Entrevista à banda seBENTA

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Recentemente, os seBENTA lançaram o seu novo single “Por Onde Vais” e em breve farão vinte anos, mas uma dúvida persistia: quem são os sebenta por trás dos seus concertos?

No dia 27 de outubro, tivemos a oportunidade de entrevistar o Paulecas, vocalista da banda seBENTA e dar a conhecer ao público a personalidade, ambições e momentos memoráveis desta banda de rock nacional iniciada em 2004.

Qual é a história por trás do nome da banda?

Em qualquer banda, há sempre a dificuldade de escolher um nome. Nesse momento, portanto, estamos nos referindo a 2004, fomos falar e veio-me à cabeça o nome seBENTA. E por quê? Eu e o Doc [antigo guitarrista], conhecemo-nos na época escolar e já tínhamos trabalhado em outros projetos, o que foi crucial para formarmos aquela banda que seria a banda das nossas vidas. Depois estávamos a trabalhar com o designer Rui Pereira e ele num livro leu a palavra seBENTA com o «se» minúsculo e o «Benta» maiúsculo. Junto quer dizer se é sagrado. Bom, para nós a música é sagrada, pelo que foi de facto um fator. Nós achámos graça a isso e assim ficou seBENTA como nome da banda. 

Quais são as principais influências musicais que moldaram o vosso estilo?

As influências são muitas, porque nós estamos sempre a ouvir muita música  e muita música nova, feita por pessoas novas, mas em relação àquelas que são as nossas principais influências, eu diria que em Portugal são principalmente Jorge Palma, Xutos e Pontapés, Rádio Macau, Heróis do Mar, GNR, Sérgio Godinho, etc., e alguns artistas mais clássicos como, por exemplo, o Zeca Afonso, José Mário Branco que tiveram mesmo muita influência em seBENTA. Do estrangeiro, fomos influenciados pelos Foo Fighters, Queens of the Stone Age, U2, etc.. Os U2 foram sem dúvida uma grande influência, não só pela música mas também pelo conceito de espetáculo.

No entanto, estas são apenas algumas das influências, nós temos a nossa própria identidade como banda e orgulhamo-nos dela.

Quais são as vossas músicas preferidas para tocar ao vivo?

Às vezes são as novas. Acontece que as mais antigas nós já as tocámos muitas vezes, mas temos que as tocar, porque é Impossível fazer um concerto em que não as toquemos, pois fazem parte da escolha do grande público, como as músicas “Bem, Pensando Assim”, “Balas de Prata”, “Ver Vamos” ou “Olhos de quem”, porque fizeram parte de grandes séries televisivas e são canções que se têm mantido de palco para palco e que as pessoas se identificam pelas suas histórias.

Uma banda com 20 anos, tem de saber fazer uma grande escolha de um alinhamento. É isso que tem que acontecer e isso define muito o “sucesso” do concerto. Depende do palco, depende do dia, depende de muita coisa. Acho que gostamos de tocar as canções mais novas, por serem experiências novas.

Quais são os momentos mais memoráveis que enquanto banda viveram até agora?

Em 20 anos acontece muita coisa. Um espetáculo de seBENTA, acaba por ter um conceito espiritual. As pessoas naturalmente quando estão em concerto connosco fazem parte do espetáculo, ou seja, nós não somos uma banda que toca para as pessoas só e ponto, quando começamos a tocar normalmente as pessoas tornam-se de repente parte do espetáculo, por toda a envolvência que criamos no espetáculo. Estou agora a pensar nos nossos concertos anteriores, no São Jorge em Lisboa, por exemplo, A casa da Música no Porto, o festival Grito Rock em Cabo Verde, o festival Musicfest em que colaborámos com os Xutos (Xutos e Pontapés) no Luxemburgo e muitos outros. Também tocámos com a Celeste, a irmã da Amália Rodrigues, no concerto comemorativo dos 10 anos de seBENTA e foi lindo, ver uma pessoa de 90 anos subir ao palco connosco, com uma banda de rock.

