Pátria é a mais recente longa metragem de Bruno Gascon, realizador de cinema português. Produzida pela Caracol Studios, contou com o apoio da RTP, do Pic Portugal e do município de Barcelos, onde foi rodada na íntegra. O filme conta com a participação de Tomás Alves, Rafael Morais, Michalina Olszanska, Iris Cayatte, Matamba Joaquim, João Vicente, Raimundo Cosme, entre outros.

A narrativa tem como foco dois grupos de indivíduos com ideais opostos que vivem num país sujeito à ditadura, onde predomina a opressão, o medo e a violência. Pátria afoga-nos nesta distopia que, ao mesmo tempo que é capaz de nos deixar na ponta da cadeira em determinados momentos, constrói uma atmosfera de suspense e tensão que induz no público uma constante sensação de desconforto. Somos confrontados com a dura realidade de que a nossa liberdade não pode ser tida como um dado adquirido. Bruno Gascon brilha, tanto na direção como no argumento, transportando o espetador para uma realidade alternativa assustadora pelo facto de remeter a alguns dos dias mais negros da história da humanidade.
Tomás Alves e Rafael Morais destacam-se como protagonista e antagonista, respetivamente, entregando nas suas performances traços de personalidade bastante distintos que os colocam em espectros opostos sem, no entanto, caírem no clichê e atribuindo camadas psicológicas e emocionais que enriquecem as suas personagens e as fazem transcender além da unidimensionalidade. O mesmo se pode afirmar sobre os restantes membros do elenco, cujas atuações sustentam a densidade da narrativa e o clima de repressão física e ideológica vivenciado pelas personagens que interpretam.
A ambientação é outro elemento que se destaca. Por grande parte dos cenários é possível identificar propaganda ditatorial, essencialmente sob a forma de graffitis e cartazes nos quais predomina a cor vermelha, que pode facilmente ser associada ao lema do regime “Honra e sangue”, muito utilizada também na propaganda das grandes ditaduras do século XX, como foi o caso do nazismo alemão, por exemplo. As pichações nas paredes transparecem o ódio para com os chamados expatriados e a idolatria que cega os grupos extremistas que os perseguem. Todo este ambiente degradado, consumido pela miséria e pela opressão, contribui para evidenciar ainda mais o estado psicológico das personagens.

Tivemos a oportunidade e o gosto de entrevistar Bruno Gascon, que nos forneceu algumas das suas perspetivas pessoais relativamente ao projeto e aos temas que nele aborda.
Bruno alerta os espetadores para o facto de os regimes ditatoriais serem um acontecimento cíclico, para que enquanto sociedade não voltemos a repetir os erros cometidos num passado não muito distante, erros esses que levaram à subjugação e aniquilação de inúmeras vidas inocentes. Embora vivamos tempos revolucionários a nível tecnológico e comunicacional, nos quais o individualismo prevalece, o realizador realça a importância de não se perder o lado humano de compreensão do próximo.
Evidencia que o radicalismo, na sua essência, utiliza chavões e frases feitas, uma estratégia para que as pessoas que estão desacreditadas na política e na vida fiquem agarradas ao discurso. Tendo em conta a abundância de informação com que as pessoas são constantemente bombardeadas, a tendência para apenas ler a frase inicial tem de ser contrariada, há uma necessidade gritante de investigar, pesquisar e analisar as fontes e o seu conteúdo para que se possa formular uma opinião coesa, estruturada e bem fundamentada.
Ao longo do filme, as diferenças entre as dinâmicas dos casais são algo que se evidencia, dado o realismo presente nas personagens criadas: “Esse lado está lá, esse lado mais pacifista e esse lado mais duro, mais rough, digamos assim, porque tem a ver com a personalidade das personagens.”. O argumentista defende que a personalidade molda a forma de ver o mundo e a forma como se ama: “Não deixam de se amar um ao outro, sendo uma coisa mais explosiva, mas é parte da experiência que eles viveram ao longo da vida. E isso faz com que eles gostem um do outro, mas a forma de o demonstrarem é aquela forma.”.
O filme traça um ponto limite para as personagens, em que a escolha entre “Liberdade ou Morte” as persegue. Todavia, o argumentista adverte para a importância do entendimento mútuo e da resolução pacífica de conflitos, por meio do diálogo, da compreensão, da tolerância e da empatia, ainda que nos encontremos perante uma sociedade cada vez mais dicotómica e polarizada, onde o diálogo saudável parece muitas vezes inatingível. “Violência gera mais violência”, afirma o realizador, e instiga o público a refletir sobre a importância do respeito ao próximo para uma coexistência mais saudável.
No que diz respeito às dificuldades enfrentadas como realizador e argumentista, Bruno Gascon sublinha como cerne da questão o facto de a cultura ser algo secundário em Portugal. A cultura desempenha um papel crucial na sociedade e na educação de um povo, mas é frequentemente negligenciada no orçamento de Estado, por exemplo. Acentua, ainda, a importância de dar à cultura o destaque merecido para que as indústrias cinematográfica e artística possam singrar em Portugal.
Descreve o trabalho de argumentista como um processo criativo mais individualista e isolado, que envolve a pesquisa de um tema para a criação de toda uma narrativa; enquanto que o processo de realizador já exige uma maior interação profissional, um trabalho com os atores em que “Criamos as personagens e o background dessas personagens para torná-las o mais realistas possível.”.

