Depois dos Óscares: o que fica do cinema de 2024?

Escrito por

A temporada de prémios do cinema chegou ao fim, no início do mês de março, com a 97ª gala dos Óscares a acontecer mais uma vez no Dolby Theater, em Los Angeles.

Entre as várias polémicas; nomeações adiadas pelos fogos que assombraram Los Angeles; e o fenómeno “Ainda Estou Aqui”, que levou milhares de brasileiros a inundarem as caixas de comentários de todas as premiações, 2024/2025 ficará certamente marcado como uma das mais conturbadas, porém memoráveis temporadas de prémios da história do cinema.

Mas em termos cinematográficos, o que fica do cinema de 2024? A meu ver, são vários os filmes que merecem perdurar no tempo, como clássicos instantâneos, filmes de culto, ou até mesmo como filmes de conforto. E é por eles que viajo neste artigo.

Escrevi uma crítica a 6 de novembro no meu Letterboxd (rodrigocaeiro, para quem tiver interesse) com a seguinte frase:consigo não só ver Anora envelhecer muito bem na temporada de prémios, como estou de facto a torcer por ele. Bem, Rodrigo de novembro, estavas com pontaria! Posto isto, é inevitável começar pelo grande vencedor da noite: Anora.

“Anora” conta a história de Ani, uma stripper de Brooklyn, que conhece e casa impulsivamente com o filho de um oligarca russo que conheceu no “club” onde trabalha. É um romance improvável, uma espécie de “Pretty Woman” com a história da Cinderela, mas com alguma profanidade à mistura.

O filme dá o seu pontapé de saída num dos primeiros atos mais sensuais e entusiasmantes do cinema, e rapidamente se desenvolve de uma comédia romântica “superficial” para um drama intenso sobre luta de classes e jogos de poder. Agarrou-me do início ao fim, com o seu humor muito próprio, performances excecionais e final emocionante. É um filme muito bem conseguido, graças a todos os envolvidos, mas principalmente pela atuação ousada e cativante da protagonista, Mikey Madison. Que Hollywood a torne na estrela que merece.

A Verdadeira Dor começa quando dois primos americanos embarcam numa viagem à Polónia para homenagear a sua falecida avó. A aventura é atribulada, desafiando a relação entre eles e trazendo tensões do passado que ficaram por resolver.

É uma história relativamente simples, à partida, mas é na sua simplicidade que mora a sua perfeição. Traz temas muito importantes para a mesa, de forma bastante sensível, adicionando-lhe as camadas necessárias e tornando-o num dos filmes com maior inteligência emocional que já vi.

Ainda estou aqui foi o que dissemos todos, quando nos perguntaram onde estávamos enquanto rolavam os créditos. Estávamos na sala de cinema, colados à cadeira e a limpar as lágrimas. Foi o meu filme preferido de 2024, o que é curioso, porque se tornou o meu filme preferido de 2024 não enquanto o assistia, mas precisamente enquanto não o assistia. Enquanto pairava na minha cabeça por mais dias do que aqueles que posso contar e enquanto cada detalhe do filme se tornava mais bonito cada vez que o revisitava nas minhas memórias.

Como dizia no início, foi um fenómeno, um sucesso mundial, como poucos se viram em filmes de língua não inglesa. Está carregado de sentimento, de mensagem e temáticas bastante atuais (infelizmente), e de talento! Nunca é demais destacar a prestação exímia de Fernanda Torres, e a não menos brilhante realização de Walter Salles. Bravo!

A Substância é um monstro de filme. Não é o meu género, nem de perto nem de longe… mas é uma lufada de ar fresco que era necessária na indústria do cinema. É, do ponto de vista técnico, um dos mais notáveis do ano; e que o guião é extremamente original, isso ninguém lhe tira.

Escrito, realizado, produzido e montado pela ainda novata Coralie Fargeat, “A Substância” traz uma Demi Moore renovada, na pele de Elisabeth Sparkle, que se tornará certamente numa das suas mais memoráveis performances, merecedora de uma nomeação pela Academia (continuo ainda assim a preferir a Mikey ou a Fernanda, mas a Demi está excecional).

Wicked levou-me numa jornada imersiva que nunca esquecerei. Cynthia Erivo e Ariana Grande estão absolutamente brilhantes nesta adaptação do musical de sucesso da Broadway (inspirado no universo de “Dorothy e o Feiticeiro de Oz”) e a química entre as duas é absolutamente cativante, sem esquecer as suas vozes. Meu deus!

É um musical muito bem elaborado que nunca nos deixa de emocionar e fazer nos sentir parte dele. Uma experiência avassaladora que, a meu ver, merece todo o hype. “Wicked” é um dos filmes do ano, e mal posso esperar pela parte 2.

Por fim, outros destaques da temporada vão para Conclave e O Brutalista, dois filmes que ainda não tive a oportunidade de assistir – nada cinéfilo da minha parte, eu sei – mas quero muito vê-los e acredito que sejam grandes filmes.

Ainda tenho muita coisa por ver, é verdade, mas do que vi, ainda que não atinja o brilhante 2023 (com um “Oppenheimer”, “Pobres Criaturas”, “Anatomia de uma Queda” e tantas outras pérolas), 2024 foi um ano composto para o cinema, com sucessos inesperados e momentos inesquecíveis.

Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados

Escrito por: Rodrigo Caeiro

Editado por: Pedro Cruz

Deixe um comentário