Esta é uma pergunta frequente na vida dos estudantes desta disciplina, dos seus profissionais e docentes. O que é a Sociologia e o que faz um sociólogo? Desabafo ter respondido a esta pergunta inúmeras vezes, mesmo me apresentando apenas no primeiro ano da licenciatura. Parece uma pergunta básica, mas a resposta revela-se deveras complexa.

No primeiro dia de universidade, uma das tarefa dos meus Professores foi, de facto, responder exatamente a estas questões. E devo dizer que os sociólogos engendram maneiras perspicazes de explicar a sua área de trabalho. Um professor meu, na primeira aula de apresentação da disciplina perguntou: “O que é que as pessoas fazem quando entram num elevador?”. Sentiu-se no ar confusão a pairar na sala.

Uma Professora, numa outra faculdade onde estive, que graças a uma frase que dizia em média 3,7 vezes por aula, lhe apelidei de “Professora Incômoda”. “A Sociologia incomoda!” ou qualquer outra variação, foi a sua maneira predileta de explicar o que era a disciplina. Outra Professora explicou que serve para mudar o mundo.

Com tudo isto em mente: será então a Sociologia uma ciência tão complicada que nem os seus profissionais conseguem explicar para quê que ela serve?

Segundo um artigo dado em aula, de nome “O que é Sociologia”, o autor escreve, “Um dos objetivos centrais da sociologia é, precisamente, o de procurar explicitar e decifrar a gramática da vida social.”, Costa, António Firmino pág. 17. Mas talvez esta citação não seja elucidativa o suficiente. Segundo o autor (e precariamente explicando para este artigo permanecer com a sensação que foi escrito em português) ninguém se vira para um estudante de medicina e pergunta “Mas desculpa lá. Para que serve o teu curso afinal?”, pois todas sabem que estes, um dia, serão médicos. Então, o problema não é a resposta, é a pergunta em si. Pois, segundo o autor, talvez ao realizar estas perguntas, semelhante ao que acontece com os estudantes de Sociologia, também estes não iriam propor respostas satisfatórias.

Porquê que nos questionam o que é a Sociologia?

Dando uma aula rápida e não secante de História, a disciplina só viu a sua institucionalização em Portugal depois do 25 de abril de 1974. Com isto, o que a minha Professora afirmava sobre a Sociologia incomodar é, de facto, verdade. Esta ciência incomodava o regime salazarista. Mas porquê?

Com os seus estudos, teses e teorias esta possibilitou grandes mudanças na sociedade portuguesa, através de alterações nas políticas públicas. Implementou leis que salvaguardam os nossos direitos até aos dias de hoje, como o crime de violência doméstica, que se tornou um crime público, onde qualquer pessoa pode denunciar. Tem, então, como principal objetivo tornar a sociedade mais justa e melhorar a vida das pessoas. Com isto, e relembro a explicação da Professora, a Sociologia muda o mundo. 

Falta perceber o que as pessoas fazem quando entram num elevador. Parece uma pergunta bizarra e individual.

Um dos objetivos da Sociologia é ver além do óbvio. Questionarmos as razões por trás dos acontecimentos (fenômenos sociais) e organizações (instituições), contrapondo o senso comum. Ora, o estudo e investigação científica, servem exatamente para responder, com objetividade, à pergunta do meu Professor. Nós resguardamo-nos num canto do elevador para diminuir o contacto com os desconhecidos com quem partilhamos aquele espaço apertado. Esta ação, por outro lado, não será claramente verdadeira em todas as culturas. Porventura, o comportamento daqueles que frequentam elevadores pode não ser uma das maiores questões sociológicas da modernidade, mas o importante é desenvolvermos estas interrogações.

Talvez graças ao objeto de estudo tão vasto da Sociologia, adicionando a familiaridade com os termos e a sua tardia institucionalização e aceitação na sociedade portuguesa, resulta nesta desconfortável pergunta que não quer calar, ainda nos dias de hoje: O que é Sociologia?

Este artigo é da pura responsabilidade da autora, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.

Escrito por: Sara Reis

Editado por: José Pereira