Lisboa Games Week a quatro olhos

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Entre 23 e 26 de novembro, decorreu na FIL (Feira Internacional de Lisboa) mais uma edição da Lisboa Games Week. O evento contou com a presença de várias personalidades da indústria do gaming, cosplay, cinema e televisão, entre outras atividades que se relacionam com este que é um dos mais expressivos eventos de videojogos e cultura pop do país. O Jornal desacordo marcou presença nesta LGW, realizando a cobertura do evento e fazendo algumas entrevistas aos principais intervenientes.

O evento

Foi possível encontrar uma grande diversidade de atividades e experiências, desde merchandising a jogos free to play, algumas destas:

  • bancas com produtos para venda (peluches, t-shirts, acessórios, entre outros);
  • bancas de universidades com as suas formações;
  • zonas dos e-sports da Omen (com competições de” League of Legends”, “Fortnite”, “FIFA”, “Counter Strike” – no grande palco com a final);
  • zonas de jogos diversos: Arcade Zone (com os retrogames), Board Games (jogos de tabuleiro), Nintendo com os novos jogos (“SuperMario Bros. Wonder” e “The Legend Of Zelda: Tears of the Kingdom”) e PS5;
  • a Loading Zone, área dedicada ao desenvolvimento de videojogos, com projetos indie de estúdios e programadores em crescimento;
  • zona do Museu Load “ZX” Spectrum (história dos videojogos);
  • banca da Nerdy Core Xperience.
Lisboa Games Week (Fonte: Catarina Soares)
Educação

A Lisboa Games Week, como prometido na apresentação, contou com uma forte ligação com a educação através de uma parceria com a Microsoft. Existia uma zona para os alunos de várias escolas do país poderem experimentar atividades relacionadas com o gaming, programação e robótica. O objetivo foi incentivar as escolas em questão a utilizar estas novas tecnologias e métodos no seu processo educativo, aprimorando as competências digitais dos seus alunos, com vista a cativar os mais novos a, através do uso das tecnologias por parte das escolas, terem um maior interesse e aproveitamento das disciplinas que lhes são lecionadas.

As faculdades também tiveram a oportunidade de expor projetos (especialmente da área do gaming) dos seus alunos neste evento.

Cosplay

O evento não falhou na sua premissa de reforçar a componente de cosplay, enunciada várias vezes na entrevista do Jornal desacordo a Nelson Sousa na apresentação da Lisboa Games Week. Era uma prática abundante neste encontro e, como também foi referido nessa entrevista, os cosplayers que se apresentavam tinham influências diversas, desde a cultura japonesa à americana ou mesmo europeia, entre outras.

International Cosplay League (Fonte: José Pereira)

Paulo Weber vestiu-se de Conan, o Bárbaro para marcar presença neste evento. Mostrou-se surpreso com o tamanho do espaço utilizado para realizar esta LGW (consideravelmente superior comparando com o ano passado) e com a quantidade de pessoas que faziam cosplay.

Quando questionado sobre a importância do evento, Paulo Weber revelou que, num mundo em que o digital predomina cada vez mais, a interação e os amigos feitos no processo têm um papel importante: ao estimular o encontro da comunidade do gaming e da cultura Pop, promove-se a coesão da mesma. Ainda assim, reconheceu que havia alguns aspetos que poderiam melhorar e que isso era natural, mas que o evento está no caminho certo do ponto de vista da sua evolução.

Concluiu esta entrevista realçando o papel do cosplay com a intenção de dar “brilhantismo” à feira e, com isso, reforçar a imersão na atmosfera deste evento.

Conan, o Bárbaro, por Paulo Weber (Fonte: Gonçalo Mora)
História dos Videojogos – Museu Load “ZX”

Fomos ainda visitar o Museu Load “ZX”, um stand que procurava dar a conhecer aos mais novos os videojogos do microcomputador ZX Spectrum (lançado em 1982). Contava com uma exposição de componentes relacionados ao microcomputador, capas de alguns dos videojogos mais icónicos da época, assim como alguns computadores que promoviam a exploração dos jogos em questão.

Numa palestra realizada por responsáveis desse mesmo stand, recordaram-se alguns dos videojogos que mais marcaram a vida das pessoas que os jogaram naquela época. São alguns exemplos o “Bomb Jack”, “Batman the Cape Crusader”, “Matchday II”, “Phase H.Q.”, entre vários outros.

Museu Load “ZX” (Fonte: Catarina Soares)
Jogos free-to-play

Para quem gosta de experimentar os jogos e viver a experiência, estas eram as zonas mais indicadas para se estar.

