Um estúdio denunciado por condições de trabalho desumanas. Uma animação inconsistente e pouco polida, com frequentes erros anatómicos injustificáveis e combates difíceis de acompanhar. O filme “Jujutsu Kaisen – Execução”, junção de eventos do anterior arco do Incidente de Shibuya e de dois episódios inéditos do arco dos Jogos de Extermínio, estreou no dia 27 de novembro, no meio de diversas polémicas. O Jornal desacordo esteve presente no visionamento de imprensa do filme, a 20 de novembro.
Os últimos meses têm sido notáveis para os fãs de anime. Das adaptações mais aguardadas, destacam-se a estreia da 3ª temporada de “One Punch Man”, após 5 anos de espera, e a 4ª temporada de “Dr. Stone”, que marca o seu fim, bem como os filmes de “Kimetsu no Yaiba: Castelo Infinito”; “Chainsaw Man – O Filme: Arco da Reze” e, finalmente, “Jujutsu Kaisen – Execução”. Destes curtos exemplos, o último tem vindo a destacar-se negativamente, tanto pela animação como pelo storytelling, embora possua o mesmo estúdio, que, por exemplo, “Chainsaw Man”.
Com uma primeira temporada impecável, as recentes críticas quase nos parecem exacerbadas, fruto de uma animação que estabeleceu um alto patamar inicial para si própria e, consequentemente, altas expetativas. No entanto, e acompanhando esta funesta evolução, era evidente que o público viria a censurar erros imperdoáveis, que partem, quase todos, de uma origem comum: o estúdio de animação MAPPA.
Responsável por outras inúmeras produções aclamadas, como “Yuri!!! On Ice” (2016), “Banana Fish” (2018), “Kakegurui” (2019) ou “Attack on Titan” (2020 – 2023), o estúdio tem estado sob pressão desde 2023, quando uma série de animadores expôs as condições precárias em que trabalhavam no X, antigo Twitter. As vastas e contínuas horas de laboro somavam-se a tarefas extensas com prazos de entrega curtíssimos, retorno financeiro lastimável e ausência de crédito pelo trabalho feito, resultando em episódios maquinais e inconsistentes na qualidade, embora pontuais no lançamento.
Posto isto, a crítica tecida neste artigo não se foca na obra entregue pelos animadores, que se demonstraram, múltiplas vezes, vivamente capazes de executar o cargo atribuído, mas sim na sobrecarga dos mesmos, no abuso perpetuado pelo MAPPA e, de forma indireta, na nociva cultura de trabalho japonesa.
No que toca à produção cinematográfica em si, é indispensável estabelecer que uma recapitulação apressada do arco anterior e dois novos episódios não justificam a ida do público ao cinema, nem o custo associado. O filme é, literalmente, a junção destas cenas, usufruindo de telas pretas – escolha descuidada – , para assinalar o fim de cada episódio apresentado, passando, sem nexo lógico, ao próximo, num encadeamento artificial para o seguimento que se espera no cinema. Os combates são difíceis de acompanhar, pouco polidos e com momentos dignos de um rabisco inicial, não de uma cena final, com erros anatómicos que relembram a queda de qualidade das primeiras temporadas de “Nanatsu no Taizai” (Seven Deadly Sins) face à quarta e quinta. Comparado a outros animes com arcos de combate contínuo, o equilíbrio entre momentos emocionais – que criam a sensibilidade prévia fundamental para a emoção de certos eventos (como a morte de um personagem querido pelo público) – e disputas esperadas também deixou a desejar, com uma gestão quase nula deste fator. Deixamos, em menção honrosa, a infalibilidade da trilha sonora, que acompanhou de forma graciosa cada momento, melhor ou pior, da produção.
Se és fã suficiente de “Jujutsu Kaisen” e estás disposto a rever uma primeira metade de episódios já revelados em prol de descobrires, em primeira mão, curtas cenas inéditas, este filme é para ti. Se não, a experiência será a mesma que aguardares pelo lançamento de todos os episódios, vendo-os, confortavelmente, em casa.
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade da autora, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Fonte da Imagem da Capa: Cinemas NOS
Escrito por: Raquel Pedroso
Editado por: Cristina Barradas


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