Ter um grupo de amigos, ou ser uma pessoa querida, não implica seres o mais interessante, o mais confiante, o mais bonito, nem o mais talentoso em desporto ou nas aulas. O verdadeiro passo para os outros gostarem de ti é tu gostares das outras pessoas.
Dale Carnegie escreveu no seu livro “Como fazer amigos e influenciar pessoas”: “Fazes mais amigos em dois meses ao te interessares por outros do que em dois anos tentando que se interessem por ti“. Escolho começar com esta frase porque é precisamente aqui que reside o erro mais comum: acreditamos que para sermos gostados temos de fazer o outro admirar-nos. Enquanto que, na realidade, o mais importante é sermos bons ouvintes.

Temos uma tendência natural para gostar de nos ouvir falar. Pode até parecer egoísmo, mas é, em grande parte, um instinto de autopreservação. Aprendemos a colocar-nos em primeiro lugar, e a cultura do “cada um por si” reflete essa lógica.
Por isso, a melhor forma de fazer amigos é fazer os outros sentirem-se importantes: ouvir atentamente o que têm para dizer, fazer perguntas, dar elogios sinceros e nunca esquecer o seu nome.
A esta altura, podes perguntar: por que razão eu faria isso?
Não é uma má pergunta, e de facto não há muitas pessoas que aplicam estes métodos. Todavia, todos sabemos que estamos a atravessar um período de solidão em larga escala. E se um movimento em que pessoas se juntam para comer pudim com um garfo não é prova disso, não sei o que será.
Desta forma, acho mais importante do que nunca reaprendermos a ser amigos dos outros. É muito fácil passarmos dias sem falar nada de significativo, graças às redes sociais, serviços de entrega de comida, máquinas automáticas, self checkout, etc. Chegámos a um ponto na cultura individualista em que até é aplaudido o facto de não precisarmos de contar com ninguém.
Embora possamos ter mais liberdade, estamos a ir contra a nossa própria natureza. Os níveis de depressão disparam, e, embora esta doença tenha causas complexas, a ciência é clara sobre um ponto: a existência de uma rede de apoio é um dos fatores fulcrais para a sua prevenção e cura.
Voltemos então à questão inicial: como fazer os outros gostarem de nós.
O canal Newel of Knowledge publicou um vídeo sobre o tema, que resume o essencial. O primeiro conselho é aprender a ter conversas que criem intimidade.
Transformar um diálogo que mais parece dois monólogos paralelos como: “Ontem fui à praia.”, “A sério? Eu fui ao mecânico. Aparentemente preciso de um radiador novo.”, “Que seca. Nem sabes quem vi na praia.”- em algo pessoal. Uma conversa que crie ligação e faça ambas as pessoas sentirem-se bem e compreendidas.
Um estudo da universidade UC Burkley analisou as conversas de pessoas em primeiros encontros. Ao tentarem perceber o que levava aqueles dois desconhecidos a quererem se ver outra vez perceberam que era, principalmente, pela qualidade das suas perguntas de seguimento.
Essas perguntas permitem transformar um diálogo banal em uma conversa significativa. Dando espaço à outra pessoa para desenvolver mais aprofundadamente a sua ideia principal.
No exemplo anterior, quando alguém diz que foi à praia, uma boa pergunta de seguimento seria: “E o que fizeste lá?”. É importante incluir aspectos que despertam emoção no outro, como falar sobre as suas expectativas, interesses, memórias, desejos, o que adoram fazer e as suas motivações.
Os psicólogos Arthur e Elaine Aron criaram, nos anos 90, as famosas “36 Perguntas para se apaixonar”, uma lista de tópicos de conversa destinados a conhecer verdadeiramente alguém. A ideia é começar com perguntas simples e, à medida que o outro se abre, aprofundar o nível de intimidade.

Dale Carnegie aconselha a nunca criticar, condenar ou queixar-se. É uma das suas principais lições, porque a crítica e a condenação normalmente geram ressentimento, afastando as pessoas e criando uma imagem negativa de nós. Queixar-se também gera um clima negativo e pode deixar o ouvinte desconfortável.
Além das perguntas que constroem conexão de forma direta, existe também uma técnica mais subtil, perfeita para pessoas que ainda não conheces bem ou por quem sentes interesse: fazer rir. O riso partilhado reforça a ligação emocional, criando uma sensação de empatia e compreensão mútua.
Assim, podes dinamizar as tuas conversas. Por exemplo, para fugir ao tédio de questões como “Andas em que faculdade?” ou “Quantos irmãos tens?”, uma forma simples de tornar a conversa mais divertida é responder “Adivinha”. A pessoa será apanhada de surpresa e isso pode resultar numa interação mais genuína e engraçada.
Em suma, o propósito não é diminuíres-te para que os outros se sintam bem. As conversas não funcionam quando apenas um lado fala, por isso começa tu a iniciar esse tipo de assuntos.
Como nem todos possuímos as mesmas habilidades sociais, acredito que seja importante informarmo-nos sobre como podemos nos conectar mais eficazmente uns com os outros. Em outras palavras, como fazer os outros gostarem de nós.
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade da autora, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Fonte da imagem de capa: Sara Reis
Escrito por: Sara Reis
Editado por: Margarida Simões


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