Durante muito tempo tentei livrar-me da ansiedade. Ignorava-a e fingia que não existia. Mas ela é teimosa. Quanto mais a ignoramos, mais alto fala. Com isto, e aliando-me um pouco à psicologia e à filosofia, procuro explicar como a ansiedade realmente funciona. No fundo, transmitir-te o melhor que sei.
Ao ler “O fim da ansiedade” de Gio Zararri percebi que a raiz da ansiedade encontra-se no cérebro reptiliano, a parte mais antiga e primitiva do nosso cérebro. Este não comunica nem com o nosso lado emocional nem racional, é independente.
Quem tem ansiedade sabe que um dos principais sintomas é o sentimento de insegurança. Como o autor escreve, “A ansiedade é a mais comum e universal das emoções. É sinónimo de angústia e preocupação face a acontecimentos futuros ou a situações de incerteza, é a expectativa receosa de um perigo iminente, acompanhada de sintomas físicos em qualquer região da nossa geografia corporal, dando-nos o pressentimento de que algo muito grave nos vai acontecer.”.
Isto dá-se ao facto do cérebro reptiliano estar encarregue da nossa sobrevivência. Apesar de extremamente útil, a ansiedade muitas vezes funciona como um alarme de incêndio que é acionado com o fumo de uma torrada queimada. Tem dificuldade em distinguir os níveis de perigo.
Uma vez acionado, o corpo começa-nos a tentar convencer que estamos, de facto, em perigo. Utilizando a lista de sintomas dada pelo autor estes podem ser físicos (sudorese, palpitações, tensão muscular, vómitos, falta de ar, “nó” no estômago), psicológicos (ruminação, preocupação excessiva, sensação de perigo; estado de alerta e hipervigilância, expectativas negativas), ou sociais/comportamentais (medo do confronto, inquietação, dificuldade em concentrar-nos).
Não adianta ficarmos chateados com o nosso alarme, mesmo desregulado ele está apenas a fazer o seu trabalho – certificar-se que estamos seguros. O verdadeiro desafio não é silenciá-lo à força, mas sim evitar o pânico sempre que ele toca. A questão é: Como?
Relativizar
A arte de relativizar consiste em colocar em perspetiva a situação que está a causar a ansiedade. Não é ignorar os sentimentos e sensações – é reconhecer o que sentimos sem lhe darmos o controlo da narrativa.
Ao compreendermos que ela amplifica a sensação de caos e incerteza, podemos alterar a narrativa que ela nos tenta alimentar. Quando observamos os pensamentos com alguma distância, conseguimos vê-los como realmente são: apenas pensamentos. Em vez de “vou falhar”, dizer “estou a ter o pensamento de que vou falhar” cria espaço para respirar e pensar mais positivamente.

Agir
A ansiedade tem dificuldade em permanecer no presente, porque se alimenta do que ainda não aconteceu. Vive essencialmente de hipóteses, de cenários imaginados e de futuros que raramente se concretizam.
Evitar os sintomas ou fugir das situações que os provocam apenas reforça o ciclo do medo. Sempre que for possível, o caminho mais eficaz é enfrentar o desconforto de forma gradual. Ao fazermos algo que nos deixa ansioso, isso transmite uma mensagem ao nosso cérebro, algo do género: “Afinal não morremos, talvez porque não é uma situação assim tão perigosa”. Isto não significa forçar ou ignorar limites, mas sim reconhecer que a fuga dá força à ansiedade, enquanto a ação a enfraquece.
Ainda assim, ninguém precisa atravessar este processo sozinho. Sempre que os pensamentos se tornam demasiado reais e os sintomas intensos, procura apoio. Falar com alguém muitas vezes é um alívio, pois uma conversa sincera funciona como o ponto de pausa de que o corpo e a mente precisam para pensar com clareza.
Ao ser muito recorrente, e sem motivo aparente, dificultando o teu dia-a-dia, o mais importante a fazer é procurar ajuda de um psicólogo. E ter consciência que isso não é motivo de vergonha, mas sim o mais lógico a fazer.
Filosofia
Às vezes é necessário o empurrãozinho que uma mudança de perspectiva proporciona. A filosofia ensina-nos a pensar de forma mais leve sobre o que nos inquieta, o que já é meio caminho andado.
O taoismo é uma ótima opção para acalmar mentes ansiosas. Num universo incerto, a força não vem de controlar o que pode acontecer, mas sim de sermos capazes de nos adaptar às mudanças.
Já o estoicismo ajuda-nos a distinguir o que está sob o nosso controlo daquilo que nos escapa. A ansiedade nasce muitas vezes da tentativa de prever ou controlar o imprevisível, e os estoicos lembram-nos de que essa luta é inútil, além de extremamente desgastante. O foco deve estar nas nossas ações, escolhas e atitudes- o que conseguimos controlar.
Ao aceitar que o mundo é incerto e que o nosso poder tem limites, surge uma nova forma de liberdade: a tranquilidade de fazer o melhor que conseguimos com os recursos disponíveis.
O vídeo do canal Ludoviajante foi muito útil por me ter feito perceber o que a ansiedade me estava a querer dizer. Além de fazer uma interpretação muito interessante com a história de Orfeu.
Em suma, a ansiedade não precisa de ser necessariamente um fardo nas nossas vidas. Aprendi que o segredo não é lutar contra ela, mas compreendê-la quase como uma criança assustada, que só precisa que tu lhe digas “está tudo bem, eu estou aqui”. No fim, a vida é vista através da lente que escolhemos. Já que é inevitável olhar, ao menos que seja com alguma empatia- por nós e pelo mundo.
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade da autora, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Fonte da imagem de capa: Pinterest
Escrito por: Sara Reis
Editado por: Íngride Pais


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