Pátria recebeu inspiração e informação de diversas fontes, entre as quais 1984 (livro escrito por George Orwell), América Proibida (filme dirigido por Tony Kaye) e os próprios regimes ditatoriais que, efetivamente, existiram. O argumentista debruçou-se em estudos sobre a origem e a evolução destes fenómenos, o que, no argumento, conduziu à criação de um grupo específico de extrema direita caracterizado pelo trabalho sujo que desempenha em nome do regime e da sua ideologia. Gascon visualiza as personagens como um todo, uma vez que, as mesmas acabam por viver e alimentar-se umas das outras e, por essa razão, declara que é difícil escolher qual gostou mais de escrever. Explicou também que, embora nos seus trabalhos anteriores as personagens principais tenham sido mulheres, nesta longa, o foco foi um tipo de regime político que costuma estar associado ao patriarcado. Desta forma, preferiu que fossem dois homens a representar os pólos e a protagonizar ambas as faces do conflito. Contudo, denota a importância narrativa das personagens femininas, que possuem uma certa natureza manipuladora e um fogo revolucionário que permite que a ação recue ou progrida: “Por isso, num ponto de vista analista em relação ao filme, tu tens dois homens que estão no poder, mas acabam por ser manipulados por elas.”.
Bruno ainda mencionou que as filmagens da sequência de ação que tem lugar no clímax do filme constituíram um desafio, sendo necessários três dias de filmagens noturnas. O realizador descreve a complexidade de filmar cenas de ação em Portugal, que carece de exemplos nesse registo, uma vez que o seu objetivo passava por criar uma sequência realista e crua, evitando excessos de coreografia que pudessem, de certo modo, artificializar a realidade que a narrativa havia construído até àquele momento. Quando questionado sobre o final do filme, revelou que tinha em mente duas opções para o desfecho. No entanto, optou pela que está, efetivamente, na versão final do filme, acentuando que a História já nos mostrou várias vezes que o Bem nem sempre vence e, quando o faz costuma ser à base de grandes sacrifícios.
Com a nomeação para a competição oficial do Lucca Film Festival, Bruno Gascon ganha uma motivação adicional para continuar o seu trabalho enquanto realizador e argumentista, e espalhar mensagens impactantes através do meio artístico que sejam percetíveis e absorvidas por espetadores de todo o mundo: “Acima de tudo, o que eu tento sempre fazer nos meus filmes é que tenham essa universalidade. Ou seja, quer seja em Portugal, Espanha, Itália, na China, onde quer que seja que vejam o filme, que as pessoas sintam conexão com ele. Daí tu teres um regime não definido, tu não tens noção de que lugar é que estamos a falar, para enfatizar exatamente isso, criar essa universalidade através de um regime, através dessas personagens. Eu tento, em todos os projetos, que não seja uma história que seja só em Portugal ou que se feche só em Portugal, mas que tenha temáticas que consigam chegar a qualquer parte do mundo.”.
Por último, mas não menos importante, Bruno encoraja os jovens interessados em ingressar na área do cinema em Portugal a não desistirem: “O melhor conselho que eu posso dar é que por muito que as coisas possam parecer negras, por muito que achem que não têm talento, é tentar fazer o máximo que conseguem, e não desistirem.”. Frisa, ainda, a importância de cometer erros e aprender com eles.

Também tivemos a oportunidade de entrevistar quatro membros do elenco principal: Tomás Alves, Rafael Morais, Matamba Joaquim e João Vicente, que partilharam connosco os seus pensamentos em relação às suas personagens, ao filme e à sua experiência enquanto atores que integraram o projeto. Esta secção contém alguns spoilers.
Entrevista a Tomás Alves
Matilde – Podes apresentar-nos a tua personagem?
O Rocky. O filme passa-se todo na segunda parte da história dele. Ele antes era o Mário, trabalhava numa carpintaria, era o responsável e, em paralelo, ia ajudando algumas pessoas a fugir do regime, a esconderem-se. Basicamente ajudava quem não podia ajudar. Foi apanhado, foi expatriado e foi tornado, basicamente, um escravo do sistema. Não tem direitos nenhuns e trabalha para sobreviver, basicamente. Não está muito longe daquilo que muitas pessoas fazem hoje em dia, disfarçadamente, numa democracia. Ele tenta manter-se vivo não se rebelando como ele gostaria, como sempre sentiu vontade de se rebelar, e a personagem do Matamba [Joaquim] leva-o a finalmente tomar uma posição e encarar um bocadinho as consequências do que é tomar parte de uma revolução.

