No passado dia 6 de dezembro, a banda de hard-rock esteve pela segunda vez em solo português para divulgar o seu mais recente álbum, “Starcatcher”. O Jornal desacordo esteve presente e deixa-te uma apreciação crítica do concerto!

Durante o decorrer do concerto, o público pôde presenciar momentos a solo de cada um dos instrumentistas, maioritariamente quando o vocalista fazia as suas trocas de vestuário. Estes momentos deram oportunidade a que pudéssemos apreciar o talento de cada um deles com mais atenção e permitiram também observar com mais detalhe a sua musicalidade.
A sensibilidade de Sam
Ainda que, por vezes, os baixistas possam ser negligenciados por quem vê um espetáculo deste tipo, este não foi o caso. Sam não só é baixista como teclista da banda e em ambos os instrumentos este é tecnicamente e criativamente impressionante, tal como os seus companheiros. Como baixista faz um acompanhamento notável e não passa despercebido (ainda que possa não roubar tantas atenções), pois consegue construir o seu próprio espaço nas músicas.
Como pudemos ouvir, por exemplo, em “The Falling Sky” o baixo apresenta uma melodia de acompanhamento muito bem destacada e tem inclusive um momento de grande notoriedade juntamente com a harmónica, ainda que a sua presença não passe ao lado desde o início até ao fim. Como teclista, Sam demonstra a sua sensibilidade através das suas escolhas melódicas bastante agradáveis e sempre de encontro com a construção dos restantes instrumentos de forma sublime. Em “Light My Love“, pudemos ouvir a bonita melodia que o teclista fazia soar do piano.

O recatado, mas talentoso, Danny
Danny, mesmo sendo o mais novo, apresenta um grande talento para a bateria e claro, sem exceção, uma técnica espantosa. A sua demonstração a solo, a que assistimos embevecidos, foi uma prova do seu talento e da sua coordenação motora (bem apurada) com mudanças de ritmo e de intensidade bem combinadas, e um bom gosto nas escolhas melódicas.
O benjamim conseguiu construir um solo de bateria que nos transportou num caminho rítmico com momentos mais arrojados e outros momentos mais pausados: passávamos de um Danny “louco” de agitação e animação para um Danny que fazia sussurrar a sua bateria com batidas que progrediram do suave para o forte. O seu talento fez-nos movimentar o corpo ao ritmo da sua percussão e deixou-nos totalmente agarrados a acompanhar o seu solo. Tal como o solo de guitarra, este foi um dos mais longos do concerto com uma duração estimada de cerca de oito minutos.

Josh, o “Master”
Não podemos deixar de sublinhar as características extraordinárias de Josh, que como vocalista (e dos bons!), roubou as atenções da noite com os seus truques impressionantes, sem esquecer o grande momento em que apresentou as suas habilidades surpreendentes na harmonica. Destacamos as notas longas e constantes que segurava por períodos de cerca de 25 a 30 segundos, do seu assombroso alcance vocal, da sua criatividade melódica… Por outras palavras, do seu vozeirão e a sua capacidade aguçada de o utilizar para nos impressionar.
O vocalista tem, sem dúvida, uma técnica vocal exímia, graças ao seu trabalho e comprometimento em evoluir e aprender mais ao longo do tempo, mas também a um certo talento inato para a música. O seu controlo vocal demonstra que conhece bem a sua voz e trabalhou muito tempo nela para alcançar tal feito. Aguentar longas notas e constantes (sem vibrato ou eventualmente com vibrato no final) é difícil e exige um controlo do ar e da pressão do ar que sai ao cantar muito rigoroso.
Para além disso, há também: o seu alcance vocal é igualmente impressionante, conseguindo alcançar tanto graves densos como agudos magníficos; o seu estilo/personalidade única na forma como canta e como constrói as suas melodias que é surpreendente, quer pelas suas características tão distintas, quer pelo uso de distorções (feitas com a própria voz através de técnicas vocais como o drive, por exemplo) ou de uma espécie de eco natural como se a sua voz preenchesse o espaço facilmente; e ainda a sua expressão corporal e a forma leve e acolhedora com que interage com o público que também é de destacar.
Assim sendo, podemos dizer que Josh não só tem um poder vocal ao nível dos grandes vocalistas, como tem também uma presença de palco confiante e cativante que passa para o público.

