A liberdade não morre de um golpe, de um estrondo. Morre no silêncio das salas onde já não se discute, nos jornais onde já não se escreve, nos olhos que já não se arregalam com a injustiça. Morre devagar, como um lume que se apaga por falta de quem o alimente.
Foi com vozes erguidas e cravos em punho que, naquele abril de 74, Portugal renasceu. Portugal tornou-se livre.
Mas a liberdade não é uma herança eterna, – claro que não – não é um bem que se recebe e se guarda na gaveta, ao lado das velhas fotografias empoeiradas e dos discursos dos tempos que já lá vão. A liberdade exige ser vivida, defendida e reclamada todos os dias, porque o maior inimigo da liberdade é, na verdade, a indiferença. É o peso dos ombros que já não se levantam para protestar e é a aceitação resignada do “é assim que as coisas são”. É não votar porque “não vale a pena”. É não questionar, nem reclamar porque “nada vai mudar”.
Quando esquecemos abril – oh, o nosso tão grandioso Abril – não percebemos que há palavras que só podemos dizer porque alguém as conquistou por nós. Que há livros que só podemos ler porque alguém ousou escrevê-los. Que há mãos, abraços e beijos que só se dão livremente porque houve quem lutasse.
E, no entanto, esquecemos. Esquecemos porque a memória cansa, porque a luta desgasta e porque é fácil viver sem pensar que nem sempre foi assim.
Mas é nesse esquecimento que abril começa a morrer, não subitamente – isso não -, mas de pouco em pouco. Um direito que se perde ali, um medo que cresce acolá, uma porta que se fecha devagarinho, devagarinho até que, um dia, damos por nós de novo no escuro.
(Bato na madeira para que tal não aconteça).
Enquanto houver quem se cale por medo, enquanto houver quem não possa amar livremente, enquanto houver quem viva esmagado, Abril não pode ser só mais um fim de semana prolongado, mais um feriado no calendário. Tem que ser uma inquietação. Um sobressalto. Uma ferida aberta em quem ainda sente dor.
Abril tem que ser maio. Tem que ser junho. Tem que ser todos os meses do ano. Porque lembrar não basta. É preciso continuar a construir Abril. Erguer Abril. Ser Abril.
A liberdade – esta tão suada, chorada e conquistada liberdade – não vive só nas estátuas, nem apenas nos museus. Vive no peito de quem se indigna, de quem lembra e, principalmente, de quem ainda acredita.
Cada gesto conta. Cada palavra dita em liberdade. Cada voto consciente. Cada amor vivido sem medo. É assim que Abril continua. Porque há quem se lembre. E há quem nunca desista.
Hoje, dia 25 de Abril de 2025, vamos sair à rua, vamos manifestar, vamos gritar. Vamos mostrar que não nos esquecemos.
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade da autora, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Escrito por: Rita Luís
Editado por: José Pereira


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