João – Qual é o aspeto/característica que mais te cativa na tua personagem?
Eu acho que é o sentido de justiça aliado a esta procura de paz ao mesmo tempo. Não deixa de ser um instinto de sobrevivência, mas aquele conflito entre o que eu sinto que tenho de fazer e conseguir chegar a ter a coragem de o fazer. Esta duplicidade entre o que ele tem vontade de fazer e o que ele acha que é justo e aquilo que ele pode fazer na verdade, sem se pôr em perigo.
João – Achas que a tua personagem, a determinada altura do filme, encontra um ponto de rutura em que abandona, de certa forma, os seus ideais para tomar uma posição mais radical, ou esses ideais [radicais] já estavam latentes nele?
Eu acho que é quase como algo que contém água. E a água tem sempre de sair, não é? Pela força da gravidade, tem sempre de sair. Os ideais dele sempre lá estiveram e ele foi sempre deixando um fiozinho de água sair para tentar que aquilo não explodisse. Mas tudo o que lhe aconteceu, tudo o que aconteceu à volta dele fê-lo ter que explodir a garrafa, o balão de água, o que for. Esse contentor teve de explodir de alguma maneira, mas já tinha dentro de si muita vontade de se rebelar.
Matilde – Houve algo específico que sentiste a necessidade de fazer para te preparares para a personagem?
Que me lembre assim de repente de há dois anos para cá [risos], não. Eu não tenho grande método a não ser ir atrás da minha intuição e daquilo que o texto me leva a crer que é preciso passar. E conversar com os realizadores e tentar perceber qual é a história que queremos contar. Depois claro que cada história pode ter uma especificidade, esta acho que não despoletou assim uma coisa específica.
João – Qual foi a cena que mais gostaste de gravar?
Lembro-me agora que a cena de tortura em que eu estou algemado… não sei se foi a que eu mais gostei porque saiu-me do pelo [risos], mas lembro-me que foi intensa e foi importante.
João – Então e a sequência de ação?
Essa foi difícil. Foi difícil, mas tivemos a ajuda do David Chang, que foi essencial. O David juntou-se com o núcleo de atores e ensaiámos aquilo várias vezes, estivemos quase uma tarde inteira só a tentar programar como é que ia ser. E depois o filmar foi um caos, porque aquilo era uma data de gente ali em luta cénica. Tentar que o plano vendesse sempre, que fosse credível e real sem nos magoarmos. Houve alguns acidentes pelo caminho [risos]. Essa cena foi intensa e quando a li lembro-me de pensar logo “Quem é que vai fazer isto?” e, de facto, quando tens alguém com a experiência do David Chan facilita bastante e põe-nos em segurança, porque apesar de haver sempre algum acidente, poderia sempre haver mais se não fosse este trabalho que ele tem com os atores e com a figuração.
Matilde – Quais foram as maiores dificuldades que sentiste no contexto pandémico?
Eu já vinha de alguns projetos em pandemia, a dificuldade é tentarmos estar todos em segurança e continuar a trabalhar, e tentar fazer as medidas todas de segurança para tentar que a coisa aconteça dentro dos prazos que temos de cumprir. Felizmente no Pátria, estávamos todos em Barcelos, todos quase em residência artística e isso ajudou, porque estávamos todos uns com os outros, não haviam grandes contaminações. De vez em quando íamos no fim de semana para casa e quando voltávamos havia sempre o cuidado de fazer testes e tudo mais, e correu bem nesse sentido. Não houve atrasos, nem dificuldades por causa disso. Claro que a proximidade uns com os outros estava um bocadinho condicionada, mas lá está, já não era a primeira vez que trabalhava assim, já estávamos com esse hábito. E parece que neste momento o COVID já não existe e que nos esquecemos, mas foi uma coisa de facto estranha nas nossas vidas e que demorou algum tempo a assimilarmos, mas depois também facilmente quase esquecemos.
Matilde – Agora quem tem COVID tem uma gripe.
É, é isso.
João – Como é que descreverias o romance da tua personagem?
O romance… é um romance subtil, diria. Acontece num momento de desespero. Imagino que, se calhar, se aquelas duas pessoas não estivessem naquele contexto, provavelmente nunca teria acontecido. Mas perante tanta frieza, perante tanto caos e destruição, acho que se refugiaram um no outro e essa parte é bonita e simbólica. Não vejo aquilo como uma PAIXÃO, um amor assolapado para a vida, mas é bonita essa poesia de, no meio daquela confusão toda, eles se refugiarem um bocadinho um no outro, de procurarem o amor.

