Nesta edição do “Cronicamente Dramática”, Rita Cardona embarca na aventura épica dos exames médicos, esse ritual estranho onde nos vestem de saco azul, nos prendem fios ao corpo e esperam que corramos sem morrer. Entre traumas antigos, agulhas e a eterna pergunta “já tentou beber mais água?”, a autora partilha o lado cómico (e trágico) de ser paciente neste planeta.
Sinto que isto é daquelas coisas que ninguém fala, mas eu, tendo esta coluna para despejar tudo o que me passa pela cabeça sem ninguém me mandar calar… cá vai (as filosofias aleatórias que me atacam durante as aulas):
Estes exames médicos modernos estão a ficar perigosamente invasivos.
Eu gostava muito, MESMO muito, de conhecer o génio que inventou aquela bata azul que se ata atrás no pescoço e na cintura. O artista que achou uma boa ideia aquelas pantufas de plástico que se colam aos pés, e por isso são difíceis de calçar, e nos transformam num balão ambulante. Quem foi o responsável pelo outfit hospitalar? Quem? Eu só quero conversar.
Chega uma pessoa ali meio perdida, nervosa, a rezar para que ninguém lhe enfie uma agulha onde não deve… e PIMBA, vestem-nos como um saco de batatas azul com dois sacos nos pés e uma touca que nem para cozinhar serve. É, sem dúvida, o ponto mais ridículo da existência humana.
Na semana passada fui fazer uma prova de esforço. Aquela experiência espiritual em que temos de mostrar os nossos talentos atléticos… que não existem. Correr até cair para o lado.
Nunca me senti tão ridícula desde as aulas de Educação Física, quando fazíamos “acrobacias” e pirâmides humanas como se fôssemos macacos. Mas pronto, isso é trauma antigo.
Entro no exame e penso: “Tenho de correr no mínimo 12 minutos… os velhinhos fazem 5… não posso ficar atrás dos velhinhos.”
E lá estou eu, feita idiota, a correr, a olhar para o relógio como se ele me devesse dinheiro.
A enfermeira pergunta:
—“Está tudo bem?”
Minha senhora… não. Não está tudo bem.
Tenho fios colados pelo corpo inteiro. Sinto-me um hamster na passadeira, observado para ver se desmaio ou se, com a velocidade que vou, levanto voo e abandono o hospital pela claraboia.
Eu nunca fui pessoa de ciências, muito menos fã dessas séries médicas onde toda a gente está a morrer e, no fim, quem bate as botas é sempre o enfermeiro. Mas digo-vos: um dia, se ninguém inventar antes, EU vou criar uma maneira de verem o meu sangue sem espetarem uma agulha na minha veia.
Temos carros que andam sozinhos, temos computadores que aprendem a mentir, mas para ver o ferro do meu sangue tenho de ser picada como uma almofada de alfinetes? Oh pá, por favor…
E depois dizem-me que para testar o coração tenho de andar às voltinhas, tipo cãozinho farto de estar preso, até me cansar.
Meus caros: eu já me canso só de imaginar.
Sinceramente, não percebo quem gosta de ir ao médico. É um momento de julgamento puro.
Eu enumero os meus mil e um sintomas: dores, cansaço, tonturas, as minhas visões de luzes cor de rosa, tudo! O médico, para parecer simpático, manda marcar todos os exames existentes no dicionário… para depois acabar no clássico da medicina moderna:
— “Já tentou beber mais água? Deve ser do sono.”
E pronto.
Volto para casa hidratada, sonolenta e a ser perseguida às três da manhã pela minha insónia, e por um pensamento venenoso no ouvido:
— “Parecias uma lombriga esticada na ressonância… e aquela bata? Estava mal apertada… Ridícula. Dorme bem!”
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade da autora, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Fonte da imagem da capa: Freepik
Escrito por: Rita Cardona
Editado por: Rodrigo Caeiro


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