Quando eu era pequena, a Morte era uma coisa que me assustava. Assustava-me, porque era um conceito que eu não conseguia entender, como qualquer criança que, mesmo que perceba as suas consequências e impacto, acaba por não ter realmente noção do que é que isto significa.
Hoje, continuo a ter medo. Tenho medo da Morte. É um facto. Porque é que, de um momento para o outro, deixamos de sentir e fazer tudo aquilo que a vida nos permite fazer? Porque é que não podemos ser imortais? Como é que, depois de eu morrer, vão continuar a ser publicados novos livros, partilhadas novas músicas, feitos novos filmes?
Mas tenho, especialmente, medo de não Viver. Tenho medo de chegar ao fim da minha vida, deitada na minha cama, velhinha, à espera do último batimento do meu coração (num cenário claramente romantizado por causa do medo que seria morrer numa situação menos desejada e serena) e me arrepender de não ter feito tudo o que tenho oportunidade para fazer.
Mas o que me mete mais medo, sinceramente, é que toda a minha vida contrariei este medo com a esperança de que a vida não acaba na morte, especialmente por ter crescido numa família cristã. Será? Não sei. Ninguém sabe.
Gostava muito de saber a resposta e poder dizer que não preciso de me preocupar muito porque continuarei a pensar, cheirar, ver, ouvir, tocar, saborear, sentir e ‘viver’ mesmo depois de morta.
Estou numa fase da vida em que isto me passa pela mente todos os dias, várias vezes ao dia.
Cada vez mais me apercebo que, por muito bonita que seja, essa ideia e expectativa não me parece ser muito realista. A verdade é que não me posso agarrar à possibilidade de existir Vida depois da Morte se quero realmente aproveitar a única oportunidade de viver que me foi dada.
Não posso continuar nesta ilusão para realmente poder viver todos os dias. Porque não, não vivemos só uma vez, vivemos todos os dias. E, por muito clichê que seja, temos de viver todos os dias como se fossem o último. Não sabemos quando é que realmente vai ser.
Não quero morrer. Mas já que isso é inevitável, não quero morrer triste. Quero morrer realizada, certa de que fiz tudo o que podia e que queria (dentro das normas sociais, obviously).
Hoje, apesar de isto ser algo que me passa pela mente todos os dias, várias vezes ao dia, ajuda me a relembrar-me a mim própria de que tenho de aproveitar. Tenho de aproveitar todos os momentos, todas as palavras, todos os pores-do-sol, todos os beijos e abraços, todas as vezes que a minha cadela me pede mais festas. Tenho de aproveitar porque nunca sei quando vai ser o último momento da minha alma nesta terra. Nem o meu, nem o de ninguém. E a vida jamais pode ser tomada como garantida, porque não o é. Temos sorte e temos de agarrar esta sorte com toda a força que temos, até que um dia os nossos punhos cerrados sejam forçados a abrir e a largar.
Carpe diem. Seize the day. Aproveita o dia. Não interessa o idioma, o significado é sempre o mesmo. Uma frase que se tornou tão banal mas que faz tanto tanto sentido. Vive todos os dias como se fossem o último. Não sabemos quando realmente será.
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade da autora, não representando as opiniões do desacordo ou dos seus afiliados.
Fonte da imagem de capa: Imagem de capa
Escrito por: Leonor Oliveira
Editado por: Maria Francisca Salgueiro


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