O Pedro tem 21 anos, é de Alvide (Cascais) e está a acabar a licenciatura em Ciências da Comunicação no ISCSP. É atualmente um dos locutores da rádio Cidade FM, integrando o painel do “Toque de Saída”. Também tem um podcast na rádio chamado “Contenda” e mais alguns projetos “…à espera para verem a luz do dia”. O Jornal desacordo teve a oportunidade e o prazer de entrevistar este nosso iscspiano.
Quando é que começaste a trabalhar na rádio?
Estou oficialmente na Cidade FM há 4 meses, embora a minha relação com esta rádio já seja antiga. Desde setembro de 2023 que fiz produção para o painel Toque de Saída, com o Artur Simões, Tecas, Diogo Sena e Carlos Coutinho Vilhena e captação de vídeo e locução de rádios locais em Viseu, Aveiro, Alentejo e Algarve.
Há uns meses estive afastado da rádio e trabalhei como social media manager na Sport TV.
Estava a adorar o desafio da Sport TV, mas sinto que não era realmente o que gostava de fazer. Felizmente, em janeiro, de férias em Itália, recebi uma chamada da Cidade FM com a proposta que já esperava há muito tempo e não tive como dizer que não (até porque queria imenso).
Voltei com uma responsabilidade maior mas também é esse desafio que me motiva, portanto acho que está tudo “bem bem” encaminhado.
Como foi o teu percurso académico?
Tive um percurso um bocado estranho. Sempre tirei boas notas na escola, mas odiava estudar. Ouvia as aulas, não tirava apontamentos e no dia antes dos testes gravava-me a ler a matéria e depois ia dormir a sesta com os áudios a dar na coluna do quarto.
Ainda consegui duas notas 20 em exames nacionais com essa brincadeira e acabei por entrar no ISCSP com 18,9 de média, portanto acho que me safei sempre bem.
Já na faculdade foi um bocado diferente. As cadeiras já exigem um certo nível de preparação e uma atenção redobrada que eu nunca tive bem vontade de dar. Não fazia parte dos meus planos ser o melhor aluno da faculdade e acho que defini desde cedo que passar às disciplinas era o essencial e talvez isso não seja um bom conselho (falo por experiência própria).
Estou agora a terminar as últimas cadeiras de Ciências da Comunicação e prestes a ser um jovem licenciado.
Acreditas que estágios durante o percurso académico são benéficos para o desenvolvimento das nossas competências?
Completamente. Os estágios são sempre benéficos na medida em que podemos explorar as nossas capacidades, skills e acima de tudo gostos. Não há melhor local para testarmos e tentarmos perceber o que gostamos realmente de fazer do que um estágio. Por vezes acabamos por entrar nalguma coisa que percebemos que não é o nosso caminho, mas tudo isso é parte do processo e a experiência vai ser sempre útil.
Em que é que o teu curso (Ciências da Comunicação) contribuiu para o teu percurso na rádio?
Ciências da Comunicação contribuiu bastante para uma parte essencial do meu trabalho que é a escrita. Cadeiras que requerem trabalhos escritos são sempre boas oportunidades para melhorar a escrita, a criatividade e, acima de tudo, a diversidade de palavras a escrever.
Muitas das vezes, o impacto de certas cadeiras não é bem visível, mas com o tempo acabo por perceber que determinados trabalhos ou aulas até foram bastante úteis para projetos que desenvolvo hoje em dia.
Cadeiras como Marketing, Expressão Oral e Escrita, Rádio e Multimédia e Teorias da Comunicação foram fulcrais para o meu trabalho hoje em dia.
Quais são os maiores desafios de entrar no mercado de trabalho na área da comunicação?
Contrariamente ao que nos é dito sempre que dizemos que estamos neste curso, a área da comunicação é bastante vasta e cheia de opções. Rádio e televisão não são, de todo, as únicas saídas do curso e isso é algo importante a ter em mente. O mercado de trabalho é um desafio por si só, mas é muito importante sabermos desdobrar-nos. Departamentos de comunicação e de marketing, gestão de redes sociais, jornalismo e produção de programas são umas das centenas de opções que o nosso curso nos possibilita escolher quando quisermos trabalhar.
O importante é fazer e mostrar a diferença. O mercado de trabalho é duro mas não pode haver medo de tentar. Fazer currículos criativos, vídeos de apresentação, cartas de motivação, propostas novas a empresas grandes ou pequenas são muitas das mais valias para marcar a nossa diferença e assentar a criatividade.
É importante ter em mente que não vamos sempre fazer o que queremos mas que apesar disso, tudo conta como experiência e aprendizagens e isso é fulcral numa boa carreira.
Já tinhas o “bichinho da rádio”?
Acho esta pergunta particularmente engraçada porque é um termo que se ouve muito e parece estranho, mas quando entrei na rádio percebi logo o que significava.
Não sei se tinha o bichinho especificamente da rádio, mas sempre tive grandes referências em programas como o Nuno Markl, Ricardo Araújo Pereira e até mais “recentemente” Carlos Coutinho Vilhena e de certa forma procurava algum dia fazer o que eles faziam.
Não imaginava que o meu percurso passasse tão cedo por aí, mas também foi algo que nunca descartei como opção.
Como é que te sentiste nos primeiros dias como locutor de rádio?
Foi uma sensação estranha. Estava em contacto com a Cidade Fm há 1 ano e meio e já tinha feito rádios locais durante 8 meses. As rádios locais são uma boa experiência para locução nacional. Basicamente somos nós num estúdio específico dentro da rádio nacional, a falar para Viseu, Vale de Cambra, Redondo e Loulé. São emissões extensas portanto o que não falta é tempo para melhorar. Entretanto quando regressei à rádio depois de uma paragem de 5 meses, fiz 1 mês de produção para apanhar o ritmo então achei que ia estar zero nervoso quando fosse realmente começar a ser locutor. Enganei-me. Nunca me custou falar em microfones mas quando percebi que aquele momento marcava o início e tinha o estúdio cheio de pessoas que fizeram parte deste novo passo, acho que tremi como uma batedeira.
Como é fazer parte do “Toque de Saída”?
Para mim tem um toque especial, porque o programa carrega o peso de alguns nomes que já integraram o painel e que sempre foram grandes referências, como é o exemplo do Carlos Coutinho Vilhena ou Diogo Sena.
Apesar desse “peso” nunca senti que não estava pronto para um programa tão grande. É um painel de 4 horas com rubricas, jogos, conceitos, temas e que exige uma criatividade e química bem trabalhada para resultar. Felizmente tenho a sorte de trabalhar com o Artur e a Joana, duas pessoas que são não só excelentes profissionais como bons amigos e isso facilita tudo.

