Eu sei que o homo sapiens sapiens não evoluiu uma vida inteira para ver um meia-leca, de sapato e gola alta, armado em escritor do séc XVIII, a romantizar um pudim que leva dois scoops de whey. Porém, aqui estou.
“Quê? Whey?” Sim, caro leitor, que pode ter entre 50 a 70 anos, ou então vive debaixo de uma pedra desde há uns anos para cá – ou então simplesmente não sabe mesmo o que é e também é legítimo o desconhecimento. Se assim for, desculpe, desde já, toda esta agressividade emocional que acaba por criar um aparato sentimental dramático e desnecessário. O meu perdão.
Whey é o conteúdo, pudim proteico é o produto. Um bocadinho como um pedaço de mármore e o David: mármore era o conteúdo, o produto é um homem todo maçudo, com uma pose sexy despreocupado, sem qualquer vestígio de roupa interior, e que segura ao ombro uma pedra, que neste contexto, se entende como um haltere de 42 kilogramas.
Um pudim proteico introduz-se, assim, como uma sobremesa fit. Apresenta-se em vários sabores, mas continuo sem perceber como é que é tão doce. É mesmo real? É mesmo um pudim com proteína? Porque quando imagino um pudim com proteína penso num pudim flan – daqueles que só a restauração portuguesa bem sabe preparar -, com um bife de frango espetado lá no meio, e se vasculharmos bem, ainda encontramos lá no meio uma canja, um bitoque médio mal passado ou um daqueles novos adolescentes loucos por comer um mamífero vivo.
Mas está tudo tão bem preparado, tudo tão bem fechadinho. Numa embalagem que, provavelmente, está a reproduzir micro-plásticos horripilantes, que se preparam para a viagem do século até ao Alentejo do ser humano. Que se preparam para se alojar nos Alpes Suíços do indivíduo, caso este coma um pudim e mergulhe nas profundezas mais profundas do sofá. Que se preparam para uma travessia, longa e obscura, separando-se assim, para sempre, do primeiro amor.
A verdade é que, apesar de todo o amor superficial da parte dele, eu gosto de um bom pudim proteico. Sabe-me mesmo bem. Especialmente quando, em vez de comer um tiramissu, um bolo de bolacha com personalidade amanteigada ou um bolo mesmo rasco de supermercado – tudo para saciar o vazio existencial -, posso comer uma coisa que se entende como sobremesa, é para os “fit” e tem “pudim” no nome. Toma! Vai buscar obesidade! Não é desta que me apanhas! Achavas que por andar a enfardar pudins que eu ia engordar, queres ver? Lol. E a quem tentar, por motivo algum, derrubar este momentum de felicidade fitness e de escape à realidade, eu apenas direi a seguinte frase:
“Ó amigo, um pudim proteico por dia, nem sabe o bem que lhe fazia”.
Este artigo é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus aliados.
Escrito por: João Rui
Editado por: Marta Neves


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