Já não precisamos do feminismo. O homem e a mulher são iguais aos olhos da lei. Atualmente podemos ser o que quisermos. Que utilidade este movimento pode ter mais?

Quando era mais nova não gostava de raparigas. Eram só dramas. Não gostava de rosa também, demasiado feminino. Usava roupa larga, sobretudo do meu irmão mais velho. Não gostava de ser menina. Éramos ridicularizadas por falarmos sobre rapazes, pelas vozes estridentes e risos altos, por não termos a mesma aptidão para a inteligência ou comédia. Esta foi a realidade com que cresci. Com este cenário, comecei a negar o que me tornava rapariga, distanciando-me delas, preferindo amizades com meninos. Afinal, a pior ofensa para um rapaz era ser chamado de menina.
Ao amadurecer entendi que ser mulher não te torna inferior. Que algo feminino não é necessariamente negativo. Que o rosa é bonito, que as amizades femininas são a nossa maior virtude, e que possuímos valor intrínseco.
Carregamos uma herança que teima a não ser esquecida: o ódio pela mulher. Quando vi nas notícias que 32 mil pessoas viram a gravação de uma menina de 16 anos a ser violada e nenhuma alertou as autoridades pensei: “Precisamos do feminismo”.
“Desde cedo a sociedade passa a tratar meninas e meninos de forma diferente, atribuindo valores e desafios diferentes para cada um, diferenciações sustentadas em razão do sexo, o que é feito de uma forma bastante naturalizada, a fim de criar na sociedade a cultura de que homens e mulheres, em razão de suas diferenças biológicas, possuem comportamentos e características sociais diferentes.” (Santos, Bussinguer, 2017., p. 3)
Dizem que somos mais emocionais – mas não será porque os homens são ensinados a reprimir as emoções, enquanto a sensibilidade na mulher é valorizada e esperada? Dizem que amadurecemos mais cedo – mas não será porque nos obrigam a crescer assim que entramos em idade fértil?
Quando fiz 13 anos comecei a ser assediada. A minha mãe aconselhou-me, “Tens de te dar ao respeito.”. Foi me ensinado que o respeito pela mulher não existe por si só, nós temos de o merecer. Ainda somos consideradas 0 sexo inferior e a normalização desta violência é prova disso.
É urgente o respeito pelas mulheres porque machismo não é só violência física. É também achar que não podemos ser líderes porque somos muito emocionais. É quando namorados controlam, direta ou indiretamente, o que as parceiras vestem. É justificar o comportamento errado de homens com a idade. Chamarem-nos de “histéricas” e “dramáticas”. Assistir pornografia. Perpetuar o mito de que as mulheres conduzem mal. Dizer que possuímos um “dote natural” para a cozinha. Não ouvir artistas femininas. Afirmar que as mulheres só entram em cursos de STEM por causa das vagas obrigatórias. E, ainda, culpar-nos pela existência destas narrativas.
É urgente a palavra feminismo perder a conotação negativa que ganhou ao longo dos anos. Ainda é necessário porque, todos os dias, carrega nas suas costas os direitos que possuímos. Com o descarte deste movimento pela igualdade, também iremos descartar tudo o que foi alcançado até agora.

Se és homem e estás a ler isto, pergunta-te se realmente tratas as mulheres com o mesmo respeito que tens pelos homens. Ou se te custa mais ouvir, acreditar ou dar espaço quando quem fala é do sexo feminino.
Se és mulher, compreende se caíste na imbecilidade do “girl math”. Se desculpas incansavelmente os comportamentos de homens. Se achas que a perfeição é o único caminho para seres levada a sério.
O machismo, em maior ou menor quantidade, está dentro de cada um de nós. É urgente transformar a consciência coletiva, desapegando-a de estereótipos e preconceitos, que dão continuidade às construções de gênero. Todos os comportamentos machistas levam à desvalorização da mulher enquanto ser atuante sobre seu próprio corpo e crer.
Respeitem-nos, por todas as nossas qualidades e defeitos.
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade da autora, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Escrito por: Sara Reis
Editado por: Pedro Cruz


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