Depois trabalhámos durante muitos anos com o José Luís Peixoto. Ultimamente não o temos feito porque ele está sempre no estrangeiro, torna-se mais complicado. Colaborámos com vários músicos, como foi o caso do Zé Pedro (Xutos e Pontapés), um grande amigo. É uma memória, há várias coisas que nos marcaram e são esses momentos que nos fazem continuar a partilhar música.

Vocês têm algum ritual antes de subir ao palco ou entrar no estúdio?

Para entrar em estúdio não, lá é uma ambiente mais de trabalho, focamo-nos somente em ter a concentração para aquilo que temos de fazer. No palco, normalmente damos um abraço e desejamos um bom concerto uns aos outros. Esse é o nosso ritual.

Quais são as vossas bandas ou artistas preferidos com quem gostariam de colaborar no futuro?

O nosso sonho neste mundo da música, sempre foi tocar com o Dave Grohl, com o Bono, depois houve sonhos já cumpridos com artistas portugueses dos quais somos fans e muito gratos, mas assim sonhos são U2, Foo Fighters, Queens of The Stone Age e muitos outros…

O Bono e o Dave Grohl são sem dúvida a escolha e temos a certeza de que um dia estaremos a tocar com eles.

Quais são os hobbies dos membros da banda fora da música?

São vários. Nós gostamos muito de ir ver concertos. Não vivemos só de tocar, gostamos muito também de ver outros a tocar, é para nós muito importante. Se Isso é considerado um hobbie, não sei, é uma coisa que eu falo por mim e gosto muito de o fazer. Também gosto muito de me reunir com os amigos, de cozinhar… Noites de tertúlias. Um hobbie muito importante nesta fase é o desporto, porque faz bem. Até porque a vida de estrada e a vida de Rock n’Roll tem um desgaste muito grande e, portanto, deve-se estar preparado para o máximo e é mesmo uma questão de saúde.

Mas adoro ir ao teatro, ir ao cinema, é uma das coisas que eu mais adoro, aprecio muito futebol, como é lógico, um bom português gosta de futebol. Os dois mais importantes para mim são estar com os amigos e estar com a família.

Há alguma história engraçada dos bastidores que possam compartilhar?

Isto aconteceu em Viseu. Não aconteceu muitas vezes. Houve uma fiscalização da SPA [Sociedade Portuguesa de Autores] num concerto nosso e um fiscal foi lá, porque houve ali uns problemas com o promotor que não tinha pago os direitos, bem como pensava que nós não éramos realmente os seBENTA, mas sim, uma banda de tributo aos seBENTA e ficou a gravar o concerto todo em áudio e vídeo. Não sei porquê, talvez para levar à SPA, para saber se éramos mesmo os seBENTA.

Uma curiosidade desta banda incrível: nós somos de Lisboa e normalmente uma banda toca a primeira vez na sua localidade. Nós não. Fomos convidados a fazer uma mini tour na Madeira, primeiro concerto em Santiago da Serra numa discoteca chamada “Shake Down”. 

Houve outra situação que ainda hoje me lembro exatamente, um concerto que nós éramos para entrar às 22h e acabámos por entrar às 5 da manhã. Portanto, fomos para o hotel, dormir, e voltámos. O público gostou muito do concerto e no fim foi uma festa, mas pronto, isso é coisa que eu, pessoalmente, acho que o público português tem de ser mais educado porque tu lá fora cumpres os horários. Atualmente está melhor, está muito melhor. Às vezes o pessoal pensa que são os artistas que se atrasam, mas não é bem assim. Porque se o espetáculo for às dez, o artista já está no camarim desde as nove. 

Há muitas mais histórias, mas é melhor não contar…

Quais são os vossos planos futuros enquanto banda?

Bem, dia 27 [de outubro] acabou de sair um single “Por Onde Vais” com a participação da banda brasileira de rock Forte Norte.

