Poetas de rua

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Há poesia onde menos se espera. Esconde-se nas esquinas das cidades, nas paredes manchadas pelo tempo, nos cadernos que passam de mão em mão sem nunca ganharem capa e nos bancos de jardim onde, quem se senta, tem a oportunidade de ser audiência.

Os poetas de rua não escrevem para as grandes salas, para os livros; nem sequer para o amanhã.

Escrevem, antes, para o agora – para o vento que leva as palavras, para os olhares distraídos que passam e para aqueles que, nem que seja por um segundo, têm a coragem de ver ou ouvir o que há para dizer.

Estes poetas são mestres da efemeridade. Pintam versos em muros que podem ser apagados mas que, enquanto existem, têm o poder de mudar quem os lê.

Pensando melhor… a poesia de rua é, na verdade, uma rebelião contra o efémero. As cidades mudam, as paredes caem, os bancos de jardim são repintados, mas os poetas continuam a escrever. Sabem que o que fazem é transitório, mas talvez seja precisamente isso que torna o seu trabalho tão humano.

Pensemos num poema que já vimos ao passear nas ruas de uma grande metrópole portuguesa, uma frase pequena mas marcante. Talvez já não nos lembremos da parede onde estava, nem da cor das suas letras, mas recordamos as palavras – ficam connosco, como sementes plantadas sem aviso.

Mas quem são esses poetas? Aqueles que pintam os muros, que deixam bilhetes em cabines telefónicas, que cantam versos no meio da multidão? Nunca sabemos.

E talvez seja irrelevante sabermos.

Talvez o anonimato seja o maior presente que os poetas de rua nos oferecem. Não escrevem para si, mas para os outros – para quem cruza a rua, para quem se perde na tal cidade, para quem precisa de encontrar algo, mesmo que ainda não saiba o quê.

Talvez, no fundo, sejamos todos uns pequenos poetas de rua, cheios de palavras que querem sair e que nem sempre encontram o seu lugar.

Mas não importa onde escrevemos, nem a quem dizemos estas tais palavras. Importa que, acima de tudo, tenhamos o arrojo de nos deixar ser ouvidos – mesmo que ninguém saiba o nosso nome; mesmo que as nossas palavras sejam levadas pelo vento ou apagadas pelo tempo.

Hoje, no Dia Mundial da Poesia, celebramos todas as palavras que, mesmo quando desaparecem, nunca deixam de existir.

A poesia está nas ruas, nos cantos, nas sombras – está em todo o lugar, mesmo quando tentam apagá-la.

Sejamos todos imortais. Sejamos todos poetas.

Escrito por: Rita Luís

Editado por: Marta Ricardo

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