Todos os anos, milhares de alunos da União Europeia, e alguns fora dela, decidem fazer uso das oportunidades que o programa Erasmus+ oferece, deixando por uns meses o seu país de origem para ir estudar num vizinho. Neste último semestre, eu fui uma delas. Mas o que torna este programa tão popular e quais são os seus verdadeiros benefícios?

Como já referi, durante o primeiro semestre do meu segundo ano da faculdade desafiei-me a ser estudante de Erasmus na Alemanha, mais concretamente na cidade de Osnabruque, ou cidade da Paz, no noroeste do país. Podem estar a perguntar-se que razões me levaram a escolher a Alemanha, um país frio, tanto meteorologicamente como socialmente, ao invés de um sítio como Florença em Itália, onde as temperaturas raramente vêm acompanhadas de um sinal de menos atrás e a gastronomia consiste em mais do que apenas salsichas.
Não posso negar que a minha escolha não foi fácil (por estranho que pareça após a minha descrição dos dois lugares), pois embora racionalmente eu sentisse que, quanto mais “mediterrânea” fosse a minha mobilidade, melhor, algo me despertava interesse em estudar numa das nações pioneiras na área da sociologia. Posso dizer então que, para lá da oferta académica da universidade de destino, da cultura do país e da língua falada no mesmo, esta foi a motivação mais relevante no meu processo de seleção. Com isto, devo também dizer que é a partir do momento de escolha da universidade de destino que começa tudo a tornar-se cada vez mais real.
Fazer mobilidade durante os anos universitários é recompensador em inúmeros níveis. Para o propósito deste artigo, apresentarei os 4 pontos que considero mais relevantes e benéficos de acordo com a minha amadora experiência – Autonomia, interculturalidade, “networking” (ou relações sociais), e desenvolvimento de competências.
1. Autonomia: Não há como subestimar o crescimento significativo a nível pessoal que estudar no estrangeiro traz a qualquer um. Desde a gestão financeira à resolução de problemas de forma autónoma, a evolução que senti é, de facto, notória. Não consigo colocar por palavras o alívio e orgulho que senti quando consegui ir à Stadthaus/Bürgerservice resolver a questão do Anmeldung (que, na nossa língua nativa, significa registar a residência/morada fiscal na Alemanha num tipo de finanças) completamente sozinha num lugar onde a fluência em inglês é pouca, ou ter de ir ao médico e explicar através do tradutor os sintomas que tinha. Depois destes desafios, senti que estava pronta para lidar com qualquer coisa que a minha mobilidade me trouxesse!
2. Interculturalidade: Sempre que acho que já conheci pessoas de todas as nações do mundo surpreendo-me ao ouvir que a resposta à pergunta mais popular entre alunos que se estão a conhecer em mobilidade (“Where are you from?”) é, mais uma vez, a resposta que nunca imaginei ouvir – “I come from Iran!” (“Venho do Irão!”); “I’m from Kosovo!” (“Sou do Kosovo!”); “I’m Japanese” (“Sou Japonesa”). Nunca deixa de ser avassaladora, no sentido positivo da palavra, a sensação de ouvir que a pessoa que se encontra à nossa frente veio de um contexto tão diferente do nosso e, ao mesmo tempo, ser tão semelhante a nós.
As interações socias que experienciei com pessoas das mais diversas culturas e origens tornou este período o mais memorável possível. A importância da interculturalidade na superação de preconceitos globais é tão importante para acabar com certos estereótipos que cada um de nós possuí. A parte cómica, e até irónica, quando falamos em estereótipos é que, embora a generalização não reflita uma nação, quando em contacto com diferentes culturas a nossa identidade nacional é aprimorada. É extremamente interessante ver que o sotaque que tanto tentamos erradicar é, neste contexto, a característica que vemos com mais carinho.
3. “Networking” (ou relações sociais): Não só os choques culturais marcam a experiência, como também as mais diversas possibilidades que poderão passar pela nossa imaginação ao estabelecer relações sociais neste período. Quem sabe se a minha colega italiana da cadeira The Politics of Global Finance não será a próxima ministra das finanças de Itália. Interagir e relacionar com estas inúmeras possibilidades e futuras oportunidades é o que move a minha curiosidade em conhecer e estudar em contextos internacionais.
4. Desenvolvimento de competências: No fundo, todas estas mais-valias se refletem no desenvolvimento de diversas competências, tanto sociais como académicas. É através do estabelecimento de relações sociais, sejam elas de amizade ou apenas de trabalho, que a nossa capacidade de resolução de conflitos e o nosso sentido de empatia e solidariedade é elaborado. Não só é enriquecedor ouvir e testemunhar docentes convidados a falar sobre a sua pesquisa empírica em campos de refugiados, como o de Kakuma no Quénia, mas também ouvir o nosso novo colega Turco e amiga Sul-Coreana a celebrar as nossas conquistas.
Se há citação que define sem dúvida, a minha mobilidade, é a do vencedor do nobel da paz em ‘93 – As nossas diferenças são a nossa força enquanto espécie e enquanto comunidade mundial. E se ainda prevalecem dúvidas sobre se devem ou não participar no programa Erasmus+, não deixem que essas vos impeçam de aproveitar esta oportunidade marcante.
Este artigo é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Escrito por: Sofia Nave
Editado por: Matilde Bruno


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