Este ano nós experimentámos vários tipos de singles com várias sonoridades, nós nunca tínhamos feito isso, juntando elementos novos como os teclados, neste caso tocados pelo Lúcio Vieira. De certa forma, é bom porque a composição fica mais solta e há um maior sentimento de voltar a fazer um álbum.

Fomos desafiados pela nossa editora em fazer um single com uma banda brasileira de rock, e assim se deu a união entre seBENTA e Forte Norte, banda de São Paulo que tão bem soube participar com a inclusão da voz do Filipe Lahm e de todo o trabalho dos seus companheiros de grupo, no final ficou espetacular e estamos muito felizes e também fecha um ciclo do ano de 2023. Aliás, fazemos 20 anos em 2024. Portanto, tudo irá andar à volta deste conceito, como é lógico. Acho que vai ser um ano com boas surpresas , mas não posso adiantar mais de momento.

Que conselho deixas para os jovens artistas em início de carreira?

Uma coisa muito séria que eu acho que no panorama artístico é muito importante é os artistas fazerem sempre aquilo que querem fazer. É isso que faz a diferença. O que vai sempre fazer a diferença no caso da música é a própria música que se faz e a qualidade desta. Pode haver milhares de euros investidos em promoção que é sempre precisa, mas é na música que se nota eventualmente a diferença, porque quando a música não é boa, quando não toca as pessoas, não vale a pena. Obviamente os gostos variam, o que é bom para mim pode não ser para ti, mas aquilo que toca as pessoas é o que fica.

Eu acho que para quem está a começar a chave é trabalhar muito, o sucesso dá muito trabalho, seja isso o que for!

Outra coisa muito importante é não ouvir aquela conversa “A vida artística é muito difícil”. O grave problema deste país é que durante muitos e muitos anos tivemos uma população que foi mal educada, sobre o dogma de que para se ser feliz é preciso ser doutor ou engenheiro. Isso é completamente ridículo e falso. Se a pessoa quer tirar um curso superior, muito bem, não por imposição, mas sim, por gosto. Podes ser um calceteiro ou um pedreiro,  desde que seja um bom profissional e faça um excelente trabalho, é uma profissão tão digna, como qualquer outra.  Relativamente à arte podes ser um pintor, escultor, ator, o que quiseres. Mas tens que fazer, com amor e paixão. Não desistam por palavras de terceiros, sintam. Há muitas formas de viver da música e hoje em dia, muitas mais.

Eu às vezes ouço alguns músicos em entrevistas, a falarem dos seus filhos que querem seguir a mesma profissão, a dizerem “Espero que eles não sigam a minha vida”. Isto é uma coisa completamente irreal. Um artista a dizer mal da sua profissão, ou seja, de si mesmo!

Hoje em dia ninguém tem nada e toda a gente se vê aflita para pagar uma renda, uma refeição, inclusive. Nos novos tempos, temos de nos focar naquilo que realmente gostamos de fazer, porque vamos sempre ser muito melhores pessoas, uns para os outros e só assim vale a pena.

Houve gente que me  disse isso, quando era miúdo. Eu sempre achei que quem falava assim era uma cambada de frustrados. Nunca fizeram o que realmente queriam fazer e a vida trouxe-lhes esse dissabor. A vida tem um princípio, tem um meio e tem um fim. Portanto, às vezes é preciso trabalhar numa outra coisa para ganhar a vida, pagar as contas, enfim… Mas, a partir do momento em que se tem uma banda coesa, se adquire um conhecimento maior e a banda começa a dar concertos, não há motivo para não sermos otimistas e continuar. A grande palavra de ordem é não desistir, não sair da linha de pensamento, seja por quem for, a não ser que a pessoa se venha a descobrir e decida que realmente aquela não é a sua profissão ou não é o seu dom, mas isso é outra coisa. Nós estamos a falar para quem está a começar.

Este é sem dúvida o maior conselho que eu posso dar… Não desistam dos vossos sonhos!

O mais recente trabalho dos seBENTA, Por Onde Vais, em parceria com os Forte Norte.

Escrito por: Cristina Cargaleiro.

Editado por: Marta Ricardo.

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