Tudo Sob Controlo (É Mentira, Claro!)

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Nesta edição do “Cronicamente Dramática”, Rita Cardona tenta compreender os seres místicos que vivem do caos e do Wi-Fi: os que deixam tudo para a última hora. Uma viagem entre pânicos existenciais, planos A a Z e impressoras que fazem techno em vez de imprimir.


Neste mundo há dois tipos de pessoas: os que fazem tudo na hora… e os procrastinadores profissionais, ou como eu gosto de chamar: Rebeldes do Pão de Forma.
Sim, essas criaturas místicas que vivem em guerra aberta com o tempo, a produtividade e, ocasionalmente, a sanidade alheia.

Oiço sempre aquela lengalenga:
— “Quem deixa tudo para a última hora é desorganizado e irresponsável, um perigo para a sociedade!”

Eu cá digo, essas pessoas nunca conheceram o verdadeiro vilão da história, a minha velha amiga: A Ansiedade.
A Ansiedade é a minha fiel companheira, tipo cão de guarda, só que em vez de ladrar, ela sussurra:
— “Tens a certeza que o fogão não ficou ligado? E se o micro-ondas se ofendeu e decidiu incendiar a casa?”

O ansioso planeia, organiza, antecipa, cria planos A, B, C, D… às vezes o B2, B3 e o “plano de emergência do plano de emergência”.
Mesmo assim, acorda às 3h da manhã a pensar: “E se o Word não guardar? E se o computador morrer subitamente? E se o universo, por pura maldade, fizer um update do Windows durante a entrega?

Os procrastinadores não. Esses seres luminosos vivem num estado zen que devia ser estudado pela NASA e talvez canonizado pelo Papa… São pessoas que conseguem viver no limite e ainda sorrir!
São o tipo de gente que começa o trabalho de 80 páginas às 23:58, envia às 23:59 e depois ainda tem o descaramento de ir ver um episódio de Friends antes de dormir.

Eu, nessa altura, já teria feito o trabalho, revisto o trabalho, duvidado do trabalho e refeito o trabalho três vezes. (Tomem como exemplo esta crónica: foi escrita três semanas antes da data de publicação… e claro, reescrita toda no dia anterior. A saúde mental? Foi dar uma volta e nunca mais voltou. Help.).

Admiro-os e odeio-os em partes iguais. Como é que conseguem estar tão tranquilos, como se o prazo fosse apenas uma sugestão e não uma sentença de morte com data marcada? Se fosse eu, já tinha o enterro psicológico marcado.

A verdade é que eles podem parecer baratas tontas no último minuto, mas no fim… conseguem sempre. E o pior? É que lhes corre sempre bem!

Enviam o ficheiro em cima da hora, o professor elogia e ainda solta:
— “Nota-se que foi um trabalho muito espontâneo, muito criativo!”

Criativo? Eu entrego tudo perfeito, polido, alinhado com o cosmos, e recebo um:
— “Falta alma.”
Amigo, eu entreguei a minha no parágrafo três!

Tenho inveja? Claro! E quem disser que não, mente descaradamente ou é praticante de ioga transcendental.

Enquanto eu fico com taquicardia por algo que só acontece daqui a duas semanas, eles andam por aí, leves, com o cortisol a fazer namastê, sem olheiras e com um intestino que funciona melhor que o sistema fiscal português (o que não é difícil, convenhamos).

No fundo, talvez o segredo da felicidade seja simples:
Ser irresponsável… mas com talento, sorte e uma boa ligação à internet.

Ah, e talvez uma impressora que não entrasse em modo DJ Techno Berlin cinco minutos antes do prazo, a piscar luzes, fazer barulhos esquisitos e a cuspir folhas limpas como se fossem confetes. Mas pronto, cada um lida com a pressão à sua maneira.

Este artigo de opinião é da pura responsabilidade da autora, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.

Fonte da imagem da capa: Freepik

Escrito por: Rita Cardona

Editado por: Rodrigo Caeiro

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