A Balada da Rita nos Palcos – Peça de Teatro “Rita, põe-te em guarda”

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“Rita, põe-te em guarda” é um musical, produzido pela AçãoReação, que nos mostra um cenário antes da democracia que, talvez não ironicamente, se assemelha aos nossos tempos. Esteve em cena entre os dias 22 de fevereiro e 2 de março, no Auditório Camões, em Lisboa. 

Revolução, passado, atualidade, Sérgio Godinho e Beatriz Terras.

Estas são as palavras e nomes que descrevem o teatro musical “Rita, põe-te em guarda”, que o Jornal desacordo teve a oportunidade de assistir, no passado dia 21 de fevereiro, ao seu ensaio geral. Esta peça conta com músicas de Sérgio Godinho – que por si só contam várias histórias – e com a incrível interpretação de uma das personagens protagonistas, Julieta, pela nossa colega iscspiana Beatriz Terras.

Teatro “Rita, põe-te em guarda”. Fonte: AçãoReação

O teatro foca-se na história de quatro mulheres, no período antecedente à Revolução dos Cravos, e nos desafios que estas enfrentaram num regime ditatorial opressivo, que as privava de ser quem eram. Rita, Lena, e Julieta são expostas à relação abusiva com o seu patrão, ficando amarradas ao trabalho na fábrica; enquanto Eunice vai balançado o trabalho no café que as outras frequentam, com o papel de cuidar da mãe. A Rita, supervisora da fábrica, é de certa forma uma conformista revolucionária. Entende que a mudança é necessária, mas tem medo das consequências que a luta por essa mudança lhe podem trazer. Lena veio do Algarve para Lisboa em busca de uma vida melhor. Encontra o amor, na capital, num jovem comunista; mas acaba por descobrir a razão porque Rita se conformava com a situação. Eunice é a jovem mais destemida das quatro. Entende os perigos e as consequências e, mesmo assim, decide enfrentar o regime opressor. Julieta, brilhantemente interpretada pela iscspiana Beatriz Terras, é uma jovem que sonha ser fadista, mas que rapidamente se apercebe que os seus sonhos, não só são secundários à necessidade de lutar por um diferente regime, como são impossíveis sem esta. 

Abordando temas como a discriminação de género, a identidade de género, a luta pelos direitos civis, a violência doméstica e a liberdade – que agrega todos os anteriores -; faz-se um paralelismo entre o passado e a atualidade, sendo todos temas que persistem na nossa sociedade. 

Esta história apela ao nosso lado político, a uma mudança social e ao nosso lado mais revolucionário. Faz-nos lembrar, ou relembrar, que nada é garantido e que muito ainda está por fazer.

Este apelo foi complementado com as músicas de Sérgio Godinho, que representam hinos revolucionários, como “Que Força é Essa” e “Maré Alta”.

Contudo, esta é também uma história de amor – e de como este é condicionado em tempos de limitação da liberdade -, pelo que a discografia de Sérgio Godinho também não falhou, com músicas como “Noite Passada”, “Com Um Brilhozinho nos Olhos” e “Mudemos de Assunto”.

Este artigo é de pura responsabilidade do autor não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.

Escrito por: Miguel Mendes

Editado por: Marta Neves

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