O homem da noite não foi o vocalista!
Durante todo o concerto pudemos observar o grande talento de Jake e a sua técnica e destreza fantásticas na guitarra. Para além de tocar com alma e paixão, tem um bom gosto e precisão tremendas quando toca. Seja nas suas partes a solo, seja nos momentos em que está a acompanhar a música, a sua técnica tal como a sua criatividade nunca passam despercebidas. Sempre com um espírito muito brincalhão, divertiu o público com as suas provocações e ainda com um surpreendente momento em que tocou com a guitarra atrás da nuca.
Desta forma, ele foi sem dúvida uma das estrelas da noite, cativando o público que ficava deliciado e hipnotizado com a sua forma espetacular de tocar. O seu grande momento a solo de longa duração foi perfeito para vermos um pouco do que Jake é capaz de fazer com a sua guitarra. Percorreu aquelas cordas de forma estrondosa e apresentou-nos um solo arrebatador do qual não conseguimos tirar os olhos (e os ouvidos) de cima.
Ainda que, talvez, com duração a mais (um pormenor subjetivo), o gémeo de Josh conseguiu dar espetáculo, com um ritmo frenético bastante evidente. Talvez um pouco de moderação e mudanças de ritmo (pausas, abrandamentos de tempo) pudessem ter tornado aquele momento ainda mais esplêndido. O que é certo é que partiu a loiça toda!

Uma sugestão à equipa técnica…
O concerto foi magnífico, mas alguns aspetos técnicos como o nível de decibéis podiam ter sido melhor cuidados. O som estava, para quem se situava mais perto do palco ou das colunas, alto demais, o que causava um certo desconforto auditivo, principalmente nos momentos de maior poder sonoro (vocalista e guitarrista nas notas mais agudas), e tendo em conta que o espaço é fechado. Ainda que ao fim de um tempo o ouvido se habitue, o fim do concerto revela os sinais desta explosão sonora a que estivemos expostos.
O que podemos retirar deste concerto
Ao longo do concerto, havia uma atmosfera carregada de uma energia mística, leve e quase mágica, que conseguia transportar todos os ouvintes numa viagem lindíssima e fantasiosa, que de facto só foi possível graças ao elo poderoso que os quatro apresentam em palco.
Por mais que sejam preocupados até ao mais pequeno detalhe com toda a imagem que passam e com a construção e disposição estética do palco, a ligação que os músicos têm entre si e que vão demonstrando com gestos de amizade ao longo do espetáculo é o que fez com que aquele concerto fosse mais mágico ainda. Existe um respeito mútuo notório e espaço para todos brilharem e mostrarem o seu valente talento. Conseguimos prestar atenção a cada instrumento, cada contributo individual (mas em equipa ao mesmo tempo) de cada membro da banda. O vocalista, tal como o guitarrista, o baixista e o baterista, têm o mesmo espaço para brilharem e esse equilíbrio entre eles faz com que as suas músicas sejam generosas e satisfatórias de ouvir, com tanta riqueza em detalhes para apreciar. Tal faz-nos, assim, querer ouvir mais do que uma vez para podermos reparar em algo diferente de todas as vezes que ouvimos.
A magia que esta banda transporta para os seus concertos é o que permite criar assim um espetáculo verdadeiramente único, satisfazendo duplamente os fãs de um bom rock à anos 70. Como já todos sabemos ou devíamos saber, o rock não morreu e os Greta Van Fleet são prova disso.

Algo nos diz que ainda vamos ouvir falar muito neles no futuro…
Deixamos-te uma compilação dos melhores momentos deste concerto no nosso Instagram:
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade da autora, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Escrito por: Catarina Soares.
Editado por: Pedro Cruz

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