patriota.”
Em 1977, focou-se na música popular, após perceber o abandono da canção de protesto e a vinda das canções de intervenção, de caráter mobilizador, para reunir pessoas e ouvir as canções proibidas. Canções muito imediatistas, sem muita qualidade, para combater a luta, muito contundentes, como caracteriza o artista. Deixa, assim, essa função para escrever canções que considerava bonitas, com rítmicas da música popular portuguesa e com reflexão sobre uma identidade popular.
“Eu penso num tema como se fosse um tronco de árvore, depois nascem os ramos desse tronco, e eles nascem todos os ramos do mesmo tronco, e esses ramos são canções. São um tema único.” (excerto do episódio do podcast O Avesso da Canção com Luísa Sobral)
Fausto continuou, ao longo dos anos que se seguem, a pintar o mesmo quadro musical, mas de maneira diferente, sendo isso, como é dito pelo mesmo, a procura da perfeição, colocando, pondo coisas diferentes. No verão do ano passado, o seu namoro com a música termina, juntamente com o seu exato percurso, culminando n’” a morte do cantor maldito, mas que renasce no coração de outros.”

Obrigada, Fausto.
Fonte da imagem da capa: TSF
Escrito por: Carolina Dinis
Editado por: Íngride Pais


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