Nesta edição do “Cronicamente Dramática”, Rita Cardona despe o tema mais temido das lojas de roupa: os provadores. Entre cortinas que não fecham, luzes de interrogatório e ataques gratuitos à autoestima, a autora transforma o simples ato de experimentar roupa numa comédia de humilhação pública. Uma crónica divertida, mordaz e dolorosamente verdadeira sobre o momento em que vestir-se devia ser simples mas acaba sempre em drama.
Lojas de roupa, temos uma coisa seríssima a tratar! Por favor, abram bem os vossos ouvidos (ou olhos) e prestem atenção.
Que asneirada de provadores são esses?!
Primeiro: cortinas.
Cortinas para fechar o meu bloco minúsculo de troca de estilo? A sério? Depois de tantos anos, ainda não perceberam que aquilo não fecha? Aquelas brechas por onde entra frio, vergonha alheia e metade do centro comercial continuam lá, fiéis ao serviço público da humilhação.
Pensem comigo: Se eu consigo ver tudo o que se passa lá fora, então as pessoas lá de fora conseguem ver tudo o que se passa cá dentro. É física básica, senhores do retalho!
Eu, para ir comprar roupa, tenho de chamar alguém para vir comigo. Não como companhia mas como guarda-costas de cortina! A pessoa ali, a contorcer-se como se estivesse num workshop de pilates do santo da decoração barata, a puxar, a segurar e a tapar as demoníacas brechas do pano.
Por amor ao pudor, troquem isso por uma porta! Ou, vá lá, por uma cortina decente, daquelas com um elástico ou um íman, qualquer coisa que impeça o público de assistir à minha performance de trocas de roupa.
Agora, o segundo crime: a luz.
Aquilo foi desenhado por alguém que odeia pessoas, só pode. Entro no provador e descubro manchas, pontos negros e arrependimentos existenciais que nem sabia que tinha. Eu sei que a minha pele não é daquelas meninas coreanas que vivem de skincare e serenidade, mas chiça! Ninguém anda na rua com uma lanterna apontada à cara!
E o resultado? Saio do provador irritadíssima, com a autoestima no menos infinito, já a marcar consulta com a dermatologista famosa do TikTok e com zero sacos de compras.
Ao menos nisso pensaram, obrigada por pouparem a minha carteira (ou não)!
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade da autora, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Fonte da imagem da capa: Freepik
Escrito por: Rita Cardona
Editado por: Rodrigo Caeiro


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