Gostas de ouvir a tua voz no programa? Como é que a descreverias?
Não desgosto mas não amo. Sou uma pessoa com alguns complexos em relação à minha voz, não só porque não digo a letra L como tenho uma dicção deplorável.
Acho que estou a melhorar todos os dias mas não detesto de todo ouvir-me.
Conta uma história caricata que tenha acontecido durante as tuas emissões.
O que não falta são histórias caricatas na rádio.
Desde anunciar gravidezes de ouvintes em direto a fazer uma emissão com a minha irmã de 11 aninhos sobre o “danza kuduro” ser o nosso hino global. Trabalhar em rádio é saber que estou 6 horas num estúdio e que saio de lá com 10 novas histórias para contar assim que chegar a casa.
Qual é que achas que é o maior mito sobre a rádio?
Gostava de conseguir desmascarar todos mas isso também estraga a magia das rádios. Acho que o maior mito que posso passar cá para fora é de os ouvintes acharem que somos nós que estamos a escolher as músicas e a ordem delas
Todas as rádios têm um programador musical e as músicas definidas e nós locutores não conseguimos controlar esse aspeto.
Qual é o maior desafio de trabalhar na rádio?
Estranhamente são as ideias. Contraditório uma vez que é a melhor parte do meu trabalho e a parte que me dá mais prazer. Contudo, num programa diário de 4 horas que vive à base de bons temas, as ideias às vezes são escassas e acaba por ser um grande desafio chegar a um bom produto final.
Naturalmente aparecem pequenos desafios ao longo dos programas, como por exemplo não ter momentos mortos, não repetir demasiadas vezes palavras corriqueiras, referir marcas ou até mesmo não fazer certas piadas.
Neste aspeto o Artur desempenha um papel essencial porque acaba sempre por me ensinar algo novo todos os dias e sinto que com ele perto caminho sempre para bom porto.
Qual é o teu conselho para aqueles que têm o sonho de vir a trabalhar na rádio?
O meu conselho para aqueles que querem trabalhar em rádio ou em qualquer outro sítio é trabalhem como se não houvesse amanhã e destaquem-se. É uma área que é marcada especialmente por pessoas que se diferenciam. É importante fazer e experimentar mesmo que a maior parte das vezes seja perder dinheiro ou algo que acaba por ser só visto pelos amigos e família. Tudo é experiência e é importantíssimo ganhar o que se chama corriqueiramente “estaleca”.

Escrito por: Íngride Pais
Editado por: Marta Neves


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