Ajudar os outros sempre foi um princípio bastante vinculado na minha vida. Desde muito pequenina que transformei esta determinação numa atividade recorrente – o voluntariado. Verdadeiramente, não importa por quanto tempo é que alguém está próximo de uma realidade tão dura, porque vai ser sempre desafiante. Alguns dias correm melhor que outros, mas o amor, a alegria e a gratidão que circulam nestes momentos permanecem sempre connosco, completam-nos.
Para mim foi um longo processo de adaptação, como provavelmente deve ser para muitas pessoas. No início há sempre receio de não dizer ou fazer a coisa certa mas, com o tempo, aprende-se a aceitar a imprevisibilidade e a espontaneidade dos momentos. É difícil estar perto de realidades tão complicadas e injustas, mas é algo que todos devemos experienciar e, da forma que pudermos, aliviar o peso na vida das pessoas. A melhor parte de todo o meu processo foi, desde o início, sentir-me acolhida por todos. Especialmente por ser tão nova quando comecei, tinha aproximadamente oito anos quando fui com a minha mãe aos jantares comunitários pela primeira vez, sinto que moldou bastante a pessoa que sou hoje. Devo, assim, um agradecimento a cada uma das pessoas que me ajudaram e que fizeram este percurso comigo.
Na organização onde comecei e onde, até hoje, continuo a praticar voluntariado (Serve The City), há diferentes projetos que levam o espírito do serviço às diversas cidades. Em Portugal, a STC está presente em Lisboa, Porto, Oeiras e Coimbra, tendo também impacto fora do contexto português – mais de 80 cidades em todo o mundo. O principal objetivo desta organização é criar pontes através de ações de voluntariado, tornando a cidade mais justa, fraterna e solidária. As principais áreas de atuação enquadram-se nas temáticas de exclusão, da pessoa sem-abrigo, da pessoa idosa isolada, crianças e jovens em situação de vulnerabilidade, pessoas imigrantes ou refugiadas, entre outras.
Entre os diversos projetos em que a STC trabalha encontram-se a Academia da Mudança, Um Sem Abrigo Um Amigo, Jantares Comunitários e Ações de Voluntariado em Equipa, entre outros. Eu já participei em diferentes atividades organizadas pela Serve The City e é seguro afirmar que cada uma tem a sua importância e cada uma deixa a sua marca. Assim, conseguimos alcançar um maior número de pessoas e criar, cada vez mais, pontes entre pessoas, instituições e territórios, promovendo uma maior inclusão social.

Fonte: Própria
No contexto dos jantares comunitários, que é onde estou mais presente, o principal objetivo é criar espaços e momentos de encontro seguros e confortáveis, onde as pessoas, estejam em situação de sem-abrigo ou com-abrigo, possam partilhar uma refeição servida por voluntários de empresas, associações, escolas, comunidades de fé ou, até mesmo, grupos informais de amigos. Nestes espaços há diferentes equipas de voluntários de modo a que cada um possa escolher com a qual mais se identifica e para que os jantares decorram da maneira mais organizada possível. Eu comecei na equipa de voluntários que serve a comida às mesas e, atualmente, estou na equipa que acolhe. Apesar de ter experimentado quase todas as equipas e de, em qualquer uma delas, acontecer toda a magia dos jantares comunitários, a equipa que acolhe é o meu abrigo já há alguns anos. Esta equipa encarrega-se de garantir que tanto os voluntários como os convidados estão satisfeitos e que os jantares decorrem da melhor maneira possível.
Uma característica muito particular da Serve The City é que, em todas as suas iniciativas, à entrada, todas as pessoas são identificadas com o seu nome, sejam voluntários ou convidados. Portanto, dentro e fora daqueles espaços, todos nos conhecemos pela característica que mais nos identifica e nos distingue – o nome. Assim, somos capazes de criar relações próximas com qualquer pessoa e respeitar cada um daqueles indivíduos únicos. Desta forma, as diferenças entre quem ajuda e quem recebe a ajuda são postas completamente de parte, tornando assim a experiência ainda mais memorável para todos os participantes.
Nestes jantares comunitários partilha-se afeto e histórias de vida. É neste espaço onde nos conhecemos uns aos outros e onde todos partilhamos as nossas forças e as nossas vulnerabilidades. É onde muitos vão para ter uma companhia durante algumas horas do seu dia. É onde, num frio e chuvoso dia de inverno ou num abafado dia de verão, muitas pessoas encontram um abrigo, seja este material ou espiritual.
Voluntariado é uma experiência como nenhuma outra, é um sentimento incomparável. É saber ouvir e falar, mas também perceber quando o silêncio é a única resposta necessária. É saber quando um sorriso muda a noite de uma pessoa e quando um simples abraço ajuda a recarregar energias. É conhecer as caras que por nós passam e deixam a sua marca. É chegar a casa cansada sabendo que demos tudo o que tínhamos, mas que recebemos a duplicar. É bondade na sua forma mais pura. É a atitude humana mais simples e instintiva – ajudar o próximo. É um simples gesto que pode mudar o percurso da vida de alguém que apenas precisa de um apoio para o fazer.
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade dos autores, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Escrito por: Leonor Oliveira
Editado por: Pedro Cruz


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