Cimeira Mercosul: Procura de cooperação num cenário global de fragmentação

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 No passado dia 23 de abril, o Núcleo de Estudantes Brasileiros do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas organizou a Cimeira Mercosul, evento que contou com a presença do Jornal Desacordo. Para além de construir pontes entre distintas culturas e realidades, este mercado comum revela-se de extrema importância num cenário geopolítico caracterizado por mudanças e tensões crescentes.

Fonte: Raquel Pedroso

A sessão inicia-se com as palavras do Exmo. Dr. Raimundo Carreira, embaixador do Brasil em Lisboa, que traça a história do Mercado Comum do Sul e informa o público sobre os seus estados participantes (Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai, Uruguai) e associados (Chile, Peru, Colômbia, Equador, Guiana, Suriname e Panamá). Acrescenta-se a justificação para a Venezuela não constar nesta lista: encontra-se suspensa desde 2016, tendo violado a cláusula do Protocolo de Ushuaia, que exige a todos os países do bloco a preservação e funcionamento de instituições democráticas. O Mercosul só vem a ver a sua personalidade jurídica de direito internacional reconhecida em 1994, com o Protocolo de Ouro Preto, apesar de fundado em 1991. Despedindo-se, o orador remata a introdução da sessão, relevando a importância do Acordo de Associação Mercosul-União Europeia, ainda dependente do processo de revisão, assinatura e ratificação.

 De seguida, demos as boas-vindas aos oradores do primeiro painel: Exmo. Sr. Adrián Fernández, Encarregado de Negócios da Embaixada do Uruguai em Portugal; Exmo. Sr. Raul Silvagni, Embaixador do Paraguai em Portugal; João Azevedo, Presidente do NEBr do ISCSP – Ulisboa e Prof. Carla Costa. As vozes paraguaias e uruguaias no debate partilharam esperanças e inquietações. Entre perguntas e respostas, concluímos que o Paraguai vê o bloco como uma plataforma para alcançar maior competitividade e mudanças estruturais. Já o Uruguai expressa ambição por uma integração mais profunda, inspirada na União Europeia, mas reconhece os desafios colocados pela heterogeneidade entre os países membros. Foram mencionadas as tensões comerciais com os Estados Unidos da América e o enfraquecimento de instituições multilaterais, como a Organização Mundial da Saúde, reforçando-se a importância do Mercosul avançar com base em democracia, estado de direito e consensos fortes. O Presidente do NEBr questionou os representantes em relação à Hidrovia Paraguai-Paraná e à criação de focos de união exteriores à América do Sul, ao que lhe foi respondido que estas são discussões contínuas e constantes. A burocracia de criação e manutenção de infraestruturas, as perspetivas distintas dos cinco países que envolvem a hidrovia, as políticas climáticas e os fundos económicos revelam-se obstáculos à concretização destes objetivos.

 No meio de divergências e expectativas, uma certeza acaba imposta: “A ambição não é coisa para quem se frustra facilmente”, como proferiu o Exmo. Sr. Adrián Fernández. O futuro do Mercosul dependerá da capacidade de equilibrar interesses nacionais e compromissos regionais, tarefa já custosa, num panorama global que parece privilegiar a individualidade à cooperação.

Este artigo é da pura responsabilidade da autora, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.

Escrito por: Raquel Pedroso

Editado por: Pedro Cruz

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