Crónica: Tipos de Pessoas no Natal

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O Natal… Época de ter a família (quase) toda reunida à mesa a comer bacalhau com batatas e couves e com uma criança a chorar de fundo. Todos os anos há padrões que se repetem, quase como se cada um de nós tivesse uma função neste dia tão especial. Sendo assim, que tipos de pessoas há no Natal?

Fonte: Toma Conta

Só um pequeno aparte antes de continuar: inspirei-me tanto na minha vida pessoal, como em histórias de amigos, então tudo o que escrevi não significa que esteja associado a alguém em específico. São personagens meramente ilustrativas. 

Tia Gertrudes: a que pergunta “e como vai a vida amorosa?”

Há sempre aquele tio ou tia que faz esta pergunta. Porquê? Não sei, nunca entendi. Depois vem aquele momento constrangedor onde tens que dar uma resposta à tia Gertrudes. 

Se tiveres alguma coisa para contar, ou ela vai querer saber de todos os mais ínfimos detalhes ou então vai chatear-te o resto da consoada. Todavia, se a tua vida amorosa for tão excitante como a de um eunuco, então rapidamente te deixa em paz. Agora resta saber se lhe contas a verdade ou não…

Tio Horácio: o das piadas secas

O tio Horácio não é exclusivo desta época festiva. Na verdade, ele está presente em todas as épocas do ano: Natal, Ano Novo, Páscoa, Dia de Portugal, aniversário da avó… Há sempre alguém que acha as piadas o máximo enquanto o resto dos familiares os julgam. Se és um tio Horácio da vida, ficam aqui algumas piadas (secas) natalícias que já me contaram:

“Qual é o fenómeno meteorológico mais natalício? Rabanada de vento”

“Qual é a bebida favorita do Pai Natal? É o Gin-Gobel”

“Porque é que o perú fica revoltado no Natal? Porque ele faz a festa e a missa é do galo.”

“Onde é que o Ano Novo vem antes do Natal? No dicionário!”

Aposto que pelo menos uma pessoa riu a ler estas piadas… 

Bernardina: A que pergunta pelas notas

Estás muito bem sentadinho na mesa da cozinha, a comer uma fatia de bolo rei e queijo da Serra, quando aparece a Bernardina a perguntar “então e como foram as notas?”. A Bernardina pode assumir qualquer grau de parentesco e tanto pode ser alguém que genuinamente se preocupa contigo, como apenas uma cusca de primeira que só quer incomodar. Aqui há vários cenários que podem acontecer:

– O semestre correu lindamente, as notas foram maravilhosas e passaste a tudo à primeira. Mesmo aquelas cadeiras cuja classificação ainda não saiu, já sabes que vai ser boa;

– Estiveste quase a fazer rituais para passar às cadeiras, as notas não foram grande coisa, mas, pelo menos, não deixaste nada para trás. Se calhar vais a melhoria de nota;

– Fizeste 5 diretas, foste o consumidor do mês das máquinas de café, vendeste a tua alma ao diabo e mesmo assim chumbaste às cadeiras durante o semestre. Tens de ir a recurso a três cadeiras deste ano e duas do ano passado, mas está tudo bem, vais copiar do ChatGPT. 

Obviamente podes mentir forte e feio à Bernardina, caso não gostes dela. Afinal quem é que paga as tuas propinas? Com certeza não é ela. É Natal, ninguém leva a mal… (ou isso é no Carnaval? Bem, não importa).

Avó Lurdes e prima Clara: obcecadas pelas decorações de Natal

A casa da avó Lurdes já está naturalmente decorada com imagens de santos e crucifixos durante todo o ano. No Natal, o que ela mais gosta de fazer é montar o presépio. E nunca é um simples, só com as figuras principais. O presépio da avó Lurdes tem todas as figuras que estiveram presentes no nascimento de Jesus e ainda outras: casinhas a fazer de aldeia, muitos animaizinhos, aldeões, moinhos… 

Depois há a prima Clara que tem 6 anos e adora encher a árvore de Natal com luzes, fitas, bolas, pinhas, estrelas, laços, neve, o desenho que pintou na escola, o gato, o periquito do vizinho, tudo o que der para pendurar nos raminhos da árvore. A Clarinha também gosta de brincar no presépio às escondidas da avó Lurdes… Inclusive, se tiverem uma Clara em casa, vão ver se ela não colocou um unicórnio no lugar da vaca no presépio. 

Vitor: o responsável pela secção infantil

O Vitor tem muita paciência para as crianças da família. Quando se dá conta, já está a levar os putos todos ao jardim para brincarem. O Vitor também não tem um grau de parentesco em específico: pode ser tio, primo, avô, pai, irmão, padrinho, vizinho do 2º esquerdo… 

As crianças divertem-se muito com o Vitor e ele com elas… Até um cair de cara no chão, começar a chorar e a chamar a mãe. Nesse momento, o Vitor quer desaparecer da face da Terra. 

Tia Lúcia: a que leva os doces

A tia Lúcia é um anjo na Terra. É ela que chega na tarde da consoada com o carro cheio de bolos, doces natalícios e caixas de bombons para toda a família. São sonhos, rabanadas, filhoses, biscoitos, broas, coscorões… Basicamente, um camadão de diabetes, colesterol e hipertensão. Ela sabe que nem toda a gente gosta de bolo rei (injustiçado!), então dá-se ao trabalho de levar também um bolo rainha. 

Escusado será dizer que tudo o que ela traz desaparece em três tempos, sobrando apenas meio bolo rei e passas. E migalhas. 

Pilar: a que diz “fatias douradas” em vez de “rabanadas”

Se fores do sul, a Pilar é só mais uma prima. Se fores do norte… Ninguém te suporta, Pilar.

Rute e Luís: os que montam os presentes das crianças

A Rute e o Luís também não têm um grau de parentesco específico. Eles são os Manny Mãozinhas dos brinquedos. Ajudam as crianças a tirarem as vinte presilhas que estão a segurar o boneco, lêem as instruções, ensinam os putos a usar o novo brinquedo sem o estragar em cinco minutos e são os únicos que se lembram de levar pilhas. 

O Vitor podia também fazer parte desta categoria, no entanto, ele provavelmente está a brincar com os presentes… Inclusive, diverte-se mais que os putos. 

Frederico: o que se veste de Pai Natal

O Frederico ou é o pai de uma das crianças ou então é o tio solteirão. É ele que todos os anos passa pela humilhação (ou não, ele deve gostar) de colocar uma barba branca, um fato vermelho, um saco cheio de prendas ao ombro e dizer “Oh Oh Oh! Feliz Natal!” Bem, pelo menos não tem de descer pela chaminé. O tio Horácio goza horrores com ele. 

Até que, num Natal, a Clara lembra-se de puxar a barba ao Pai Natal e descobre que aquilo tudo era uma mentira… É assim que se traumatizam crianças!

Se fores um Frederico da vida, prende a barba à cabeça com super cola, cuspe, qualquer coisa!

Vicente: o Rodolfo

O Vicente é o primo adolescente cuja puberdade o abençoou com uma borbulha gigante na ponta do nariz, exatamente na consoada. A Clara chama-o de Rodolfo e começam as criancinhas todas a cantar “O Rodolfo é uma rena, de nariz encarnado…” Lamento, Vicente… Já todos passámos por isso…. 

Quem és tu no Natal?

Boas Festas! 

Este artigo é da pura responsabilidade da autora, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.

Escrito por: Íngride Pais

Editado por: Marta Ricardo

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