Na Arcade Zone e encontravam-se as máquinas arcade de jogos retro. No Pinball” podemos ver a ação a acontecer de forma bastante mecânica e sem ser através de um ecrã digital. A reação aos nossos movimentos (no caso, no carregar de botões) é imediata e transparece uma sensação de controlo do jogo diferente das versões digitais.

No “Mortal Combat 1” já temos uma perspetiva de jogo diferente. Temos mais botões e mais funções a controlar, que nos exigem não só uma rapidez de pensamento como de movimento e claro, a coordenação de ambos. Para quem conhece as versões digitais modernas deste jogo sabe o quão difícil é fazer as combinações certas e jogar bem. Ainda assim é uma experiência viciante e que dá vontade de jogar mais!

Já numa zona diferente, um dos jogos que também estava disponível (e bem concorrido) era o simulador da Cupra, que nos oferecia a sensação de conduzirmos o seu novo modelo (que estava em exposição) numa pista com base no “Forza” – jogo de corridas – durante cinco minutos. Para se jogar, utilizávamos um setup que simulava o lugar do condutor, com volante e pedais disponíveis, sendo as mudanças manuais de patilha nas laterais do volante. A sua jogabilidade era relativamente boa, mas com um nível de dificuldade médio/alto, pois o carro era complicado de controlar para aqueles que nunca tinham testado um modo de jogo assim antes. Os quatro primeiros classificados que fizessem os melhores tempos de pista dos quatro dias do evento, iriam receber um exemplar de um volante no valor de 300€ da Thrustmaster, que os forneceu também para esta experiência.

Simulador Cupra (Fonte: Catarina Soares)

Divulgação/Networking

A Loading Zone da LGW desempenhou um papel relevante como montra de videojogos, estúdios e developers emergentes em Portugal. Este espaço propunha-se a divulgar não só a produção nacional nestes setores, mas também a oferta educativa no ensino superior nas áreas referentes aos videojogos. Naturalmente, este espaço tem uma forte componente de networking, ou seja, interação e troca de contactos entre produtores deste mercado e também com os seus potenciais consumidores.

Nerdy Core Xperience

A banca da Nerdy Core Xperience apresentava-nos um projeto muito recente da IFRIT Studios com a artista Catarina João (respetiva fundadora e diretora de arte), com quem falámos um pouco, e que nos contou como começou esta aventura.

A Nerdy Core é uma loja de artigos variados relacionados com a Pop Culture que tem uma parceria com a IFRIT Studios. Este é o primeiro estúdio em Portugal a fazer colecionáveis customizados (estátuas e dioramas), inspirados nos ícones da cultura Pop, e foi fundada pela artista mencionada. Desta forma, a banca da Nerdy Core Xperience esteve presente pela primeira vez na LGW com este novo projeto, de modo a dar-se a conhecer a um público potencialmente interessado, e assim ganhar mais visibilidade.

À conversa com a Catarina João, ficámos a saber que este projeto (IFRIT Studios) tem ainda menos de um ano, mas que a sua paixão pelas artes já tem mais tempo. Conta-nos que começou a aventurar-se neste mundo das figuras da cultura pop durante a pandemia da Covid-19, quando se viu fechada em casa sem saber o que fazer. Através de vídeos no Youtube, surgiu-lhe a curiosidade de tentar fazer as suas próprias figuras customizadas da cultura pop e assim se iniciou esta aventura. Apesar de já estar neste mundo há algum tempo, só agora é que deu “vida” ao seu projeto criando este estúdio e dando assim um rosto público ao seu trabalho. A inauguração da sua loja foi feita precisamente no primeiro dia da LGW (dia 23). Para além de artista, Catarina também é gamer e streamer na plataforma Twitch, onde fez livestreams dos quatro dias em que esteve presente na LGW. Podes ver as suas streams aqui.

IFRIT Studios (Fonte: Catarina Soares)

A artista disse-nos ainda que, mesmo recente, o seu projeto tem sido muito bem recebido na comunidade e que está a crescer positivamente. Para a animar ainda mais, a equipa preparou-lhe uma surpresa e trouxe um convidado especial para contribuir no primeiro dia da sua exposição na LGW, o ator Ricardo Carriço. Catarina dizia sentir-se como “uma criança num parque infantil” de tão feliz que estava.