Matilde – Sentes que a tua personagem teve o fim merecido?
Não, merecido não [risos]. Mas, por um lado, finalmente conseguiu revoltar-se e acho que isso foi um ganho nele e nas pessoas que ele levou a fazer isso. Mas claro que a vida também é importante, portanto não diria que foi o fim merecido, mas foi um fim heroico, justo pelo menos para deixar um futuro um bocadinho melhor.
João – Qual é a principal mensagem ou mensagens que gostavas que o público retivesse depois do visionamento deste filme?
Eu acho que a mensagem essencial é: nunca é demais falar da liberdade e da sua importância. E nós, felizmente, vivemos num país que conquistou isso há praticamente 50 anos, mas teve de passar por muito até o conseguir tal como, neste filme, o Rocky também teve de passar e estas pessoas tiveram de passar por muitas dificuldades. Mas nunca é demais nós defendermos os nossos direitos e lutarmos por eles. No caso dele, com as consequências que teve, se tiver de o ser. Acho que é bom sublinhar essa importância.

Entrevista a Rafael Morais
Matilde – Podes apresentar-nos a tua personagem?
Então, eu faço de Jonas, que é o líder de um grupo neonazi nesta realidade distópica que o Gascon criou. É um gajo com um passado muito lixado que o tornou nesta pessoa de um ódio profundo para com os expatriados que o faz identificar-se com esta ideologia. Mas eu acho que, acima de tudo, ele nunca sentiu amor. E foi um dos maiores trabalhos que eu tive em desenvolver a personagem, foi descobrir de onde é que vem este ódio, o porquê de ele se identificar e ser uma pessoa tão violenta e agressiva. Criei toda uma backstory para a personagem que justificasse esta atitude dele.

Matilde – Agora fiquei curiosa com a backstory.
João – Eu também fiquei curioso com a backstory. Se quiseres apresentar…
Posso, não faz parte da ação do filme, mas fui eu que criei como ator. O pai estava ausente. A mãe era prostituta e recebia clientes em casa. E daí ele ter também esta relação com as mulheres, porque ele tem uma namorada no filme chamada Hanna, de quem gosta mas tem medo de gostar. Portanto, eu acho que ele odeia amá-la, no sentido em que ele sente que amá-la é uma fraqueza. E ele vê as mulheres de uma forma errada, mas foi da maneira como ele cresceu e então, neste totalitarismo, é ainda pior e valida a maneira como ele lida com as mulheres.
Matilde – E sentes que ele não percebe que é manipulado pela Hanna?
Eu acho que ele percebe que, de vez em quando, a Hanna tenta… mas estão os dois a lutar para o mesmo lado. A única manipulação que ele pode sentir é manipulação emocional, que o tira do estatuto de poder, mesmo sobre ela, e ele, assim que sente que está a perder poder sobre ela… corta, bloqueia.
João – Foi uma história um bocado triste, foste mesmo buscar “Bem, o que é que de pior pode acontecer a esta personagem?”.
Mas é, porque como é que tu justificas isto? E uma das coisas que eu tinha mais receio quando o Bruno me convidou para fazer o projeto era criar uma personagem muito unidimensional, o clichê de vilão do James Bond. Não queria nada disso, queria uma pessoa humana, não é? E acho que o nosso trabalho enquanto ator é defender as personagens que fazemos. Portanto, este gajo é mau, manipulador, é violento, é agressivo, é impulsivo, mas acha que está a fazer uma coisa nobre. Ele acha que o que faz é justificado, como na vida real. Os terroristas e etc. acreditam que aquilo que estão a fazer é a coisa certa.
João – Qual é o aspeto/característica que mais te cativa na tua personagem?
É o lado impulsivo dele. E era uma coisa que eu fiz questão de “exigir”, entre aspas, ao Bruno [Gascon] é que tivesse o maior tipo de liberdade possível a filmar. Portanto, depois de ter feito o trabalho todo, meu, de casa, de criar este mais racional, no set, a filmar, de ser o mais instintivo, reativo e impulsivo possível. Porque eu acho que esta personagem exige isso. E na verdade acho que não houve dois takes iguais. E o Bruno [Gascon] jogou, foi à bola com isso, o que é fantástico. Em cinema estás sempre limitado com marcações, com focos e etc. e isso, como é óbvio, tem de ser tido sempre em conta, mas eu aqui tive a liberdade incrível que acho que, de facto, era essencial para a personagem. Portanto, foi a impulsividade da personagem, de ser um gajo que tu não sabes como é que vai reagir.
Matilde – Houve algo específico que sentiste a necessidade de fazer para te preparares para a personagem?
Houve. Além de ter criado a backstory toda dele, que é uma coisa que eu costumo fazer em quase todas as personagens na verdade. E até faço diários, crio eventos passados e traumas que eles possam ter tido, mas aqui foi mais presente, senti a necessidade de fazer isso ainda mais, explorar ainda mais. Vi muitos documentários, vi muitos discursos do próprio Hitler, ele tinha uma maneira de discursar absolutamente incrível apesar de ser o monstro que é, mas eu acho que ele subiu ao poder também muito por causa disso, pela maneira como comunicava. Aliás, em Portugal temos o caso do CHEGA, do André Ventura, que é o que é, mas, de facto, eu vejo o porque é que pessoas com uma educação menos aprofundada sintam uma atração e uma familiaridade para com aquele gajo. E, portanto, vi muito material disso, documentários, e li bastante sobre regimes totalitários, nazismo. Na altura, estava a ler o sexto capítulo de uma autobiografia de um autor chamado Karl Ove Knausgård e grande parte do último capítulo é ele a descrever a infância toda do Hitler, que eu desconhecia, e também tirei muitas coisas daí. Portanto, foi muito a partir daí. E, mais que tudo, foi deixar-me soltar, foi fazer a preparação toda antes de começarmos a rodar e na rodagem estar totalmente aberto ao que quer que seja e improvisar e reagir, e usar objetos do cenário que não estavam planeados e estar totalmente dentro do momento.
João – Houveram muitas cenas em que improvisaste para acrescentar a esse aspeto mais impulsivo, mais imprevisível da tua personagem?
Sem sombra de dúvidas, em quase todas as cenas, eu diria. Saímos da fase de ensaios, descobres onde queres ir, também fiz bastantes alterações de texto com a Iris [Cayatte] e com o Bruno [Gascon], que achei que eram importantes para não ser demasiado explicativo e demasiado vilão, lá está. Mas eu acho que sim, foi de take para take, de cena para cena que eu sempre… assim que eu comecei a sentir que estava a estagnar e já a tornar-se repetitivo, nesta personagem não fazia sentido nenhum e desconstruía, e ia por outro caminho completamente oposto.
Matilde – Sentiste alguma dificuldade em te desvinculares da personagem quando acabaram as filmagens?
Inicialmente acho que sim. Aquele primeiro choque de começar a trabalhar a violência e a agressão teve um impacto muito grande em mim que me afetou, de certa forma, quando chegava a casa. Mas mais que tudo, depois o interessante é eu ter percebido o quão rapidamente nós como seres humanos nos habituamos a isto. E isto tem a ver também na vida, não é, perdemos a sensibilidade para com estas coisas. O facto de estar diariamente rodeado de suásticas e de símbolos nazis… o primeiro choque é óbvio que é uma coisa que te incomoda, mas muito rapidamente te habituas. E isso é um perigo, não é? É uma coisa que se pode, muito facilmente, tornar normal.
João – Qual foi a cena que mais gostaste de gravar?
Há duas, há uma que é um discurso, o discurso que eu faço em frente ao resto do gangue [risos] e outra que foi cá fora, no exterior da casa, com a Iris, com a namorada Hanna. Foi totalmente improvisada, em que a cena era uma discussão verbal e rapidamente se tornou numa coisa física e eu depois vou para cima dela. E virou totalmente a energia da cena.

