Ar que Respiras, Agora em Promoção

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Nesta edição do “Cronicamente Dramática”, Rita Cardona aponta o dedo (e o recibo) à nova moda das embalagens meio vazias. Entre inflação, ilusões de marketing e bolachas que encolhem mais depressa que a paciência do consumidor, a autora expõe, com ironia, a arte moderna de vender ar. Uma crónica onde a única coisa leve é mesmo o conteúdo da caixa.


No meio desta economia desgraçada, onde tudo sobe, menos o saldo da minha conta bancária, o que eu mais quero é poupar dinheiro. Mas, pelos vistos, as empresas tiveram exatamente a mesma ideia…

Alguém me explica que raio de solução é essa de embalagens meio cheias? Chamam-lhe “Ajuste de Mercado”, mas para mim é simplesmente enganar o consumidor à descarada.

O que aconteceu no outro dia ultrapassou todos os limites: os do marketing, da paciência e, claro, da capacidade do pacote de me enganar.
Fui ao supermercado comprar umas bolachinhas, pronta para o meu ritual sagrado: café com leite, manta e a minha série do momento (o triângulo místico do equilíbrio mental). Chego a casa, abro a embalagem e… puff! Metade do pacote vazio. Parecia cena de desenho animado: abre-se a caixa e, em vez de bolachas, sai uma mosca a voar.

“50% bolacha, 50% tristeza” | Fonte: Rita Cardona

E não, ninguém as comeu, como acontece em certas casas, onde há um bicho chamado “irmãos” que devoram tudo o que não está guardado a cadeado. A embalagem estava intacta, um hino à arte de vender ar.

Eu percebo o truque, atenção. A inflação morde, os custos sobem, os lucros choram… mas isto já é gozar com a nossa cara. Se querem mentir, ao menos mintam com cabeça, não é preciso ser o Einstein para isto! Encolham a caixa, engrossem as bolachas e cortem o número, chamem-lhe “Conceito Mindful Snacking”. Ou melhor ainda: “Bolacha Minimal (para quem aprecia a estética do vazio)” porque enganar o consumidor é muito mais chique quando vem com lettering dourado. Como diz o ditado: “O que os olhos não veem, o coração não sente”.

Mas eu vi. E agora, cada vez que olho para uma prateleira de supermercado, já não vejo produtos, vejo ilusões embaladas. Metade oxigénio, metade marketing… e eu, cá fora, a perceber que o vazio também tem preço (e com IVA).

Este artigo de opinião é da pura responsabilidade da autora, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.

Fonte da imagem da capa: Freepik

Escrito por: Rita Cardona

Editado por: Rodrigo Caeiro

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