Não tenho tema para uma crónica. E, pelos vistos, é uma realidade vivida por cronistas no geral. No programa do Fernando Alvim na Antena 3, “Prova Oral”, o próprio e a escritora e ativista literária, Analita Alves dos Santos, mencionaram este problema e como o resolver – quando não te lembras de um tema para uma crónica, escreve sobre não teres tema. E é isso que vou tentar fazer aqui.
O bloqueio criativo é uma dor de cabeça para todos aqueles cujos trabalhos impliquem o uso de criatividade. Eu estou desde o início de setembro a pensar em temas para escrever uma crónica, mas entrei num ciclo vicioso:
- Pensar num tema
- Achar que o tema é épico
- Começar a escrever
- Reler ao fim do terceiro parágrafo
- Não gostar de nada do que escrevi
- Apagar tudo
- Encolher-me no canto da sala e chorar um bocadinho
- Sentir-me inútil
- Chorar mais um bocadinho
- Ganhar coragem
- Recomeçar
Camões pediu ajuda às Ninfas do Tejo de modo a ter inspiração para escrever os Lusíadas… Eu vou pedir a quem? Ao ChatGPT?

Obra: Columbano Bordalo Pinheiro
Colagem por: Íngride Pais
Sendo assim, como é que saímos desse buraco? Pesquisei no Google e fiquei na mesma, mas vou compartilhar contigo porque pode, eventualmente, ajudar-te (ênfase no eventualmente, não vendo aqui soluções milagrosas).
Observar o nosso quotidiano
As pessoas são uma boa fonte de inspiração: podia escrever um poema sobre o casal de idosos que estavam de mão dada no metro ou então toda uma dissertação sobre aquelas pessoas que conseguem estar a discutir às 7 da manhã na fila para o autocarro. Passo cerca de três horas por dia em transportes públicos e, infelizmente, as pessoas não me têm inspirado muito ultimamente… Exceto a senhora a gritar às 7 da manhã, mas não tenho nada de produtivo a escrever sobre ela.
Escrever as ideias num bloco de notas
Realmente é uma dica excelente para quando alguma ideia surge espontaneamente. O problema é ter ideias.
Contudo, às vezes podes ter ideias boas e, no momento em que vais começar a escrever, percebes que não a consegues desenvolver. Não as descartes, pelo contrário, escreve-as. Futuramente podes ter a inspiração certa para continuar a avançar.
Ler, ver séries/filmes e ouvir música
Normalmente esta é a opção mais segura e onde te podes sentir mais confortável a escrever sobre. Tanto dá para escreveres uma análise de um álbum, uma apreciação crítica ou reclamar horrores sobre o último livro da tua saga favorita.
Já escrevi um artigo sobre um filme e outro sobre uma série para o desacordo. Ponderei escrever sobre as minhas mais recentes obsessões literárias e cinematográficas, contudo, não saio da etapa “reler ao fim do terceiro parágrafo” – acho que ainda estou demasiado fascinada com os temas para conseguir escrever com alguma sobriedade. E quanto ao gosto musical… A minha playlist, no modo aleatório, começa nos Guns N Roses, passa pela Lady Gaga e The Beatles, encontra o Pedro Sampaio a meio e acaba com Korn seguidos da música dos parabéns do Batatoon. Acho que não preciso de dizer mais nada.
Encontrar o meu “porquê”
Esta dica realmente pode ser útil. Ao perceber porque é que tu escreves, para quem e sobre o que mais gostas de escrever ajuda-te a conseguires pensar em temas. O que te motiva? Qual é a tua intenção? Encontra a tua persona no mundo da escrita.
Pessoalmente, não tenho um padrão de temas que costumo escrever – já redigi artigos sobre gatos pretos, problemas do país e sobre bebés reborn assustadores (ou como os chamei na altura, putos de silicone). Basicamente, limito-me a escrever a primeira coisa que me vem à cabeça sob a forma de ideia iluminada. Tanto pode ser sobre a próxima trend inusitada, como sobre este desenho de um frango canibal numa caixa de nuggets.

Fonte: Íngride Pais
Em suma, muitas das vezes, a inspiração surge completamente do nada. Vai haver alturas que consegues pensar em três ou quatro temas logo de uma vez, e vai haver outras em que a tua criatividade vai estar tão a zeros como a tua conta bancária depois de teres pago as propinas. Não deves desistir. Vai escrevendo alguma coisa, mesmo que isso nunca veja a luz do dia (ou do desacordo).
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do(a) autor(a), não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Fonte da imagem da capa: Columbano Bordalo Pinheiro, 1894 + colagem do logótipo do ChatGPT
Escrito por: Íngride Pais
Editado por: Margarida Simões


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