Nos últimos anos, o populismo tornou-se num fenómeno central para a discussão sobre a crise da democracia representativa. Este conceito, frequentemente usado para descrever movimentos políticos de cariz maioritariamente de direita, mas também de esquerda, está associado a uma oposição entre “o povo” e “a elite”.
O conceito de populismo é extenso e interpretado de diversas formas, mas a abordagem de Cas Mudde destaca-se como uma das mais influentes no mundo académico. Segundo Cas Mudde, o populismo é uma “ideologia de baixo teor” que divide a sociedade em dois grupos antagónicos, o “povo puro” e a “elite corrupta”, que se entende como sendo o Estado, as elites económicas, os partidos e outros atores políticos. Esta divisão, que está sempre presente no discurso populista visa abordar questões que são complexas, e resolvidas facilmente, pelo menos de forma teórica.
Outra forma de olhar para o termo, é a de Ernesto Laclau, que diz que o populismo é uma tese que surge em momentos frágeis e de crise institucional, nomeadamente quando os mecanismos tradicionais tendem a falhar e não dão respostas às exigências sociais. Neste sentido, o populismo não é necessariamente antidemocrático, como se advoga nos dias de hoje, mas segundo Laclau pode servir como um mecanismo de mobilização e inclusão política.
A democracia representativa tem enfrentado vários desafios nas últimas décadas, nomeadamente o aumento da desconfiança nas instituições democráticas, a perceção de distanciamento entre os eleitos e os eleitores, e a crescente influência de interesses económicos sobre a política, motivos estes que perpetuam o crescimento do populismo. Para justificar a retórica anteriormente mencionada, as “elites corruptas”, os populistas baseiam-se na tese de Colin Crouch, que afirma que vivemos numa era de “pós-democracia”, onde os processos eleitorais continuam a existir, mas o poder efetivo reside nas mãos de elites económicas e burocráticas.
Assim debatemos-mos com um dilema, o populismo é um risco ou uma oportunidade de salvaguardar a democracia representativa? Autores como Müller, argumentam que o populismo é intrinsecamente antidemocrático, pois tende a rejeitar o pluralismo e a deslegitimar opositores políticos, promovendo uma visão exclusiva de representação.
No entanto, outros, como Chantal Mouffe, defendem que o populismo pode ser uma forma de revitalização democrática, ao dar voz a setores marginalizados e desafiar o status quo das instituições tradicionais.
Independentemente da perspetiva adotada, é inegável que o populismo constitui um desafio significativo para a democracia representativa. A sua ascensão revela falhas estruturais nos sistemas políticos e exige respostas que não passem apenas pela sua rejeição, mas pela reforma das instituições democráticas para uma maior inclusão e representação efetiva dos cidadãos.
Em suma o populismo e a crise da democracia representativa estão profundamente interligados. O primeiro emerge como uma resposta às falhas da segunda, mas pode também contribuir para a sua erosão. A solução para este dilema passa por um reforço das instituições democráticas, maior transparência e participação por parte dos cidadãos, garantindo que a democracia representativa continue a ser um modelo político válido e eficaz no século XXI.
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Escrito por: Pedro Roano
Editado por: Marta Neves


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