João – Tu fizeste parte da sequência de ação final. Como é que foi esse processo de gravar uma sequência de ação?
Foi divertido, mas complicado, porque estávamos numa corrida contra o tempo. Idealmente, eu acho que aquilo teria pedido mais tempo para preparar. Mas por várias razões de tempo e financeiras e etc. estamos sempre limitados, especialmente em Portugal. Mas foi super fixe, foi interessante, porque em Portugal não temos muitas hipóteses de fazer este tipo de coisas, e foi uma experiência nova de que gostei. E gostava de voltar a fazer, na verdade. Outra coisa curiosa, naquela cena do discurso eu fiquei com mais nódoas negras do que na cena da porrada, porque nós fizemos e repetimos aquilo tipo 25 takes, e eu, de fazer a saudação a bater no meu próprio peito cheio de anéis, acordei todo negro só de estar a bater em mim próprio [risos].
João – São os ossos do ofício [risos].
Exato [risos].
Matilde – Quais foram as maiores dificuldades que sentiste no contexto pandémico?
Estarmos limitados e as máscaras, e estarmos limitados aonde podíamos ir e etc.. Se bem que íamos fazendo os textos recorrentemente, portanto podia estar com o elenco, mas acho que afetou. Mas ao mesmo tempo, é interessante porque eu também filmei outro filme durante a pandemia, que foi o “Mal Viver” e o “Viver Mal” do Canijo, do João Canijo, e estávamos também fechados num hotel durante a rodagem toda e eu acho que, de certa forma, para nós, atores, isso pode trazer coisas benéficas, o facto de estarmos mais tempo uns com os outros, de aprofundarmos as relações, de quebrarmos o gelo, de nos conhecermos melhor. E depois quando chegámos a filmar já há aquela química natural, porque já não tens de fingir, já se conhecem tão bem. Nesse sentido acho que ajudou. Foi uma coisa positiva que veio de uma coisa muito negativa, na verdade.
João – Qual é a principal mensagem ou mensagens que gostavas que o público retivesse depois do visionamento deste filme?
Não sei, eu sei que o Bruno [Gascon] trabalha muito à base disso, da moral e das mensagens do próprio filme, é tipo a trademark dele, o que eu acho fixe. Mas para mim enquanto ator, não sei, eu não gosto… eu tento o máximo possível tentar não dizer ao público o que sentir. Não me cabe a mim, a mim cabe-me ser o mais genuíno possível, defender a minha personagem o máximo possível e, aliás, eu acho que a moral está presente no argumento. O que ele [Bruno] quer passar está bastante presente no filme, portanto, para mim o meu trabalho não é esse, nem quero. Idealmente é entreteres e, se possível, provocares alguma coisa sem o público ter sequer noção de que está a ser provocado, esse é o ideal, na minha opinião. É sair de lá e “Calma, eu estava a rir-me disto, mas de facto é muito mais sério do que aquilo que eu pensava.”. Uma coisa mais subtil, idealmente, na minha opinião. É como eu vejo.
João – Então e qual é que é a mensagem que tu extrais, enquanto indivíduo, no final do filme?
O que eu posso dizer, ao fazer esta personagem tão extrema a nível do ódio que sente, e violência, e raiva que está a tentar explodir por todos os lados, enquanto ator foi a personagem mais extrema neste sentido que eu já trabalhei até hoje, é que somos todos humanos. Eu acho que a maldade vem por vários fatores, mas ninguém nasce mau, acho que tem a ver com as condições sociais, com a educação, com a maneira como foste criado, e acho que somos todos humanos, seja o serial killer, seja Jesus Cristo. Acho que todos, dentro de nós, temos a capacidade de nos tornarmos num vilão ou num santo.

