Bebés reborn – o fenómeno dos nenucos premium já chegou a Portugal?

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A nova tendência viral nas redes sociais anda aí – o bebé reborn. São basicamente nenucos premium – bonecos assustadoramente parecidos com bebés humanos, só que não choram, não fazem birra, não sujam e não comem. Perfeito para a situação económica atual. O que é que estes pequenos projetos realistas do Chucky têm de tão especial? Não faço a mais pequena ideia, mas no Brasil eles viralizaram e estão a gerar polémica. Terá este fenómeno chegado a Portugal? Antes de responder, é necessário fazer uma pequena contextualização.

Boneca “bebé reborn”
Fonte: Ateliê Reborn by Carolina

Há muitas pessoas que compram estes putos de silicone e tratam-nos como se fossem, de facto, os seus filhos – mudam-lhes a fralda, dão de mamar (não perguntes como é que isso funciona, também não sei), falam com eles, levam-nos ao médico… No Brasil, há sítios que simulam maternidades e partos dos bebés reborn e ainda lhes dão certidões de nascimento. Basicamente, há quem gaste tanto dinheiro neste boneco como mães com os seus filhos recém nascidos, ou seja, o argumento de “dada a economia atual…” cai por terra.

Jurava que esta febre (literalmente) dos bebés reborn era meme, até ver uma notícia referente ao Brasil. A Câmara dos Deputados quer implementar medidas relativamente a este fenómeno: restrições ao atendimento médico destes bebés, aplicando multas às instituições que os “atenderem”; acompanhamento psicossocial às pessoas que dizem ter um vínculo emocional a este boneco e outros objetos que se assemelham a pessoas; aplicar multas a quem tentar utilizar os reborn para ter prioridade no atendimento e transportes públicos. 

Primeiro de tudo, quem são os médicos que sequer se dão ao trabalho de cuidar destas coisas? No máximo levavam os filhos bonecos à Doutora Brinquedos… Pelo menos ela tem habilitações para tratar deles.

Consulta do bebé reborn com a Doutora Brinquedos
Fonte: Íngride Pais

O vídeo abaixo foi o primeiro que vi e um dos que mais viralizou. Felizmente o vídeo é fictício – o conteúdo é destinado a um público infantil (o suposto público alvo destas Carlotas Cambalhotas com cabelo realista). 


Ao pesquisar, no TikTok, mais vídeos acerca dos bebés reborn, percebi que a maioria pertence a colecionadores de bonecas. Tal como há quem colecione bonecas da Barbie, Monster High, bonecas assustadoras de porcelana, há também quem tenha como hobby colecionar os bebés reborn. Podes até achar estranho, mas antes esta febre era só um passatempo normal. Sem vínculo afetivo, apenas entretenimento.

Sendo assim, porque é que há quem crie realmente uma ligação forte com uma Tiffany de silicone e que não tem tendências assassinas (espero)? A psicóloga Carolina de Freitas Nunes, num artigo para o Jornal de Notícias, explica que provavelmente este laço é criado devido a uma necessidade de se sentir seguro, instinto maternal não resolvido, perdas gestacionais, infertilidade e quadro de solidão profunda. Compara a ligação criada com as bonecas com a relação entre o dono e o seu animal de estimação, dizendo que são laços semelhantes.

Pelo menos o animal está vivo…

Em Portugal ainda não foram noticiados casos semelhantes com os bebés reborn, mas já se encontram à venda e SÃO TÃO CAROS! Um nenuco normal custa uns 20-30€ (dependendo do que eles tragam no seu pack). Os bebé reborn podem custar centenas de euros. E por algum motivo, bebés albinos são mais baratos do que bebés comuns.

Há quem ache esta situação um absurdo e chovem críticas a estes “pais reborn”. Pessoalmente, a única coisa que eu consegui pensar a primeira vez que vi um vídeo de uma mãe reborn foi: mas esta gente não viu a Annabelle? E se uma entidade resolve controlar a boneca? Se o pai reborn disser que o seu puto falou com ele, deve-se chamar um psicólogo ou um padre? Será que quando se compra a boneca, ela já vem com um kit de exorcismo? Muitas questões às quais não tive resposta. 

As bonecas de porcelana já me perturbavam um pouco. As reborn causam-me curto circuito. 

É importante frisar que, por muito difícil que seja não julgar horrores, é preciso que haja empatia para com os adultos que genuinamente têm um vínculo afetivo profundo com o bebé reborn. Eles precisam de ajuda, não de palavras de ódio.

Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.

Escrito por: Íngride Pais

Editado por: José Pereira

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