Num futuro muito à frente, que sejamos uma muito melhor gente

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No dia 13 de novembro, a banda Criatura despediu-se de forma muito especial dos palcos, durante o último concerto do álbum Bem Bonda no Teatro Tivoli.

O Teatro Tivoli foi, na noite de 13 de novembro, palco da apresentação final do último álbum da Criatura “que se propõe a criar música e arte que nasce de outras formas de olhar, sentir e ser a tradição”. Foram mais de quatro anos de estrada do grupo de cerca de 11 elementos, a dar sentido e amor à luta de norte a sul do país, a fazer o público bater o pé, a fazer sentir e, mais importante, a fazer sentir um desconforto necessário que faz pensar, que nos leva a tirar os punhos cerrados dos bolsos e agir. É certo que não existiria Bem Bonda se não fizesse sentido dizer “basta” perante a realidade atual que nos assombra. Gil Dionísio, o vocalista, em todos os espetáculos, acaba por fazer uma intervenção, um pequeno manifesto. A festa é bonita, e é bonito falar de coisas bonitas, mas, neste momento, é preciso enfatizar que, como ele disse, “Portugal está na desgraça”.

“Os abusos e os silêncios que temos uns com os outros, porque fica mal. Ah, ele é sempre assim… Eu tenho 37 anos e eu conheço mais mulheres violadas do que homens felizes.”, expõe o artista.

Fonte: Redatora do artigo

A ideia de Chico Buarque de que “Todos somos obrigados a nos envolver com factos políticos, mesmo sem querer, mesmo sem gostar” é um facto adquirido. Num sítio onde todos somos seres políticos, é importante perceber que, mais que uma opção, falar de política torna-se uma necessidade, e a festa pode, sim, ser política.

Na sequência, é desconstruída também a ideia dos artistas como divindades. A Criatura afirma que as divindades são, de facto, as pessoas que estão do outro lado do palco, e que ela acaba por ser oráculo, uma representação simbólica de quem quer ver, da gravidade que se observa todos os dias. A barreira entre o palco e o público é, de facto, uma miragem, e o que sentimos no concerto é uma unidade transcendente que emociona. Este foi um culminar de uma construção que transbordou num espaço repleto de criaturas que sentem e evoluem a partir daí.

Com o coração cheio de anunciações, de bem bondas, de festas, de medos do maior gaiteiro de Portugal, de namoros e encantos, despedimo-nos deste ciclo. Com a guitarra portuguesa, o adufe, a voz, e todos os outros instrumentos, na nossa memória, esperemos, então, por algo que está por vir, sem pressa e sem receios, certos de que será fruto de muito trabalho e amor, de muita labuta. Será música portuguesa a gostar dela própria.

Fonte: Redatora do artigo

Fonte da imagem de capa: Redatora do artigo

Este artigo de opinião é da pura responsabilidade da autora, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.

Escrito por: Carolina Dinis

Editado por: Leonor Oliveira

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