Mercúrio Retrógrado? Não, é só a vida mesmo!

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Nesta edição do “Cronicamente Dramática”, por Rita Cardona, a autora ironiza o caos da sua semana, com fogões em chamas, chaves perdidas e azar em série, questionando se a culpa é mesmo de Mercúrio retrógrado ou apenas da vida. Uma crónica divertida sobre como o drama do dia a dia dispensa explicações astrológicas.


Qual Mercúrio retrógrado, qual quê! A verdade é que, se dependesse da minha semana, já deviam era mudar o nome do fenómeno para “vida retrógrada”.

Imaginem: fogão a arder (não, não foi uma receita gourmet, foi mesmo azar), chaves a mergulhar em queda livre pelo poço do elevador, acidente de carro e, como cereja no topo do bolo, aquela falta de vontade de existir que chega sempre no timing perfeito. E não, não estou a dramatizar, tudo isto aconteceu num espaço curto de uma semana.

É nesta altura que aparecem aqueles gurus do zodíaco:
— “Ah, mas isso é porque Mercúrio está retrógrado!”
E eu, entre o fumo da cozinha e as chaves perdidas, só penso: se o universo tem mesmo tanto poder sobre mim, ao menos que pague o conserto do carro.

Nunca percebi muito bem essas coisas dos astros. Falam em energias, signos, portais abertos, luas cheias que mexem com o humor dos caranguejos e balanças que vivem em constante instabilidade emocional. Mas sejamos honestos, instabilidade emocional eu já tenho sem precisar da ajuda do cosmos.

Ainda assim, decidi render-me à moda: vou começar a fazer todos os rituais possíveis para afastar este “encosto astral”. Sal grosso na porta, incenso no quarto, cristais estratégicos na secretária e, se for preciso, danço à volta da máquina de lavar roupa, para atrair boas vibrações, ao mesmo tempo que equilibro uma cenoura na cabeça e uma caneta no dedo mindinho do pé. Vai que funciona.

E quem sabe? Talvez até comece a jogar para o universo aquelas manifestações básicas:
— Quero boas notas sem estudar,
— Quero ficar rica sem trabalhar muito,
— Quero férias na Grécia sem ter de pedir um empréstimo.
Se as estrelas andam tão metidas na minha vida, ao menos que se esforcem em dar uma ajudinha.

Até lá, vou assumir: Mercúrio não precisa de estar retrógrado para me tramar. A vida já faz isso muito bem sozinha.

Este artigo de opinião é da pura responsabilidade da autora, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.

Fonte da imagem da capa: Freepik

Escrito por: Rita Cardona

Editado por: Rodrigo Caeiro

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