Vivemos tempos gloriosos. Somos a geração mais qualificada da História e, paradoxalmente, a que mais se pergunta o que é que está aqui a fazer. Temos cursos, workshops e experiência em Excel. O problema é que, entre tanta competência transversal, já ninguém sabe muito bem qual é a direção principal.
O estudante moderno não estuda, gere o seu portfólio de possibilidades. Inscreve-se em congressos, lidera grupos, participa em projetos, tira cursos online, faz voluntariado… tudo em nome do mesmo ideal: o de ser “empregável”. Ser. Essa palavra antiga que agora exige uma prova documental em PDF.
Nas universidades, o fenómeno é celebrado com entusiasmo. Cada aluno é uma start-up de si próprio, sempre pronta a “investir em soft skills” e a “ampliar a rede de contactos”. Uns dizem que é o futuro do trabalho, outros que é o colapso do sentido. No entanto, ninguém quer ficar para trás. Não por ambição, mas por medo. Medo de ser o único no grupo do LinkedIn sem algo para mostrar.
No meio disto tudo, a vocação, essa palavra quase medieval, ficou esquecida numa gaveta. Ter vocação hoje é um luxo, um privilégio reservado a quem não precisa de justificar cada minuto do dia com algo produtivo. Para o resto de nós, resta a angústia de preencher o vazio com certificados.
O resultado? Uma geração exausta, mas cheia de conquistas. Capaz de falar em burnout enquanto responde e-mails, de partilhar posts sobre saúde mental entre duas candidaturas a estágios não remunerados, de querer salvar o mundo… assim que acabar aquele curso de Gestão do Tempo.
No fim, talvez sejamos mesmo especialistas, mas especialistas em fingir que sabemos o que estamos a fazer. O mercado agradece, as universidades aplaudem e nós seguimos, com o currículo sempre atualizado (e o sentido de vida em suspenso).
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade da autora, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Escrito por: Matilde Lima
Editado por: Leonor Oliveira


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