Dia do Comediante: à conversa com Laura (Ahaha)

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Ontem, dia 26 de fevereiro, celebrou-se o Dia do Comediante e, para comemorar este ofício tão fundamental na nossa sociedade, o desacordo decidiu convidar para uma conversa amena a comediante de stand-up Laura Ahaha.

Fonte: New in Amadora

Laura é francesa, mas foi há 8 anos que decidiu fazer a sua vida na terra dos tremoços, da Super Bock e do João Baião. Após a sua mudança é que se começou a dedicar à comédia, mais especificamente ao Stand-Up Comedy, e ao longo destes anos já atuou em várias salas pelo país, no entanto a forma como tudo começou é algo caricata.

“Há 6 anos eu recebo uma chamada da produção de um programa e disseram-me que a Cristina Ferreira me queria convidar para fazer um programa com ela… E eu não sabia quem era a Cristina Ferreira (…) Ela precisava de uma professora de francês e me chamaram para dar uma aula a Cristina Ferreira. Então ela começa-me a pedir coisas “como é que se diz isto?” , “como é que se diz este palavrão?” e tudo isso. E eu fui para lá super à vontade, as pessoas começaram a rir e começou assim. Eu saí do programa, me ligaram da produção e me disseram “queremos que tu voltes mais uma vez esta semana”. E quando eu saí de lá, eu sabia que iria fazer uma coisa ligada à comédia, não sabia que era o stand-up (…) mas a partir daí eu disse “ok, vou escrever os meus textos e começar a subir aos palcos”, isto foi em abril de 2019 e tudo começou graças à Cristina Ferreira.”

Sentes que o teu sotaque alguma vez foi um entrave para fazeres a tua comédia?

“Não, é o contrário, é uma bengala. Às vezes não conheço uma palavra e torno a piada ainda mais engraçada, sinto-me muito mais viva a fazer stand-up em português porque tenho essa força que é, pronto, falar uma língua diferente.”

Tu já atuaste em várias salas do país, desde bares de comédia com vinte pessoas a assistir até programas da televisão portuguesa, como o Got Talent Portugal. Em qual é que te sentes mais confortável, num ambiente mais intimista ou numa sala grande com uma plateia imensa?

“Eu me sinto à vontade nos dois, desde que consiga criar uma emoção com o público eu me sinto bem, às vezes atuo no Lisboa Comedy Club e quando tu sabes que a tua energia não é boa e tu não te sentes à vontade, não vai correr bem. O meu objetivo é criar uma emoção quer seja uma sala pequena ou grande.”

Falando de maneira mais técnica, o stand-up, embora esteja a crescer exponencialmente a nível de popularidade, continua a ser visto apenas como entretenimento (que ele é) e não como arte. Porque é que as pessoas se sentem confortáveis para interromper o texto de um comediante, mas não o sentem num concerto ou numa peça de teatro?

“Eu acho que é porque o stand-up é um pouquinho uma arte de rua, há muitas pessoas que acham que as pinturas nas paredes das ruas não são arte, mas são. Por exemplo, nos Estados Unidos, o stand-up é visto como arte, porque a arte de rua tem uma grande importância, mas em Portugal acho que ainda é visto como uma coisa amadora. (…) As pessoas não têm consciência do tempo que demora a escrever uma piada. Veem muito o stand-up como uma arte leve, como se fosse uma pessoa que tem talento para contar piadas e sobe a palco como se fosse falar com os amigos, e não é bem assim. São muitas horas a escrever e a atuar para refinar o nosso texto.”

Laura, nós sabemos que as mulheres no humor são um bocado como os sorrisos na cara dos franceses, muitos escassos. No entanto, essa é uma realidade que tem estado a mudar bastante. Os franceses continuam a ser mal encarados, mas há cada vez mais mulheres a fazer humor em Portugal. Eu gostava de saber se tu te sentes de alguma forma responsável por fazer parte desta engrenagem.

“Então, em França é super comum ter uma mulher a fazer humor, então nunca me perguntei sobre isso. (…) Só quando eu cheguei a Portugal é que vi que isto era um assunto, as pessoas começaram a dizer-me que era muito difícil ser mulher e fazer Stand-Up mas eu nunca senti isso (…) Antes de ser mulher sou um ser humano, sou uma comediante. (…) Ou seja, se eu estou em palco e vou falar sobre ser mãe é claro que isso implica que eu sou uma mulher, mas fica por aí. Eu não concordo com as noites de stand-up só com mulheres, seria como fazer um especial de stand-up gay ou uma noite de comédia preta, é como dizer que nós sofremos de uma discriminação positiva. E isso pode gerar uma quebra entre homens e mulheres, afinal o riso é humano, seja de homem ou de mulher (…) Eu já fiz uma noite só de mulheres, mas não farei mais.”

No fundo, é isto. Conhecer um comediante além do que ele nos mostra em palco é uma ótima maneira de entender a comédia como arte e foi isso que a Laura nos mostrou hoje. Espero que tenham tido um Dia do Comediante repleto de gargalhadas, porque o desacordo certamente o teve.

Este artigo é de pura responsabilidade do autor não representando as posições do desacorodo ou dos seus afiliados.

Escrito por: Marco Morgado

Editado por: Marta Neves

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