Entrevista a Matamba Joaquim
Matilde – Podes apresentar-nos a tua personagem?
O Ismael é o melhor amigo do Rocky, já na parte em que ele se chama Rocky. Já tem o antecedente de tentativa de fuga, lá daquele lugar em que morreu uma pessoa, por isso é um bocado uma persona não grata quando vai para a outra casa. Mas o Ismael é sobretudo uma pessoa resiliente, gosto de pensar nele como um sonhador também, alguém que quer conseguir ser livre, sonha com essa liberdade custe o que custar. Porque, na verdade é sobre isso que se trata [o filme], o Ismael vem nos lembrar aquilo que o Bruno costuma dizer muito: que nada está seguro, nada nos é garantido. A liberdade não é garantida e temos que lutar para tê-la e mantê-la. E o Ismael faz-me muito lembrar isso. O Ismael é essa pessoa, é uma pessoa que, na verdade, é a força motriz que faz o Rocky mudar a perspetiva das coisas e efetivamente tomar uma posição dentro dessa máquina. É o que faz o Rocky avançar. É o carvão para o fogo do Rocky.

João – Qual é o aspeto/característica que mais te cativa na tua personagem?
Eu acho que ele é um bocado… é muito próximo a mim, Matamba Joaquim. A generosidade… a generosidade é uma característica, não é [risos]? E o facto de ele não querer a liberdade só para ele. A generosidade é muito nisso, é tipo… nós os dois podemos, se nós todos nos organizarmos podemos incutir esse sonho, ou plantar esse sonho, na cabeça dos outros todos. Eu sou um bocado assim, como o Ismael.
João – O Ismael é uma personagem com um background um bocado sombrio. Lá está, esteve envolvido numa situação.
Matilde – É atormentado pelo passado.
João – É atormentado pelo passado, tem algumas camadas. É uma pessoa que está efetivamente a tentar escapar ao regime, mas é uma personagem complexa, não é totalmente bom nem mau, é como todas as personagens do filme.
Exatamente. Ele é mau quando tem de ser mau, mas é um bocado atormentado porque vive com culpa. Esse tormento é a culpa de ele saber que, por causa dele, morreu alguém que era ali muito querido. Para ele, foram os SSK os culpados, porque efetivamente o mataram, mas os outros grupos acusam-no porque é através da loucura dele que o outro se envolveu, e vive atormentado com aquilo.
João – Ainda por cima ele fugiu depois.
Exatamente, porque não conseguia lidar com aquilo. É muita responsabilidade chegada a alguém ter que explicar o desaparecimento físico de alguém que estava contigo, seres o responsável. Muitas pessoas não conseguem. E o Ismael… é uma das coisas que eu tive prazer, na verdade, porque foi dos primeiros… já fiz algumas coisas, mas foi dos personagens com essas camadas sensíveis para trabalhar que muito gozo me deu, porque é um sítio onde não é fácil estar. É um tormento que eu espero ter passado, que consegues ver mesmo quando ele está calado. Que é um gajo atormentado, sempre, pelo fantasma da morte, que é uma morte constante. E a SSK lembra-se, é tipo um urubu: “Estou aqui, a qualquer hora, a qualquer momento, podes ir ter com o outro que nós já levámos. Vais-te encontrar com o teu melhor amigo.”.

