Era uma vez – palavras feitas de argila.

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Cada história tem um começo…

Se eu tivesse que contar a história da minha vida, começaria com o meu nascimento ou com o nascimento da minha mãe?

Talvez nenhum dos dois, talvez na noite em que fui concebida, certamente essa seria uma conversa interessante com os meus pais, ou no dia em que os meus avós se conheceram num baile de verão, numa terra que me escapa o nome. Desde o momento em que enchi os meus pulmões de ar pela primeira vez ou o início dos tempos. Qual instante seria considerado o princípio de toda a minha existência?

Melhor ainda, quando é que terminaria tal história? Alguns diriam o momento da minha morte. Talvez o último suspiro da última pessoa a se lembrar de mim. Talvez os seus filhos, criados por alguém que carregava os sussurros da minha existência. Talvez ir até mais longe, com o fim do próprio tempo.

Cada conto tem um contador de histórias para o começar, mesmo que ele escolha começar no meio e terminar um toque antes do fim.

A vida pode parecer linear, do começo ao fim, do nascimento à morte, o início e o final da minha história. Porém, a natureza cíclica da vida é inegável. Os dias esvanecem em noites e por sua vez as noites despertam como dias.

Nem a morte, o epítome da finalidade, é apenas o fim.

O que acontece no espaço que deixo com a minha morte, não será ainda um pouco parte da minha existência? Como podemos reduzir a fim algo que tem continuidade? Quando a morte também é o começo.

Como argila em mãos quentes, conceitos como o começo e a sua contraparte, o fim, revelam as impressões digitais de quem lhes toca. Desconstruídos e feitos de novo à medida que passam de mão em mão. Torcidos repetidas vezes dentro do seu próprio significado, eles abrangem tudo e nada e o que está no meio. O começo do fim é o fim do começo. Uma cobra que come a sua própria cauda.

Porque o princípio é o fim e o fim é o princípio, e a vida é este círculo que o mar repete. – Sophia de Mello Breyner.

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Este artigo de opinião é da pura responsabilidade da autora, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.

Escrito por: Maria Borralho

Editado por: Leonor Oliveira

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