“Toda a gente tem um pouco de PHDA” ou “Agora toda a gente tem a mania que tem tudo”, são as frases mais comuns de se ouvir quando se fala da Perturbação da Hiperatividade e Défice de Atenção. E na realidade, é rara a pessoa que sabe realmente o que é este transtorno. E não, ver uma dúzia de TikToks de pessoas aleatórias sobre o assunto não nos torna uns experts no assunto.
Para se compreender exatamente este transtorno é necessário perceber o conceito de neurodivergência e o que significa ser uma pessoa neurodivergente. A palavra refere-se a uma condição em que o indivíduo apresenta diferenças neurológicas, comportamentais, em termos de comunicação e de aprendizagem que se encontram fora do padrão esperado pela sociedade. E existem diferentes tipos de neurodiversidades como, entre outros, o autismo, o síndrome de Tourette, a bipolaridade e a PHDA. Estes fatores podem ser causados por uma combinação de fatores genéticos, neurológicos e ambientais, sendo esta uma condição que acompanha o indivíduo desde a nascença.
O que é a PHDA?
Esta vertente no espetro da neurodivergência também é conhecida como TDAH, o Transtorno de Défice de Atenção com Hiperatividade. Esta condição é constituída por dois grandes pilares, que podem ou não estar presentes em conjunto, representados pela dificuldade de prestar atenção e/ou de controlar comportamentos impulsivos. A verdade é que parece muito vago esta questão da constante inquietação e esta desconcentração que muitos nós podemos sentir. Ter estes sintomas pode não querer dizer que somos afetados pela TDHA, até porque no nosso mundo atual estão presentes mais do que ótimas condições para sermos pessoas extremamente desatentas e impulsivas.
Ter PHDA é muito mais do que somente estes sintomas, é uma perturbação que, lá está, perturba realmente. E muito. Não é uma trend engraçada das redes sociais e está muito longe de ser uma doença inventada, notando a existência de estudos que indicam que 5% a 8% da população mundial apresenta esta condição.
A PHDA é mais frequente em homens, ou melhor, é mais frequentemente diagnosticada nas pessoas do sexo masculino. A psicóloga mencionada no post explica esse fenómeno melhor do que eu, mas todos sabemos que a ciência continua direcionada mais para eles do que para elas e esse é o principal contribuidor para tal. Isso e o facto das mulheres serem desde pequenas ensinadas a ocuparem menos espaço, serem mais quietas, caladas e a obedecerem mais, o que muitas vezes acaba por servir de máscara para a impulsividade que acompanha esta condição.
Um diagnóstico para esta perturbação é imensamente importante para a criação de mecanismos corretos para se aprender a viver com o turbilhão de pensamentos e ansiedade constante. É necessário aprender a lidar com a ansiedade que faz não querer sair da cama. Com as noites bem dormidas seguidas pelo cansaço aparentemente sem razão. Com a dificuldade em começar ou acabar uma tarefa. E a juntar a tudo isto, como é que se explica ao nosso amigo tão querido que ainda gostas imenso dele mas estás sempre a ignorar acidentalmente as mensagens dele? Ou explicar ao crush que afinal era só um hiperfoco…
Pois é, se calhar já não é assim tão trendy… E reparem que nem sequer fiz menção às lágrimas que se deitam porque já não se aguenta a voz (aquela voz chata e pequenina mas tão gigante) dentro da nossa cabeça, porque só se querem sentir neurotípicos e não neurodivergentes. Se calhar um TikTok sobre isso até ficava giro, alguém que experimente.
Será PHDA ou são só as redes sociais?
É verdade que ninguém quer ouvir isto, que nenhum de nós gosta de admitir que muitos dos nossos problemas (atrevo-me a dizer, a maioria) passa pela quantidade de horas e pela quantidade de conteúdo a que estamos expostos diariamente, a qualquer hora e em qualquer minuto. O que começou por ser uma distração da realidade, um passatempo, tornou-se o local onde ansiamos tanto estar: online. Claro que, por si só, estarmos conectados online não é algo problemático. A internet pode ser um recurso maravilhoso que facilita imenso as nossas vidas. No entanto, está mais do que cientificamente provado que o nosso tempo de atenção está a diminuir gradualmente e que isto, sim, se deve aos nossos vídeos do TikTok que tanto adoramos, que podem ter apenas 30 segundos mas muitas vezes nem aguentamos esperar para ver o final.
Somos bombardeados com informação e com estímulos de forma tão catastrófica que o nosso cérebro não tem capacidade para compreender o que está a acontecer. É aquela típica história do entrar a 100 e sair a 200, exceto que já nem acredito que entre realmente alguma coisa. O ser humano é um ser tão competidor que às vezes acho que queremos bater o recorde do peixe dourado em termos de tempo médio de concentração, um recorde de uns míseros 8 ou 9 segundos. E se quiserem o meu conselho, se calhar está na altura de ouvirmos os mais velhos e acreditarmos de uma vez por todas que esta internet toda pode estar a fazer-nos um bocado mal.
Por último, é importante salientar que eu apenas sou acompanhada psicologicamente e não sou, de facto, psicóloga. No entanto, aconselho, num tom agora mais sério, a procurarem apoio psicológico sempre que sentirem necessidade para e para se informarem melhor sobre este assunto.
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Escrito por: Margarida Simões
Editado por: Pedro Cruz


Deixe um comentário