Entrevista a Juliana Ruas: “Há muitos benefícios na leitura”

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Juliana Ruas é uma ex-ISCSPiana, da área das Ciências da Comunicação, e o Jornal desacordo teve o prazer de entrevistá-la. A jovem é a dona de uma conta de bookstagram e partilha o seu gosto pela leitura com centenas de pessoas que a seguem.

Fonte: Instagram @julescozybooks

Nesta entrevista, a jovem contou-nos as maiores loucuras que já fez por este mundo literário e as experiências incríveis que a leitura lhe trouxe. Juliana acrescenta que ler faz de nós mais humanos, tornamo-nos pessoas mais empáticas e atentas ao mundo ao nosso redor.

Ora, sabemos que estiveste no ISCSP a estudar Ciência da Comunicação certo? Como é que foi a tua experiência? Alguma dica para as pessoas que estão a pensar candidatar-se para o ano que vem?
JR: Olha, eu, de maneira geral, gostei do curso.  Quando eu entrei, ele ainda era muito teórico, no sentido em que, a maioria das avaliações eram exames, mas depois fomos tendo finalmente avaliações contínuas e mistas. Eu acho que toda a experiência também da faculdade foi muito interessante e gostei. Acho que é um curso, como eu não sabia bem o que é que eu queria fazer, eu estive a ver ali a brochura dos cursos para a faculdade e Ciências da Comunicação chamou-me à atenção, e foi uma área que eu pensei que poderia dar-me bem. Mas toda a experiência foi muito desafiante, mas também interessante. Todo o ambiente ali da faculdade, gostei muito.
Para as pessoas que pensam em candidatar-se, eu acho que a pessoa tem que entrar com a mente aberta. O curso dá uma perspectiva abrangente, se a pessoa entrar e não tiver assim bem noção do que quer fazer, tipo eu, acho que é um curso que dá-te várias possibilidades para explorar várias coisas e ter várias experiências na área. Não há restrições, é exatamente isso, por ser um curso tão abrangente não restringe a uma só área. Então é um mundo, é um mundo de possibilidades que elas podem explorar nos vários ramos e é isso que é interessante.

Quando é que surgiu a ideia de partilhares a tua paixão com os outros numa rede social?
JR: Surgiu numa fase de pós licenciatura onde estava à procura de trabalho e o desejo de criar esta conta foi influenciado por dois fatores. Um dos fatores foi a conta da Chronicles of Mariana, durante essa altura andava a ver imensas publicações dela e interessei-me imenso. Mas o fator principal foi o facto de ter tido um bocado de mais tempo livre depois de acabar o curso, e assim conseguia ler mais e tinha vontade de falar sobre esses livros com mais pessoas. E então o que eu fazia era publicar stories, somente para as pessoas mais próximas verem, no Instagram, onde dava a minha opinião sobre cada leitura. A partir daí as minhas amigas encorajaram-me a criar esta conta e a fazer a partilha no sítio correto, onde pudesse chegar até mais pessoas.

A verdade é que em Portugal estudos mostram que a cada ano se vende mais livros, especialmente a jovens, e isso deve-se, não só, ao facto de tantas contas como a tua partilharem o seu gosto pela leitura com os outros. Sentes que fazes parte dessa mudança?
JR: Eu espero que sim. (risos) Eu gosto de acreditar que sim, sei que a minha conta não é grande, até porque não faço dela um “trabalho”. Gosto de pensar nela como um hobby, onde partilho as minhas leituras quando quero e quando posso, também sei que talvez se postasse com mais regularidade isso ajudasse a minha conta a crescer. Mas não quero este espaço que criei se torne de certa forma uma obrigação, quero que seja um espaço confortável para mim e para os que me seguem.
Por isso, espero que partilhar as minhas experiências literárias alcance o público certo, alcance pessoas que se interessam e que querem ler mais, isso é bastante importante. Talvez não tenha muita influência fora do meu bookstragam, mas gosto de acreditar que influencio o meu grupo de amigos e conhecidos.

