Um apito que fez história! No último fim de semana, Catarina Campos tornou-se a primeira mulher a assumir o papel de árbitra principal num jogo profissional masculino em Portugal. Como chegamos até aqui e o que ainda falta conquistar?

Antes de mais, preciso contar-vos a verdade: a ideia deste texto não foi minha. A nossa diretora do jornal, Marta Ricardo, é quem trouxe a sugestão — escrever sobre o grande feito do fim de semana: o primeiro jogo de futebol profissional de primeiro escalão masculino apitado por uma mulher. Mais precisamente na 27.ª jornada da Liga Portugal de 2025, no empate entre Casa Pia e Rio Ave. Me empolguei com a temática e resolvi aceitar o desafio, mas não fazia ideia de que este tema viria até mim de forma tão natural, ainda no mesmo fim de semana (então muito obrigada, Marta!). Aliás, ela não será a única Marta a deixar a sua marca neste artigo, mas logo vos conto o porquê.
Após decidirmos o tema, no dia seguinte, domingo, sem que os meus amigos soubessem da matéria que eu iria escrever, aconteceu o seguinte diálogo:
A televisão estava ligada, passava um jogo de futebol qualquer, quando um amigo comentou: “Tenho pena desta mulher”.
Olhei para o ecrã, que transmitia uma comentadora de futebol entre dois colegas homens.
Curiosa, perguntei: “Porquê?”
Ele suspirou: “As pessoas insultam-na muito na internet.”
Intrigada, insisti: “Mas porquê?”
E ele, como se fosse evidente, respondeu: “Ora… porque ela é mulher”
E continuou a ver o jogo e a conversar com os outros amigos.
O comentário ficou no ar, como se fosse apenas mais uma lamentação, mas a verdade é que ele traduz uma realidade persistente: ainda há quem veja a presença feminina no futebol como uma exceção e não como parte do jogo.
Não é novidade que a igualdade de género ainda tem um longo caminho a percorrer em diversas áreas. Para impulsionar avanços nesta questão, a ONU incluiu na Agenda 2030 um Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) dedicado à igualdade de género. Embora tenhamos assistido a progressos em diferentes setores, o futebol continua a carregar o peso de uma estrutura historicamente masculina.
No entanto, tivemos motivo para celebrar neste fim de semana, afinal, Catarina Campos escreveu o seu nome na história ao tornar-se a primeira mulher a arbitrar como juíza principal um jogo profissional de futebol masculino na primeira Liga Portugal.
A conquista da arbitrá Catarina não é apenas um marco, mas uma prova das dificuldades que as mulheres têm enfrentado para se fazerem notar no desporto há tantos anos.
Alguns dados evidenciam esses desafios. Em Inglaterra, por exemplo, as mulheres recebem um salário 52 vezes inferior ao dos homens no futebol. Na Liga dos Campeões, um dos maiores campeonatos do mundo, a equipa masculina vencedora leva 20 milhões de euros em prémio, enquanto a equipa feminina campeã recebe apenas 350 mil euros.
Mas essa diferença também atinge o salário das atletas.
Conhecida como a rainha do futebol, Marta Vieira dos Santos acumula uma impressionante coleção de títulos, incluindo o prémio de melhor jogadora do mundo seis vezes, enquanto Cristiano Ronaldo cinco vezes. No entanto, o seu salário equivale a apenas 1% do jogador Neymar, que nunca foi premiado como o melhor jogador do mundo.
A boa notícia é que nos últimos anos, Marta tem sido uma das principais vozes a defender a igualdade de género no desporto, assumindo o papel de embaixadora da boa vontade da ONU Mulheres e trabalhando para empoderar e encorajar as mulheres no desporto. E a outra boa notícia é que Catarina agora abre portas para que outras mulheres também assumam essa função em jogos no mundo todo.
O futebol masculino evolui há mais de um século com investimento, visibilidade e estrutura. O feminino, por sua vez, ainda luta por espaço e reconhecimento. Mas momentos como o protagonizado por Catarina Campos mostram que a mudança está em curso.
E nós, enquanto amantes do futebol e do desporto, também podemos fazer parte dessa transformação. E assim como a Marta – nossa diretora do jornal – me lançou um desafio, agora é a minha vez de vos deixar um:
Que tal acompanhar mais jogos do futebol feminino?
Escolham uma equipa para apoiar, conheçam a sua história, sigam-nas nas redes sociais. Pequenas ações fazem uma grande diferença para equilibrar este jogo. E a vossa torcida também!
A minha equipa do coração é o Corinthians, que está entre as melhores do mundo na modalidade nos últimos anos. E a vossa?
A autora escreve em português do Brasil
Este artigo é da pura responsabilidade da autora, não as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Escrito por: Amanda Dechen
Editado por: Marta Neves


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