Matilde – Houve algo específico que sentiste a necessidade de fazer para te preparares para a personagem?
Isolei-me muito. Eu, Matamba, isolei-me muito. E depois também estávamos a viver um período pandémico e quando soube que fiquei com o papel e peguei o guião, o argumento, isolei-me nesse sentido também. Com a minha cabeça comecei a trabalhar o Ismael: como é que pode ser ele? Como é que pode ser a fala dele, o corpo dele, mas sobretudo o psicológico, que é o que me interessa muito. Ter a oportunidade de trabalhar nesse sentido, nesse ambiente, é um ambiente que eu gosto de experimentar, então o isolamento. Tive de me isolar, mas sem nada dessas coisas artísticas que fui no deserto, não [risos]. Ficar sozinho mesmo, para perceber… para ele poder estar sozinho mesmo acompanhado, entendes? Estar sozinho na cabeça dele. Inventamos uns labirintos.
Matilde – Transpor a tua própria solidão para a personagem.
Eu lido bem com a solidão. Eu amo estar sozinho, do mesmo jeito que amo estar com pessoas, não tenho problema nenhum. “Vamos trancar o Matamba aqui.”: vão encontrar-me a saltar e a brincar, a escrever, a desenhar, adoro estar sozinho. Mas a solidão que criei para o Ismael é diferente, é mais solidão de alguém que não quer estar sozinho e mais necessita estar.
João – Qual foi a cena que mais gostaste de gravar?
Todas, essa pergunta é injusta. A cena mais difícil e intensa foi a da morte dele. Foi fixe, eu estive a dizer: “Não Rafael [Morais], faz mesmo!”; “Epá Matamba, eu tenho medo.”; “Não, vá, bora lá.”. Temos de conseguir o objetivo, e foi fixe. Acho que foi a mais intensa, mas gostei de fazer todas as cenas, eu gosto sempre do meu trabalho. Da primeira à última cena, adoro fazer. Acho que esse papel está fixe.
Matilde – Quais foram as maiores dificuldades que sentiste no contexto pandémico?
É o estar longe das pessoas. Mas acho que não senti nenhuma em específico. Porque essa isolação até nos serviu para o contexto do filme. O único senão é que tínhamos de ter sempre cuidado com o perigo iminente de alguém da equipa ter COVID e termos que parar tudo por causa disso. Mas de resto não, foi tudo tranquilo.
João – Qual é a principal mensagem ou mensagens que gostavas que o público retivesse depois do visionamento deste filme?
Eu não gosto de ser professor. Hoje em dia as pessoas nos dizem sempre tudo o que temos de fazer, até os filmes que temos que ver, nós já não descobrimos mais, ‘tás a ver? É-nos sugerido, também é boa a sugestão, mas eu acho que… venham ao cinema! Venham ao cinema e depois analisem por eles próprios, tirem as conclusões que quiserem, boas ou más. Mas não percam a oportunidade de ver o filme para poderem ter uma opinião efetiva. Não vou dizer que a mensagem é A ou B, porque é a minha mensagem, é a minha opinião e cada um vê o filme numa perspetiva. Isso é cinema. Essa discussão é cinema.
João – Então, qual foi a mensagem que tu retiraste para ti próprio enquanto indivíduo?
És esperto [risos]. Para mim, é uma história sobre liberdade, na verdade. E hoje os nossos tempos são completamente complicados. Os extremos estão efetivamente perigosos e o filme nos lembra isso. É conservar a liberdade, para mim é isso, é de esperança de certa maneira. Nós podemos tudo se respeitarmos e conseguirmos viver como sociedade, enquanto sociedade que respeita regras e que se respeita. Eu acho que é um filme sobre liberdade, sobre esperança.

Entrevista a João Vicente
Matilde – Podes apresentar-nos a tua personagem?
Sim, o meu personagem é o Alex, que mais ou menos dirige a comuna ou abrigo que recebe os dissidentes do regime. São clandestinos e ele tenta sempre, de uma maneira pacífica, proteger dissidentes do regime e fazer com que eles escapem de alguma forma e vão para um sítio mais seguro. Então pronto, é muito esta ideia de líder de comuna, digamos, sigilosa.
João – Qual é o aspeto/característica que mais te cativa na tua personagem?
Eu gosto muito da ideia de ter um lugar de algum privilégio que é o sítio onde ele está e que, de alguma forma, gere. E o lado revolucionário que está subjacente como o Aristides de Sousa Mendes quando ajudou os judeus. Gosto desse lado humanitário que ele tem e desse lado revolucionário.

