ISCSPoiler- Pobres Criaturas

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O cineasta de renome Yorgos Lanthimos, célebre pelas suas obras peculiares e instigantes como The Lobster (2015) e Dogtooth (2009) , volta a hipnotizar o público com a sua mais recente criação, Poor Things. Esta aventura cinematográfica, uma reinterpretação moderna do clássico conto de Frankenstein, mistura na perfeição o capricho de Tim Burton, a peculiaridade de Wes Anderson e o fascínio gótico de Guillermo Del Toro.

Lanthimos leva os espetadores numa viagem vívida e peculiar, onde personagens excêntricas, adornadas com trajes extravagantes, navegam em cenários que convidam o público a entrar num reino fantástico. Pobres Criaturas consegue um equilíbrio delicado entre o absurdo e o humor, ao mesmo tempo que mergulha em questões profundas sobre a existência humana, as alegrias da curiosidade e as complexidades do amor. Numa exploração subversiva dos papéis dos géneros e da sexualidade, o filme ecoa temas que fazem lembrar o aclamado Barbie deste ano.

O slogan do filme, “Ela é como nada que alguma vez tenha visto”, capta corretamente a essência do desempenho notável de Emma Stone como Bella Baxter. O retrato da personagem vitoriana por parte de Stone, navegando entre a infância, a adolescência e a maioridade, destaca-se como um dos desempenhos mais ousados e formidáveis da memória recente. Poor Things desenrola-se como uma fábula feminista excêntrica e provocadora, transcendendo as expectativas convencionais e assemelhando-se a uma odisseia épica grega tecida com maravilhas, sexo, beleza e feras.

A narrativa apresenta Bella Baxter, uma nobre vitoriana cuja vida sofre uma reviravolta inesperada quando, num momento de desespero, tenta suicidar-se quando está grávida de nove meses. O habilidoso cirurgião Godwill Baxter, interpretado por Willem Dafoe, testemunha a tragédia e decide realizar uma experiência única no feto de Bella, recrutando o seu aluno Max McCandles (Ramy Youssef) como assistente.

Bella, que agora vive como prisioneira na mansão Godwill, em tons de cinza, passa por uma jornada de crescimento e auto descoberta. Inicialmente comportando-se como uma doce criança dedicada a Godwill, Bella acaba por se rebelar, procurando a liberdade e a ligação com o mundo exterior. A narrativa dá voltas inesperadas à medida que as relações de Bella evoluem, levando-a a encontrar personagens coloridas como Duncan Wedder (Mark Ruffalo), Harry (Jarrod Carmichael) e Martha (Hanna Schygulla).

À medida que Bella navega pelo mundo, desafiando as normas sociais, o filme desenrola-se como uma história de resiliência, independência e crítica social. Desde a experiência da pobreza e da violência do mundo até à tentativa ousada de o melhorar, a viagem de Bella é simultaneamente desoladora e inspiradora.

O filme culmina com uma reviravolta pungente, revelando a doença terminal de Godwill. Bella, apesar do seu ressentimento inicial, perdoa-o nos seus últimos momentos. A narrativa explora temas de compaixão e empatia à medida que Bella, guiada por Max, abraça a sua nova paixão pela cirurgia. A conclusão do filme transforma a paleta cinzenta da mansão numa imagem vibrante, simbolizando a alegria e a paixão que substituem o passado assombroso.

No final, esta obra deixa uma impressão duradoura, não apenas como um filme visualmente deslumbrante e narrativamente rico, mas como uma exploração instigante da experiência humana. A visão única de Lanthimos, aliada ao desempenho corajoso de Emma Stone, faz de Poor Things uma experiência cinematográfica de destaque que desafia, provoca e, em última análise, cativa o seu público.

Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados. 

Escrito por: Cristina Cargaleiro

Editado por: Inês Reis

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