Porque é que não conseguimos parar de dar scroll: um guia

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Estamos todos conscientes dos perigos e mazelas que o scroll provoca. No entanto, não paramos. Mesmo que as redes sociais sejam importantes ferramentas de aprendizagem – porque é que são tão viciantes?

Estamos a entrar numa era do pós-tédio. É impossível experienciar aborrecimento com todas as ferramentas digitais que possuímos. A cada swipe sentimo-nos mais felizes e satisfeitos.

Qual é o problema?

O brain rot. Sempre que mudamos de vídeo, recebemos uma mensagem, ou nos aparece uma notificação que alguém gostou da nossa publicação, levamos com uma dose de dopamina. Pim! E o nosso cérebro fica viciado. Querendo repetir esse prazer as vezes que forem necessárias até ficarmos com uma dor de cabeça. 

Este prazer automático, apesar de saber bem ao início, provoca consequências a longo prazo. Uma vez que não fizemos nada para merecer essa dopamina – e o nosso cérebro está programado a preferir as opções menos trabalhosas – perdemos a motivação para realizar tarefas que ativam o nosso sistema de recompensa de maneira saudável. Como ler, lavar a loiça, falar com um conhecido cara a cara, estudar, etc.

Tal como eu, talvez te consigas relacionar com esta situação: disseste que ias abrir o Tik Tok para fazeres uma pausa de 10 minutos. Quando dás por ti já passou 1 hora e nem reparaste, ou percebes o porquê.

Ora, sempre que estás a olhar para um ecrã alguém está a lucrar contigo. Assim sendo, essas aplicações estão projetadas para te reter o maior número de horas possíveis. Pensamos que são grátis, mas na verdade estamos a pagá-las com o nosso tempo.

Vejo pessoas a olhar para os telemóveis em todos os sítios, até quando fazem uma pausa de 30 segundos entre as suas séries no ginásio. Parece que a sociedade está a normalizar a ideia de que todos os minutos do nosso dia têm de ser ocupados com um ecrã brilhante. 

“Neste tempo, tudo nos convoca para o adormecimento, a desistência, o escapismo e a alienação. Se escolhermos empatizar, continuar sensíveis, ficar atentos, ter espírito crítico, exercer o nosso direito de dizer, de cantar, de escrever, isso, por si só, já é um ato de resistência”, refere Capicua em uma entrevista à Comunidade Cultura e Arte. Interessante salientar (e sou suspeita) que além de rapper e escritora é, também, socióloga. 

Apesar desta normalização, que levou os portugueses a passarem uma média diária de 10 horas ligados à Internet, não significa que devemos seguir o rebanho. Dos anos 30 aos anos 50 os médicos recomendavam fumar tabaco. Mesmo que toda a gente o faça, não significa que seja bom.

Muitas horas online provoca uma queda na nossa capacidade de atenção. Tornando tarefas que outrora eram normais, em desafios. Como lidar com o desconforto de estar rodeado por pessoas sem “parecer ocupado”, segurando o telemóvel. E o mais preocupante para mim: o facto de até as redes sociais estarem a tornar-se aborrecidas, e saltarmos vídeos por serem “longos” demais.

Qual é a solução?

Perceber que isto é um problema é o primeiro passo. Proponho pensarmos mais conscientemente no impacto que a dopamina instantânea provoca no cérebro. Uma vez que sabemos que o desânimo para ler fomenta a desinformação e a falta de pensamento crítico. Que a padronização está a crescer, acompanhando as micro trends. E as interações cara a cara estão a diminuir – em vez de conversarmos durante 5 minutos, pedimos o Instagram uns dos outros, na busca de fugir ao desconforto que uma primeira interação acarreta.

Em suma, assim como Capicua realçou, também defendo que deveríamos voltar a empatizar, pois só esses momentos de prazer e interações genuínas nos conseguem dar a felicidade que tanto ansiamos. Controla o teu telemóvel, ou ele vai-te controlar.

Este artigo de opinião é da pura responsabilidade da autora, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.

Escrito por: Sara Reis

Editado por: Catarina Soares

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