Ao falarmos com Ricardo Carriço, questionámo-lo sobre a sua ligação a este mundo da Pop Culture e dos jogos: “Tenho estado mais associado ao mundo dos jogos através do Kratos, do “God of War“, visto que sou em que faço a voz dele, [entrando na personagem] sou eu, o Kratos [risos]”. Questionado sobre a sua faceta artística para as esculturas Ricardo diz-nos que não é uma área que tenha experiência, mas que decidiu desafiar-se e aceitar o convite, visto que tem um ateliê pessoal onde tem trabalhos seus nos quais mistura a pintura com a escultura. “Estamos a brincar um bocadinho à volta do trabalho que ela (Catarina) está a fazer e eu estou a participar um pouco” diz-nos sobre a sua participação ali. Refere ainda que aceitou o convite pois acredita que este mundo das artes não se deve fechar em bolhas e sim ser aberto a novas experiências e por isso mesmo decidiu ir aprender algo novo, observar como reage esta forma de arte às suas mãos e acima de tudo experimentar.

Morangos Com Açúcar

O desacordo esteve ainda no stand dos Morangos Com Açúcar no dia 25 de novembro para falar um pouco com os intervenientes da série acerca de como esta se relaciona com a Lisboa Games Week.

Ricardo Freire, diretor de marketing digital da Media Capital, já nos tinha revelado em entrevista que a TVI queria aproximar-se do público do gaming que esteve na LGW. Tal confirmou-se na entrevista feita aos atores António Van Zeller, Beatriz Frazão, Cláudio de Castro e Rui Pedro Silva.

“Acham que o público da Lisboa Games Week tem sido recetivo à presença dos Morangos com Açúcar?”

Rui Pedro Silva: “Sim, super! Ao entrarmos, os olhares, os sorrisinhos e as gargalhadas [que temos recebido] é uma boa receção e é muito caloroso e amigável por parte deles.”

Cláudio de Castro: “Acho que é um sitio importante, que reúne muita gente que tem a idade do nosso público alvo e, portanto, isso vai ter uma consequência notória e tivemos aqui uma grande afluência de pessoas, o que foi muito gratificante […]”

Rui Pedro Silva: “[…] E a comunidade de gaming é a comunidade de streaming e toda gente que a acompanha.”

“Até que ponto é que a série se relaciona com este evento?”

Cláudio de Castro: “Acho que tanto a cultura do gaming como a cultura Morangos com Açúcar fazem parte da cultura pop da juventude, portanto eu acho que é um cruzamento muito interessante, faz parte da mesma faixa etária e acredito que muita gente que jogue jogos também goste de ver o conteúdo da nossa série. Como a série também é sobre tudo o que engloba a juventude não podemos excluir também a parte do gaming e todo o universo e pessoas que isso acarreta, portanto acho que há um público gamer que também o público dos Morangos, sem dúvida.”

“Qual a importância dos Morangos para os jovens portugueses e público no geral? O que é que a série tenta passar?”

António Van Zeller: “Acho que por ser uma série juvenil acaba por ser uma coisa mais de entretenimento, mas acabamos por falar de temas que também são importantes de serem falados e que são sempre temas que queriam debates em casa com as famílias e acho que isso é sempre importante.”

Beatriz Frazão: “Eu concordo com o António, acho que aborda temas que são muito importantes de serem falados. Todas as personagens são completamente diferentes umas das outras e qualquer pessoa se pode identificar connosco.”

“O que podemos esperar de novas temporadas de Morangos Com Açúcar?”

Rui Pedro Silva: “Podemos esperar muita praia nesta última, podemos esperar namoricos […]”

Beatriz Frazão: “[…] Outros, diferentes.”

Cláudio de Castro: “Acho que o drama vai continuar, o mistério vai continuar, vai intensificar-se ainda mais […]”

Beatriz Frazão: “[…] Vai ficar ainda mais forte […]”

Cláudio de Castro: “[…] Portanto, não esperem que nada seja resolvido muito prontamente porque não vai acontecer. Ainda vai haver muita água a correr debaixo desta ponte.”

Banca dos Morangos Com Açúcar (Fonte: José Pereira)
Conclusões Finais

No geral, foi sentido algum ceticismo quando pedíamos às pessoas para elaborar uma comparação do evento em relação a edições anteriores. O público da Lisboa Games Week, de um modo geral, ficou desiludido com a oferta de atividades no evento, não a considerando diversa o suficiente para o nível do mesmo. Acredita-se, ainda assim, que este evento manteve uma grande importância este ano, no sentido de reunir a comunidade do gaming e da Pop culture em Portugal, reunindo diversos públicos e dando a conhecer variados novos projetos de desenvolvedores, criadores de conteúdo ou outros.

A Lisboa Games Week regressa em 2024 de 21 a 24 de novembro na FIL. O desacordo estará atento para te dar as novidades sobre a próxima edição deste evento.

Este artigo de opinião é da pura responsabilidade dos autores, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados. 

Escrito Por: Catarina Soares, José Pereira.

Editado por: Marta Ricardo.

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