Percebi pela tua página que és muito fã da Sabaa Tahir, e que chegaste mesmo a conhece-la em Londres. Foi esta a maior loucura que já fizeste por um livro? Conta-nos como foi essa sensação de conhecer a autora.
JR: Sem dúvida foi a minha maior loucura sim! Em outubro do ano passado, depois de descobrir que a Sabaa iria fazer um evento a publicitar o seu novo livro em Londres, eu pensei: “Eu preciso de ir”. E fui, as condições foram muito favoráveis para ir, o que ajudou muito. Só tive de pedir uns dias de férias para ir atrás de uma escritora em Londres. (risos)
Sobre a experiência foi… foi fantástico. Foi muito interessante ver a diversidade de pessoas que estavam presentes no evento, e até foi engraçado porque o evento ocorreu numa Igreja Católica e ela é muçulmana. A Sabaa em si é uma pessoa super acessível, eu já tinha tido algumas interações com ela através da minha conta, mas cara a cara foi a primeira vez. Eu tinha meio que um roteiro preparado em casa com coisas para lhe dizer e estava com tantos nervos que mal conseguia dizer nada. Acho que dá para perceber pelos vídeos e pelas fotos.

A Sabaa é uma autora mesmo incrível, este livro do evento é do gênero de fantasia mas retrata temas muitos importantes. A personagem principal é uma escrava que é muito maltratada e que só quer ser livre. É um mundo com muita maldade e a autora consegue aprofundar e transmitir isso muito bem.
E ela foi mesmo uma querida, deu-me uma moeda personalizada, que é limitada e ela já tinha anunciado nas redes sociais que iria levá-la para os eventos dela. Apenas a ia dar antes às pessoas que vieram de países mais longe, então ela deu porque eu disse-lhe que tinha vindo de Portugal. E aquilo é assim- por exemplo: estás a ler o livro e já é hora para ires dormir, então lanças a moeda ao ar e de um lado diz “One more chapter” (Mais um capítulo) e depois o outro. “Go to bed” (Vai para a cama).

Tens algum livro que sentes que toda a gente deveria ler pelo menos uma vez na sua vida? Porquê?
JR: Eu acho que sim. É um livro que pode ser um pouco polémico, especialmente porque é sobre a história de Portugal, escrito por uma jornalista portuguesa, a Catarina Gomes. E que é um tema tão tabu, tão tabu, porque envolve a Guerra Colonial. É tabu, não é falado, mas eu acho que é importante, ou era importante, que toda a gente conhecesse e desse uma oportunidade àquele livro. Porque nós sabemos que, talvez como em todas as guerras, nomeadamente de Portugal, houve imensas coisas que não ficaram resolvidas da Guerra Colonial. Seja do lado de cá quanto do lado de lá. E o governo na altura negligenciou completamente, neste caso os soldados, mas também negligenciou completamente aquilo que acontecia em África. E então, um livro também que eu vou sempre lembrar e ter comigo, é esse livro da Catarina Gomes, que se chama “Furriel não é nome de pai”, e é sobre os filhos que os militares portugueses deixaram na Guerra Colonial. É um livro não fictício, porque foi baseado numa reportagem, e ela é que transportou para a versão livro. São histórias muito tristes e de cortar o coração, e são verídicas, infelizmente. E ensina-nos a ter empatia por ambos os lados.

Fonte: Instagram https://www.instagram.com/p/DGGX1HHsLdS/?img_index=1

Por fim, és da equipa livros digitais ou livros físicos?
JR: Gosto muito dos dois. E é assim, acho que vou ser sempre da equipa dos livros físicos… Mas, eu sou uma leitora slow reader, e os livros físicos fazem-me demorar mais a ler. Os digitais permitem-me ler mais rápido com eles, e posso ler em qualquer sítio e em qualquer posição. No entanto, nada substitui agarrar num livro e passar as folhas, e mesmo sublinhar com marcadores no papel. Por isso sim, sou mais de livros físicos mas adoro ler livros online.

Juliana deixou ainda um recado para todas as pessoas: “Aconselho as pessoas a lerem. Acho que não importa o que é que estão a ler. Porque, de certa forma, a leitura traz benefícios em tudo, não é? Há muitos benefícios na leitura”. A entrevistada acrescenta ainda que não entende o julgamento que surge, até mesmo dentro da comunidade literária, para com alguns tipos de gêneros de livros. Existe um certo estigma provindo de pessoas mais críticas que consideram que algumas leituras não contam, pois não são considerados livros “a sério”, especialmente se forem do estilo de romance e/ou de fantasia. Para este tipo de opiniões Juliana apenas tem a dizer: “As pessoas são chatas, elas deviam estar a agradecer que as pessoas estão a ler. Pronto, mas leiam livros, claro. É sempre muito importante para o vocabulário, é importante para a criatividade, é importante para a tal empatia”.

Escrito por: Margarida Simões

Editado por: Teresa Veiga

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