A literatura é sem dúvida uma das mais belas formas de vivenciar diferentes emoções e descobrir novos mundos. Dono de uma sensibilidade admirável, Valter Hugo Mãe destaca-se como uma das principais figuras da escrita lusófona com dezenas de obras onde relata as mais humanas formas de viver. Perante a grande variedade da sua escrita, surge uma importante questão: Por onde começar a ler Valter Hugo Mãe?
A viagem pelo mundo de Mãe pode dar-se de formas infinitamente distintas merecendo todas as suas obras um momento de atenção especial, contudo, esta jornada pode tornar-se ainda mais apaixonante com alguma orientação e conhecimento acerca da sua arte literária.
Contos de Cães e Maus Lobos (2015)
Como livro de iniciação ao mundo do escritor, torna-se desafiante não mencionar “Contos de cães e maus lobos”. Publicada no ano de 2015, esta obra, como o próprio título indica, consiste num conjunto de pequenos contos que, pelas palavras do ilustre Mia Couto: ‹‹são para todas as idades e são feitos de uma esperança profunda››. Através de uma linguagem descomplicada e de um texto envolvente, Valter Hugo Mãe apresenta ao leitor temas como o amor, a família, a dor e a perda simbolizada, nomeadamente, pelo retrato inquietante da saudade deixada pela ausência de um abraço.
Deste modo, pela sua diversidade de conteúdos e, sobretudo, pela enorme sensibilidade na abordagem dos mesmos, “Contos de cães e Maus Lobos” é então, possivelmente, o melhor livro para mergulhar no mundo de Mãe.
As Mais Belas Coisas do Mundo (2019)
Num seguimento a estes apaixonantes contos e circulando à volta de uma temática semelhante, o livro “As mais belas coisas do mundo”, de 2019, apresenta-se como a continuação perfeita neste percurso pelo mundo literário do autor. Nesta obra de cerca de 48 páginas, o protagonista procura, a partir do abraço do seu avô, respostas para o vida, para as mais belas coisas do mundo, numa história intimamente comovente que expõe o leitor às mais diversas marcas deixadas pela sabedoria e amor incondicional dos avós.
A Máquina de fazer Espanhóis (2010) e O Filho de Mil Homens (2011)
Escolher entre criações como “A máquina de fazer espanhóis” ou “O filho de mil homens” para dar continuidade a esta espécie de “itinerário” torna-se quase impossível, uma vez que, ainda que sejam donos de temáticas distintas e muito próprias, ambas as obras confrontam o leitor com, sobretudo, duas realidades muito claras: a solidão e a vontade de amar por amar.
Publicado no ano de 2010, “A máquina de fazer espanhóis” é um texto incrivelmente humano, no qual Valter Hugo Mãe retrata de modo surpreendente a velhice, valendo-se de todos os fantasmas, memórias e a inocência que existe mesmo nos momentos mais tristes da vida de um “velho”. Passado, na sua grande maioria, dentro das extremidades de um lar, esta obra relata a vida de Silva, um homem consumido pela perda do seu grande amor e revoltado, pelo que é visto por ele como um ato de pura “crueldade” por parte dos filhos, ao o terem arrancado do lar que sempre foi seu, ainda numa velhice lúcida.
Por sua vez, “O filho de mil homens” do ano de 2011, através de uma capacidade poética magnífica, evidencia a solidão de uma forma mais lúdica ainda que igualmente humana, a partir da história de Crisóstomo, um pescador solitário que ao se dar conta da sua solitude, inventa uma família, num gesto que leva o leitor a crer que o amor possa, verdadeiramente, ser ‹‹sobretudo vontade de amar››.
O Paraíso são os Outros (2018)
Num momento já de algum entendimento relativamente à arte literária de Valter Hugo Mãe, torna-se clara a beleza e relevância de cada uma das suas obras, não sendo possível, portanto, apontar um último livro para encerrar esta jornada. Apresentamos, então, como última sugestão, uma obra com uma leveza similar à primeira obra mencionada: “O paraíso são os outros”.
A inocência de uma jovem menina, para quem o amor é um objeto de profundo fascínio e intriga, é a forma escolhida pelo autor para criar um retrato do mundo e conduzir o leitor pelas mais distintas histórias dos casais que englobam esta obra, sejam estes ‹‹casais de pessoas ou casais de animais››. A jornada de uma criança que inventa, de forma tão pura e genuína, a felicidade a partir daquilo que vê, inspira o leitor a repensar o que significa verdadeiramente amar e ser amado.
Escrito por: Matilde Courela
Editado por: Teresa Veiga


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