O ModaLisboa, um dos maiores eventos de Moda em Portugal, já foi considerado, exclusivamente, um palco para estilistas de renome apresentarem e dinamizarem as suas criações inovadoras.
Hoje em dia, a plateia já não se limita apenas aos críticos de Moda e a jornalistas especializados. O evento tornou-se também uma montra para influencers digitais exibirem os seus looks e sentido de estilo. Estes criadores de conteúdo digital chegam munidos de milhares de seguidores e uma enorme capacidade de moldar as preferências dos consumidores em tempo real.
A questão que se levanta é: quem realmente define as tendências no ModaLisboa – os estilistas ou os influencers digitais?

O papel dos estilistas na criação e interpretação da Moda
Os estilistas, tradicionalmente, são os grandes responsáveis por ditar as tendências na Moda. Desde as suas coleções de passarela até ao design de alta costura, os estilistas possuem a visão criativa e técnica para transformar ideias e conceitos abstratos em peças que comunicam estilo, identidade e, muitas vezes, narrativas sociais.
O ModaLisboa, ao longo de todas as suas edições, tem sido uma plataforma para estilistas portugueses, como Gonçalo Peixoto, Luís Carvalho e Alexandra Moura, exibirem o seu talento a uma audiência global.
Para os estilistas, a Moda não é apenas um produto a ser vendido, mas uma expressão artística de tudo aquilo que querem mostrar. As suas criações são frequentemente inspiradas por temas que dominam a indústria atualmente.
No entanto, enquanto estes artistas podem lançar as bases de uma tendência, o seu impacto real, até recentemente, dependia da interpretação e popularização do que os críticos e a sociedade em geral diziam ser relevante, isto é, o que era mais apelativo para o público.

Influencers Digitais: Os Novos Formadores de Tendências
Enquanto os estilistas ditam as direções criativas, os influencers digitais são os que, atualmente, definem o que realmente será adotado pelas massas. Com o crescimento da relevância e influência das redes sociais, os influencers tornaram-se peças centrais na construção da Moda contemporânea. Em eventos como o ModaLisboa, estes ocupam a “primeira fila” digital, transmitindo ao vivo todas as suas impressões sobre o desfile, capturando detalhes e usando a sua visibilidade para legitimar ou rejeitar certas tendências.
Começa a tornar-se cada vez mais comum que as peças usadas pelos influencers nos eventos de Moda sejam as que “explodem” e se tornam virais, aquelas que todos querem comprar, dispersando a atenção das que são apresentadas pelos estilistas e que antes eram o foco central, e até o propósito, dos desfiles.
Porém, os influencers também comercializam as peças dos estilistas e funcionam como uma ponte entre as criações da passarela e o público-alvo. Com o seu alcance e a confiança que conquistam junto ao público, conseguem popularizar certas peças e tendências com uma rapidez admirável.
O que antes levava meses para sair do palco e chegar às lojas é agora instantaneamente exibido nas redes sociais. Pessoas como Mafalda Castro, Bárbara Inês e Sofia Coelho, que acompanham o ModaLisboa, podem transformar um simples story ou post num sucesso comercial imediato, aproximando o consumidor final da Moda que foi apresentada e suscitando interesse no trabalho do estilista.

Quem define o Futuro das Tendências?
Ainda que os estilistas mantenham o papel de criadores originais, a influência digital mostra que o poder de decisão sobre o que será amplamente aceite pela sociedade está cada vez mais nas mãos dos influencers. Mas isto também levanta questões: será que os estilistas estão a perder parte da sua autonomia e visão artística? E até que ponto a sua Moda se adapta à estética das redes sociais, onde peças mais “usáveis” e menos conceptuais ganham destaque?
Muitos estilistas já se adaptaram a essa realidade, aproveitando a visibilidade das redes para expandir o alcance das suas criações. Ao colaborar com influencers, os estilistas têm a oportunidade de ver as suas peças interpretadas no “mundo real”, o que pode levar à criação de linhas mais comerciais, mais acessíveis e mais interessantes para o público.
Ao mesmo tempo, alguns críticos alertam para o risco da Moda perder a sua essência tornando-se dependente das preferências das massas, que muitas vezes valoriza mais a estética visual do que a profundidade subjetiva dos conceitos vanguardistas da Moda.

Moda e Influência Digital – Um novo equilíbrio
No debate entre estilistas e influencers, o ModaLisboa evidencia uma nova sinergia entre a criação estilística e a influência digital.
Os estilistas continuam a criar as bases para a Moda, enquanto as redes sociais impulsionam o que será ou não adotado pelas massas. Neste sentido, o futuro das tendências provavelmente será definido por um equilíbrio entre ambos: uma colaboração onde a criatividade dos estilistas é enriquecida pelo poder de comunicação dos influencers.
Assim, o ModaLisboa torna-se não só num evento de Moda, mas num reflexo de uma nova era na qual a democratização da Moda e o diálogo entre tradição e inovação desafiam as convenções e revelam o que o público moderno realmente deseja ver e usar.
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Escrito por: Bruna Maia
Editado por: Pedro Cruz

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