A cultura Pop e a política sempre estiveram juntas, mas como as músicas, séries, filmes e até memes da internet aumentaram o engajamento político na era das redes sociais?
Já parou para pensar o quanto a cultura pop influencia a sua vida? Desde as músicas que escuta, os filmes e séries que assiste, até as pessoas que segue nas redes sociais. Todo o conteúdo que consumimos tem o poder de moldar as nossas ideias e de nos influenciar politicamente. Mas como?
A Hegemonia Cultural estudada por Antonio Gramsci
A dado momento da história, a indústria deixou de produzir somente bens materiais. Surgiram então os bens culturais que levaram ao nascimento da rádio, da fotografia e do cinema. As novas formas de comunicação desempenharam um papel fundamental nas relações de poder que levaram a estudiosos, como o italiano Antonio Gramsci, a estudar o conceito de Hegemonia Cultural.
A Hegemonia Cultural envolve a relação entre o Estado e a sociedade civil. É o conjunto de ideias de uma conjuntura social, política, cultural e económica. A sociedade civil e o Estado influenciam-se mutuamente, tornando o Governo um resultado das ideias dominantes que não são permanentes, mas o Estado é resultado desse confronto. A teoria de Gramsci foi um grande contributo para a teoria Marxista, pois a hegemonia cultural pode ser um meio de domínio e direção exercido de uma classe social dominante sobre outra classe social.

A trajetória da relação entre a cultura pop e a política
Os primeiros registos dessa relação podem ser encontrados há séculos. Já na Roma Antiga existiam formas de propaganda política. Essas foram a evoluir até o século XX, com o despertar dos regimes autoritários que utilizavam a cultura pop como meio de propaganda do regime, e não apenas isso, qualquer forma de expressão artística era controlada pelo regime, sendo exposto somente o que era considerado ideologicamente correto.
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Filme O Triunfo Da Vontade (1935)–usado como meio de propaganda do regime nazista. Era uma tentativa de transformar o partido nazista e Hitler em símbolos quase mitológicos.
Fonte: Filmow
Entre o pop e a política sempre existiu uma relação recíproca. Ao mesmo tempo que candidatos políticos recorrem a celebridades para atrair eleitores, artistas e criadores de conteúdo utilizam as plataformas digitais para abordar questões políticas e sociais. Hoje esse impacto é mais visível, pois vivemos numa era onde o entretenimento, opinião e engajamento político misturam-se.
Como a cultura pop se manifesta na política atualmente
Atualmente, a cultura pop virou parte do vocabulário político. Muitas vezes os líderes e movimentos políticos utilizam músicas, filmes e memes para atingir o público jovem, ao invés do tradicional discurso formal. Políticos usam memes ou participam de trends virais nas redes sociais para atrair engajamento. Além disso, fazem campanhas eleitorais com estética de fandom, incluindo emojis, hashtags e slogans virais.
O partido socialista português criou uma conta no tiktok para usar trends e humor político, numa tentativa de aproximar os jovens e a política.
Fonte: TikTok do Partido Socialista
Ícones da cultura pop utilizam a sua fama para se envolverem em causas políticas. Eles têm grande poder para influenciar as massas e chamar atenção para questões importantes. Por exemplo, a Taylor Swift apoiou publicamente candidatos democratas nas últimas eleições norte-americanas, gerando recorde de registos de novos eleitores entre jovens. Outro exemplo é a Beyoncé, sendo uma voz ativa na luta pelos direitos das mulheres e pela igualdade racial.
Existem ainda outras formas de interação, como a moda e as redes sociais que tornam os conteúdos mais acessíveis e ajudam a compartilhar movimentos sociais como #BlackLivesMatter e #EleNão. Para além de músicas, séries e filmes que atraem a atenção como Barbie, que levantou questões sobre o feminismo e o patriarcado, e House of Cards, que aumenta o interesse do público em saber os bastidores do poder.
Como participar na intersecção entre a cultura pop e a política de maneira consciente
A cultura pop pode ser uma forma poderosa de expressão e engajamento político, dando voz a grupos marginalizados, promovendo a conscientização e incentivando a participação cívica. É possível participar ativa e construtivamente no consumo consciente de mídia, envolvendo-se em campanhas de conscientização e apoiando artistas que divulguem boas causas e políticas relevantes.
Por fim, é preciso ter cuidado com um grande desafio ético: a manipulação da opinião pública através da cultura pop. Ter atenção à mensagem que o que consumimos nos transmite é essencial.
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade da autora, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
A autora escreve em português do Brasil.
Imagem da capa: CatsPaw Dynamics
Escrito por: Letícia Figueiredo
Editado por: Íngride Pais


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