A edição de 2025 do Olhares do Mediterrâneo – Women’s Film Festival com curtas, longas metragens e debates, desafia o público a refletir sobre resistência e sobrevivência através do olhar feminino.
O dia 1 de novembro começou às 11h da manhã, na sala 3 do Cinema São Jorge, com a exibição de curtas-metragens que exploram histórias sobre a luta palestiniana e a sobrevivência em outros contextos de conflito. O documentário This Home is Ours (Shayma’ Awawdeh, 2024) mostrou Aysha, em Hebron, a registar atos de resistência ao apartheid, enquanto Qaher (Nada Khalifa, 2025) apresentou Jason (Jihad), fruto da diáspora, que regressa à Palestina acompanhado de uma cabra devido ao nascimento do sobrinho, numa narrativa que desperta risos e nos faz refletir sobre a ideia de pertença.
“There is no English equivalent to the Arabic word qaher قهر. The dictionary says ‘anger’, but it’s not. It is when you take anger, place it on a low fire, add injustice, oppression, racism, dehumanization to it, and leave it to cook slowly for a century. And then you try to say it but no one hears you. So it sits in your heart. And settles in your cells. And it becomes your genetic imprint. And then moves through generations. And one day, you find yourself unable to breathe. It washes over you and demands to break out of you. You weep. And the cycle repeats.” (Excerto apresentado em Qaher)
Seguiu-se The Dream (Raquel Larrosa, 2025), sobre Fatimetu Bucharaya, ativista saarauí que fundou uma associação de mulheres para detetar minas antipessoais, e Ezda (Halime Akturk, 2024), que acompanha a reconstrução da vida de um sobrevivente yazidi do EI no Canadá, filme que conquistou o prémio do público para melhor curta.
A sessão das 14h continuou com mais ficções: A Manhã Não Dão Chuva (Maria Trigo Teixeira, 2024) trouxe uma animação sensível sobre o cuidado familiar e o regresso às raízes, 400 Cassettes (Thelyia Petraki, 2024) narra a relação cósmica entre Elly e Faye, enquanto Made of Sugar (Clàudia Cedó, 2024) apresenta a luta de Maria, uma mulher com deficiência intelectual, pelo direito de ser mãe. Outros destaques incluíram Tant Que Je Marcherai (Isabelle Montoya, 2024), sobre Clara em busca de um papel de rainha, e Almost Certainly False (Cansu Baydar, 2024), que acompanha Hanna e o irmão Nader num bairro degradado de Istambul.
O ponto alto do dia foi My Sweet Land (Sareen Hairabedian, 2024), um documentário que acompanha Vrej, uma criança de 11 anos em Artsakh, que carrega nas pequenas coisas do quotidiano a esperança do povo arménio em plena guerra. Durante a projeção, não há sangue nem imagens explícitas de conflito, mas sentimos a luta pela sobrevivência através do olhar do menino. Vale destacar uma cena particularmente simbólica, quando o rapaz diz: “Acho que a guerra vai acabar dia 1 de novembro”, logo antes de se mostrar o agravamento do conflito em Nagorno-Karabakh. Tudo isto no dia 1 de novembro, em Lisboa. Uma coincidência que reforça a ideia de uma esperança apagada pela realidade. Num outro momento, no caminho para o final do filme, Vrej, na sua inocência, questiona: “Eu morro no fim desta história?”. A exibição foi seguida pelo debate Travessias: Crescer em Guerra, Futuros Amputados, que promoveu uma conversa partilhada com a editora do filme.

Ao cair da noite, as atenções do público voltaram-se para O Jardim em Movimento (Inês Lima, 2024), uma visita guiada pelo Parque Natural da Arrábida que questiona a intervenção humana no território natural vivo. Em seguida, Isto Não é um Jardim (Marta Pessoa, 2025) convidou a uma flânerie vegetal pelas ruas de Lisboa, num olhar poético sobre a relação entre cidade e natureza.
As últimas projeções, Moi Aussi (Judith Godrèche, 2024) e Echo of Sunken Flowers (Rosa Maietta, 2024), deram corpo a histórias de mulheres feridas, recontando-as e abrindo espaço às suas vozes, num gesto que reflete a essência do festival: cultivar resistências e colher utopias.
A informação deste artigo foi retirada de: Programa-de-mao-2025-web.pdf – Google Drive
Fonte da imagem de capa: https://www.filmaffinity.com/es/film394043.html
Escrito por: Carolina Dinis
Editado por: Margarida Simões


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