Danny Francis: A procura de uma sonoridade própria

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Num panorama musical português onde cantar na língua materna é a norma, Danny Francis destaca-se pela opção de compor em inglês. Natural do Porto, o artista autodidata viu o seu interesse pela música florescer durante a pandemia de Covid-19, mas foi em 2022, com o lançamento dos singles “Easy”, “Freshman” e “Drama”, que percebeu que este era o caminho a seguir.

Agora, apresenta o seu novo projeto, o EP “We Are Under The Same Sky”, um trabalho que nasceu de um momento de inspiração literalmente celestial, e que consolida a sua transição de sons mais próximos do Rap e da Trap para o R&B e Afrobeats, que hoje o caracterizam. O Jornal desacordo teve a oportunidade de estar à conversa com o artista para saber mais sobre 0 lançamento do EP e sobre o seu percurso musical.

Quando é que começaste a interessar-te por música e o que é que te levou a seguir esse caminho? 

Eu comecei a interessar-me por música na altura do Covid, aliás, já sou interessado por música desde pequeno, principalmente por causa do meu avô. Nunca estudei música, nem escolas profissionais nem nada, mas sempre gostei muito. Não tenho nenhum passado na família de músico, mas sempre gostei muito. E pronto, a partir daí comecei a ganhar ainda mais gosto, comecei a fazer música todos os dias.

Lembras-te da primeira vez em que pensaste “Ok, é isto que eu quero fazer, quero procurar isto mais a fundo”?

Acho que me deu esse clique em 2022, foi quando comecei a focar-me mais na música. Na altura até lancei três singles: o “Easy”, o “Freshman” e o “Drama”. Acho que dei um “step up” quando fiz isso, por isso, foi nessa altura.

Crescer no Porto influenciou o teu som e as tuas letras?

Sim, porque acho que o meio onde nós nos situamos e estamos interiorizados acaba sempre por influenciar a maneira como pensamos, a maneira como fazemos as coisas. Por exemplo, aqui no Porto, as pessoas ligam mais à cultura musical do Porto, neste caso urbana, ao Hip Hop, ao Hip Hop Underground e tudo mais. E eu também cresci muito a ouvir isso. Já fui a muitos concertos de grupos daqui, já fui ter a espaços onde a cultura predomina muito. E acho que acaba sempre por influenciar um bocado.

De que maneiras é que o teu avô te ajudou a entrar neste mundo? 

Quando somos pequenos absorvemos muita coisa e eu lembro-me de estar na porta de casa do meu avô a cantar as músicas que ele me ensinava. E os amigos dele que passavam na rua diziam “ele canta bem” e gostavam de me ouvir. Por isso é que digo que sempre estive ligado à música. Não sei se este gosto já nasceu comigo, mas acho que sempre esteve lá.

Fonte: Youtube

Qual foi a inspiração temática para este novo projeto? O que é que significa We Are Under The Same Sky para ti? 

We Are Under The Same Sky” significa que estamos todos debaixo do mesmo céu. Eu sempre gostei muito de fazer “love songs” e, por acaso, a concepção deste EP começou pelo título. Uma vez estava a chegar a casa, já não sei de onde, e “bateu-me”, “We Are Under The Same Sky”. Estamos todos debaixo do mesmo céu. Apesar de ser enorme, estamos todos debaixo do mesmo céu. E depois comecei a construir à volta disso. Direcionei um bocadinho para as love songs e ficou. E acho que está um bom projeto.

E quanto tempo durou a realização do projeto?

Comecei a fazer o “Sober” em setembro do ano passado. Acabei o EP em dezembro e fechei as músicas todas. Só que depois tive de retificar uma coisa ou outra, de limar umas arestas aqui e ali. Além da parte dos vídeos, que atrasa sempre um bocadinho. A gravação foi feita em quatro sessões, porque nós começámos a trabalhar o beat mesmo no estúdio, a partir do zero.

Como está a ser a colaboração com o Lilnoon? 

Está a ser boa, acho que nos damos bem a nível de trabalho. Gosto da visão dele, acho que ele consegue captar bem o que eu quero através do que falámos. Consegue direcionar bem os beats para o que eu quero, consegue conjugá-los com a minha voz.

Como é que escolheste a foto para este novo EP? 

A capa, por acaso, é uma história engraçada. Fui a Barcelona no início do ano, em Fevereiro, e estava a fazer o EP, o “We Are Under The Same Sky”, quase a terminá-lo. Na viagem para cá, para Portugal, estava no avião e estava um céu mesmo bonito. Como estava na vibe do EP, tirei uma fotografia e enviei-a aos meus videomakers. Disse-lhes “Opá, isto acho que faz todo o sentido. Estava mesmo acima das nuvens, a ver o céu… faz mesmo muito sentido”. Eles depois trabalharam a capa a partir desta foto e ficou a capa original que tenho no EP.

Considerando que começaste a tua carreira com Rap e Trap e depois a tua arte virou-se mais para Afrobeats e R&B, em que fase da tua carreira achas que estás agora com a música? 

É assim, eu não quero ser aquele artista que é conhecido só por um estilo, do género, ele faz isto ou faz aquilo. Eu quero estar sempre em constante evolução, quero criar, digamos, uma sonoridade própria. E, por isso, acho que quero experimentar diferentes estilos, diferentes “vibes”, buscar sumo a diferentes estilos de músicas para depois conseguir criar um estilo próprio.

Qual foi a tua fase favorita da produção dos EPS? 

Acho que foram todas. Lembro-me que no Natal estava a acabar os sons do “We Are Under The Same Sky”, e de pensar “Este processo foi muito fixe”. Acho que estou realizado com o projeto que fiz, consegui ir mesmo de encontro àquilo que imaginei. No geral, acho que correu tudo bem.

O percurso de Danny Francis é, como o próprio define, “desafiante”. Autodidata, aprendeu a fazer música “a errar muito”, a ver vídeos no YouTube e, mais recentemente, a colaborar de perto com o produtor Lilnoon. A sua filosofia artística passa por não se deixar encaixar num género, preferindo uma “constante evolução” na procura de uma sonoridade única e própria. Com “We Are Under The Same Sky”, Danny Francis não só partilha uma mensagem de unidade sob um céu comum, como prova que o seu lugar na música portuguesa é tanto singular como promissor, recusando-se a ter limites para o seu talento.

Este artigo de opinião é da pura responsabilidade da autora, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.

Fonte da imagem de capa: Apple Music

Escrito por: Beatriz Djalo

Editado por: Maria Francisca Salgueiro

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