Trânsito – hoje, acordei ontem

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Receber o horário da faculdade ou do trabalho é o equivalente, nos dias de hoje, a abrir o correio e encontrar uma carta a convocar-te para os Descobrimentos em 1427. Chegar a Lisboa às 8:30 implica acordar com três dias úteis de antecedência e enfrentar o Adamastor da IC19, o trânsito.

O que se segue é uma mensagem para todos os guerreiros que veem o nascer do Sol através de um para-brisas. Um espaço seguro, onde pretendo dissertar sobre este grande tema.

Posso não ser o condutor mais experiente, provavelmente estarei no top 2% da população de encartados menos qualificada para abordar este tema, tendo em conta que tenho carta há sensivelmente 9 meses. No entanto, como veterano da A5, senti-me no direito de falar.

Antigamente (o ano passado), não compreendia este flagelo. Aliás, encontrava, ao olhar de fora para a autoestrada, beleza nas longas filas de luzinhas. De um lado vermelhas, do outro amarelas, ou brancas. Sem óculos e com uma boa miopia, ainda mais belo se tornara. No entanto, sempre me intrigou.

Mas como começa? Parece um enigma que poucos ousam tentar solucionar… provavelmente tão, ou mais, misterioso que a construção das pirâmides do Egito. Os teóricos apresentam as suas hipóteses, no entanto, nenhuma me satisfez. Talvez a única explicação possível passe pela intervenção divina.

Os Deuses reuniram-se e decidiram enviar os 4 cavaleiros do apocalipse contemporâneos. Montados num Twingo, num Fiat 500 e num Clio de 2001, cada um na sua faixa e limitando a sua velocidade aos 12km/h – dão início ao seu plano vil. Quando a fila está criada, o quarto elemento surge, geralmente numa daquelas carrinhas brancas (que ninguém sabe o nome), trazendo consigo a buzina do apocalipse. Instalou-se o caos, pelo menos até às 10 da manhã.

Quando a distância percorrida equivale, em média, a metro e meio por hora, acompanhado de uma sinfonia de buzinadelas, dia após dia, todos nós (plebeus, meros mortais), sucumbimos à loucura.

Para finalizar, gostaria de, citando Martin Luther King (evidentemente traduzido para português), partilhar convosco a única coisa que me dá forças para sair da cama de manhã: eu tenho um sonho, sonho com o dia em que na rubrica de trânsito na rádio digam “Hoje? Hoje está tudo a andar!”… Que lindo.

Escrito na A5 (estava parado, não cometendo nenhuma contraordenação).

Disse.

Este artigo é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.

Escrito por: David Pereira

Editado por: Catarina Soares

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