Todos adoramos músicas românticas que nos dão a ideia que o amor é uma questão de destino, um encontro acidental no café ou cruzar olhares numa discoteca lotada. Segundo a palestra How We Destroyed Our Capacity to Love (Como destruímos a nossa capacidade de amar), de 2018, Alain de Botton afirma que precisamos reconstruir a nossa ideia do amor para o encontrarmos na sua forma mais pura.
Para sintetizar a sua mensagem, vou enumerá-la em forma de passos.

1º passo: Admitir que és difícil
Botton afirma que o primeiro passo a dar para conseguirmos amar verdadeiramente alguém é aceitarmos que somos pessoas difíceis. Temos a tendência de nos julgarmos perfeitos, um catch, talvez porque o amor mais discutido deste século é o amor próprio, e não o amor romântico. Mas se o queremos encontrar, é importante admitir que somos complicados emocionalmente, irritantes e esquisitos. Porque toda a gente o é.
Esta dose de honestidade abre o caminho para a transição do amor cinematográfico e a sua ilusão de parceiros perfeitos, para o amor da vida real.
2º passo: Reencontrar o amor que conheces
Este passo consiste em compreender que não estamos à procura de amor, mas sim a reencontrar o que os nossos pais nos deram. Ou seja, por mais saudável ou complicado o amor dos nossos pais um pelo outro, e por nós, esse será o nosso tipo de amor ideal.
Muitas vezes encontramos pessoas que, no papel, são incríveis para nós, mas quando as conhecemos melhor não dá o click. Botton afirma que mascaramos desculpas como “Não me sinto atraída”, quando, na verdade, sentimos no nosso instinto que a pessoa não nos vai magoar da maneira em que fomos habituados. E por isso, chegamos à conclusão que nunca nos amariam da forma desejada.
3º passo: Ninguém lê mentes
Todos sabemos que a comunicação é fulcral para qualquer relação. Mas quando encontramos aquele alguém especial, parece que as palavras se tornam desnecessárias.
Na visão do escritor, quando o outro não corresponde às nossas expectativas acreditamos que é por não ser a pessoa certa. Todavia, sobretudo no início, é necessário comunicar as nossas necessidades, explicar o porquê dos nossos sentimentos e ações, por mais desconfortável que seja. E ter o carinho e paciência para aceitar que nem sempre o outro nos vai entender.
4º passo: Amar é estar numa sala de aula rotativa
É importante estimar aqueles que nos apontam defeitos. A ideia que somos incríveis e não temos de mudar por ninguém, na visão de Botton, é trágica. Porque amar é educar e crescer em conjunto, tornando a relação mais forte.
É pertencer a uma sala de aula rotativa onde às vezes és o professor, outras o aluno. E ter a humildade para ocupar ambos os lugares.
5º passo: O amor é uma habilidade, não apenas um sentimento
A cultura popular ensina-nos que o amor simplesmente acontece. Que, um dia, vamos olhar para alguém e sabemos que aquela pessoa é a tal. Mas Botton desmistifica essa ideia: o amor dá trabalho, e nem todos são capazes de o manter.
Aconselha-nos a amarmos o nosso parceiro como se ele fosse uma criança com menos de 3 anos. Na sua perspetiva, a mesma paciência e compreensão que temos com os mais novos deve ser aplicada aos parceiros. Nem sempre a reação do outro será lógica ou justa, mas cabe-nos tentar perceber o que está por detrás das suas ações, algo que fazemos naturalmente com as crianças.
6º passo: O idiota adorável
O último passo é olhar para aquele que gostamos como um idiota adorável. A transição de amar alguém pelas suas qualidades, para a amar apesar dos seus defeitos, é um processo importantíssimo para ter uma relação duradoura.
Muitas pessoas acreditam que a alma gémea compartilha todos os seus gostos, valores e objetivos. No entanto, Botton alerta que essa expectativa é irrealista. Uma vez que a compatibilidade não é uma condição prévia ao amor, mas sim algo que se constrói dentro dele.
Concluindo, o pensamento de Alain de Botton ensina-nos que nem todos sabem amar porque amar não é algo que surge naturalmente. É um exercício constante que vai contra as nossas tendências egoístas. É necessário abrir espaço para o outro falhar e, sobretudo, ter a paciência para lhe explicar o que fez de mal e como pode melhorar. E isso é amor.
Em apenas 20 minutos, fez-me questionar imensas preconcepções que possuía. É claro que nem todos vamos concordar na eficácia destes passos, mas acho bastante importante questionarmo-nos sobre se as nossas visões sobre o amor são saudáveis. Aconselho, por isso, a veres também a palestra.
“Há pessoas que nunca teriam se apaixonado se não tivessem ouvido falar que o amor existe.”
François La Rochefoucauld
Escrito por: Sara Reis
Editado por: José Pereira


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