Muitas vezes vemo-nos gregos para lidar com os altos e baixos da faculdade. Só a viagem até ao ISCSP deixa-me de cabelos em pé. Onde, depois de muito suor, sangue e lágrimas, o 771 chega ao Polo da Ajuda. As aulas então… venha o diabo e escolha.

A matéria até parece canja, no entanto, ao ouvir o professor percebemos que estamos feitos ao bife. Vamos só à aula marcar presença, porque não aquece nem arrefece. Mas nem 8 nem 80. Mesmo que coloque o dedo na ferida, sabemos que temos de arregaçar as mangas e queimar as pestanas (pois aqui ninguém tem as costas quentes). É hora de meter as mãos na massa e matar dois coelhos com uma cajadada só.
Talvez tenhas encontrado algo interessante no texto até agora, que te deixou com a pulga atrás da orelha. As nossas queridas expressões portuguesas estão em todo o lado, e são mais que as mães. Apesar de não estarem presentes nos textos académicos, elas representam a cultura do nosso país, sobrevivendo continuamente ao teste do tempo, numa linda demonstração de apreço pela História.
Mas há expressões do arco da velha, que mesmo que demos tudo por tudo (e até depois de dormirmos sobre o assunto), ficamos como um burro a olhar para um palácio: não compreendemos a sua origem ou significado.
Ora, os ditados e expressões populares fazem parte da identidade do povo português, carregando consigo séculos de sabedoria, costumes e crenças. Temos dizeres ligados à agricultura, “Quem semeia ventos colhe tempestades”, outras à navegação, “Ficar a ver navios”. Consequentemente, graças ao contato com outras culturas, também algumas preconceituosas como, “Ficar com os olhos em bico” ou “Judiar”. Muitas possuem significado religioso, como “Não saber da missa à metade”, “Vender a alma ao diabo” ou ficar “Ao Deus-dará”.
Apesar da dificuldade em identificá-las no tempo, a origem de algumas ficou documentada. O “ Há grande e à francesa”, remonta ao início do século XIX, por conta do modo de vida abundante e luxuoso do ajudante de Napoleão, Jean Andoche Junot, que passeava vestido de gala por Lisboa durante a primeira Invasão Francesa. Ou “Rés-vés Campo de Ourique”, que tem sua génese em 1755, quando o terramoto devastou Lisboa, destruindo a cidade até à zona de Campo de Ourique, que ficou intata.
Outras são mais literais como, “Quando o Rei faz anos”, que significa esporadicamente. Outras mais bizarras, como engolir sapos, troca tintas, meter o bedelho, partir o coco a rir, cor de burro quando foge ou, a minha favorita, ou sim ou sopas.
Todos sabemos que aconselhar alguém a não subestimar o perigo ou exclamar “Fia-te na virgem e não corras”, não tem o mesmo impacto. Muitas vezes recorremos a estas expressões para transmitir, com clareza, a nossa ideia, como dizer de cor e salteado, dor de cotovelo, não ter vergonha na cara, perdido por 100 perdido por 1000, ou bater no ceguinho.
E como quem não quer a coisa, dei-me ao luxo de escrever esta jenga jenga, para colocar em pratos limpos a importância de olharmos para a língua portuguesa como o legado que todos nós carregamos, preservando a memória e a nossa forma única de interpretar a vida. Mas cada um sabe de si, e Deus sabe de todos.
Este artigo é da pura responsabilidade da autora, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Escrito por: Sara Reis
Editado por: Sofia Isidoro


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