Matilde – Houve algo específico que sentiste a necessidade de fazer para te preparares para a personagem?
Eu não diz nada muito específico, mas este filme é assim um bocado distópico, é um bocado como aquele do universo do Blade Runner, mesmo do próprio Philip K. Dick, que é o autor do Blade Runner e d’O Homem do Castelo Alto. O Homem do Castelo Alto é um bocado isto, é um bocado a mesma premissa: e se os nazis tivessem ganho a Segunda Guerra Mundial? Eu alimentei-me um bocado desses universos, eu gosto de me alimentar de cinema e de ficção. Para além da vida real, é evidente, mas quando há assim coisas que têm referências muito marcadas eu gosto sempre de ir beber esses filmes ou essas obras, digamos, para alimentar o meu imaginário. E gosto muito desse lado do trabalho.
João – Portante foste consumir, por exemplo, Blade Runner, O Homem do Castelo Alto…
Sim, ainda não vi a série, li o livro. E outros livros do K. Dick, gosto muito.
João – Como por exemplo?
Gosto muito do Ubik. Depois a nível de literatura, também o 1984 do Orwell. Gosto muito, também. E há todo aquele universo de ficção científica do Asimov, a Fundação, também assim um bocado apocalíptico, claro que esse é mais num nível galáctico. Mas eu gosto muito destes universos assim distópicos, e gosto de explorar esse lado.
Matilde – Qual foi a cena que mais gostaste de gravar?
Eu gostei muito da cena da batalha. Eu adorei fazer aquilo, adorei trabalhar com o David Chan a dirigir-nos, e gosto muito de toda a preparação para essa cena que o [Bruno] Gascon fez. A nossa ida para lá. Eu adoro a cena de termos filmado isto em Barcelos e de repente aquilo ser assim uma coisa super suburbana, a ideia que eu tenho de Barcelos é assim uma coisa pitoresca, e de repente está lá um sítio que é um armazém que podia ser em Lisboa, num subúrbio qualquer, uma coisa mais industrial. Então adorei fazer essa cena por todo o ambiente, por toda a parafernália técnica que envolveu e também pelo nosso trabalho, que foi uma coisa muito coreográfica. Ninguém se aleijou ali a fazer aquilo e foi super fixe, foi uma adrenalina. Foi a altas horas da noite, gostei muito de fazer essa cena. E como nunca tinha feito uma cena de porrada tão elaborada, foi uma novidade para mim.
João – Quais foram as maiores dificuldades que sentiste no contexto pandémico?
Nós temos uma profissão muito pouco protegida a todos os níveis. E esse foi mais um. O que acontecia muitas vezes nas produções nessa altura, e eu fiz várias nessa altura… estás sempre com um machado em cima da cabeça. Se as pessoas apanhassem COVID na altura podiam perder o trabalho e aconteceu muitas vezes as pessoas “Pá, ‘tá doente? Então não vai poder fazer este filme.”. E isto foi uma coisa mesmo desumana, não me aconteceu, mas aconteceu a muitos colegas. E sentir esse peso enquanto se trabalha numa coisa que vive da liberdade e da criatividade é terrível, e isso foi a pior coisa, pior do que andar de máscara ou de haver os protocolos de tirar a máscara só quando estamos a filmar, pior do que isso é esta sensação. E é uma coisa que atravessa a nossa profissão sempre, com ou sem pandemia. Mas com a pandemia isso ainda ficou mais agudizado e mais exposto, essa fragilidade que é absurda, e não percebo como é que ainda é no século XXI, acho absurdo. Cabe-nos a nós, estando dentro, falar disto e tentar mudar. No meu tempo de vida, acho que isto não vai mudar nada. Eu estou a contar morrer lá para os 70/80, portanto acho que até lá não vai mudar. É triste. Olha, é o que nós gostamos também, temos de fazer aquilo de que gostamos.
Matilde – Qual é a principal mensagem ou mensagens que gostavas que o público retivesse depois do visionamento deste filme?
Que o filme pode ser real. Ou seja, parece uma coisa distante, se lemos o Blade Runner, se lemos o 1984, se lemos O Homem do Castelo Alto, parece uma coisa distante. Mas acho que estamos cada vez mais perto dessa distopia, e espero que as pessoas percebam isso. E espero que ponham a mão na consciência. Infelizmente, o cinema português não leva muita gente às salas, espero que com este filme isso não aconteça. Mas espero que as pessoas vejam e que, se não têm esta noção de que uma realidade destas está iminente, comecem a perceber isso. E que as ameaças que nós temos dos radicalismos de direita e de regimes ditatoriais… espero que sejam banidas de vez da nossa sociedade. Nunca vão ser totalmente, mas que não tenham tanta voz como têm hoje, porque são só o pior do sistema. Dizem que são anti sistema, mas são só O PIOR do sistema. Não são nada anti sistema, não vêm trazer nada de novo.
O filme tem estreia marcada para 19 de outubro nos cinemas NOS.
Artigo escrito por: João Guerreiro e Matilde Morais
Editado por: Bianca Carvalho


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